(A OCDE
confirma evidências sublinhadas por outros economistas)
A OCDE, sem abandonar a sua cruzada liberal,
tem-se destacado nos tempos mais recentes pelo acolhimento que tem
proporcionado ao estudo da desigualdade e da sua evolução nas sociedades mais
avançadas (o chamado universo OCDE). Aliás, juntamente com o Luxemburg
Income Study Center (com sede em Nova Iorque) que acolhe neste momento
Paul Krugman e Branko Milanovic, entre outros, e provavelmente no futuro o International
Inequalities Institute da London School of Economics, com Thomas
Piketty como Centennial Professor, a OCDE dominará a medida dos fenómenos da
desigualdade, incentivando por essa via a produção teórica sobre a matéria dos
fatores explicativos do agravamento de desigualdade que temos vivido.
O recente relatório da OCDE, In It Together – Why Less Inequality Benefits
All (2015) constitui um importante aprofundamento do esforço desta
instituição para alertar os governos das economias-membro para as implicações do
agravamento da desigualdade, tanto mais fundamentados quanto mais se tem evoluído
na medida do fenómeno, seja por via da variável consumo ou da variável
rendimento das famílias. E sobretudo porque temos períodos de observação cada
vez mais robustos.
De todos os elementos fornecidos pelo IN IT TOGETHER, aquele que é mais
marcante é o da demonstração do efeito penalizador que a desigualdade exerce
sobre o crescimento económico:
“Baseada
em dados harmonizados respeitantes ao grupo de países OCDE dos últimos 30 anos,
a análise econométrica sugere que a desigualdade na distribuição do rendimento
tem um efeito penalizador relevante e estatisticamente significativo sobre o
crescimento económico e que promover uma maior igualdade através de políticas
redistributivas não provoca efeitos adversos sobre o crescimento. Mais ainda,
sugere que é a desigualdade na base da distribuição do rendimento que penaliza
o crescimento. Análises adicionais baseadas nos dados PIAAC OCDE sugerem que
uma via crucial para a desigualdade afetar negativamente a performance económica
é a diminuição das oportunidades de investimento (particularmente na educação)
dos segmentos mais pobres da população.” (OCDE. IN IT TOGETHER,
página 79).
Esta conclusão é particularmente relevante e contundente, pois corresponde
ao modelo de dois em um. Ou seja, põe em evidência que a desigualdade penaliza
o crescimento, mas mais do que isso assinala que as políticas redistributivas não
produzem impactos adversos sobre o crescimento, tudo isso acolhido por uma
instituição de matriz liberal, por conseguinte em princípio não suscetível de
ser acusada de parasitária do Estado no universo OCDE.
O gráfico que assinala este post
apresenta duas relações importantes: a de que uma maior desigualdade tende a
comprometer a taxa de escolarização secundária e a de que uma maior
desigualdade tende a reduzir a evolução intergeracional dos indivíduos.
Estamos assim chegados, como economistas proeminentes como Stiglitz o têm
acentuado, à evidência de que não são as lacunas ou insuficiências da análise
económica que podem explicar a surdez dos modos de governação em vigor nos países
OCDE aos perigos e efeitos nocivos da desigualdade. O problema é político e
resulta da maior força social das forças que controlam e promovem em seu próprio
proveito a desigualdade. Numa época em que qualquer bicho-careta canta a
cantilena das reformas estruturais a favor de mais crescimento, é ensurdecedor
o silêncio quanto à reforma estrutural da redução da desigualdade, como
primeiro passo para uma economia mais amigável do crescimento económico.
OCDE dixit.
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