quinta-feira, 25 de junho de 2015

PAULO ARTUR E FRANCISCO JOSÉ



Eles foram os últimos cabeças de lista dos respetivos partidos, o PSD e o PS respetivamente, ao Parlamento Europeu. E por lá estão, nessa tecnocrática e rastejante cidade de Bruxelas, altamente convencidos da altíssima altitude a que esvoaça a sua insubstituível influência.

Para melhor os conhecermos, nada como ler as entrevistas a transbordar de narcisismo que um e o outro concederam no último fim de semana, Paulo Artur Rangel à “Tabu” e Francisco José Assis ao “Expresso”.

Paulo Artur confessa-se num “momento de pós-adolescência” que não sabe se alguma vez irá superar, revela que quem toma conta dele é a mãe, reconhece nunca ter sentido “uma vocação, um chamamento” como o da irmã mais velha que é freira, considera uma das suas lacunas nunca ter duvidado, instintivamente sequer, da existência de Deus e diz que deseja a morte, ainda que só “num certo sentido” – explicando: “Como a minha vida foi razoavelmente feliz, e na vida as pessoas não podem ser eternamente felizes, tenho um certo receio do que aí vem. Se eu morresse hoje, morreria feliz. Depois não sei.” Teses de uma genialidade quase inatingível e que desenvolve mais plenamente na sua última obra, “Jesus e a política: reflexões de um mau samaritano”, uma obra que fez há dias comentar pelos Gama (o pai Jaime, espesso na sua crítica de um “texto redutor”, “porventura demasiado egocêntrico” e com manifesta falta de uma “dimensão antropológica genérica”, e o filho João, em fase de acelerado esforço de lançamento público mas ainda a carecer de muita broa).

Francisco José, por seu lado, leva até aos limites a sua palavrosa exploração do nicho que encontrou para si próprio: ser o homem do “bloco central” no PS, ele que até tem “a convicção absoluta de que há hoje muitos setores e personalidades da direita que não se reconhecem neste modelo de liderança”. Ele que, fruto de já ter sido quase tudo (só ainda ninguém se atravessou a ponto de o levar a um desempenho governativo) a partir de uma eficaz gestão dos ardilosos jogos que fazem as delícias da política partidária – presidente de Câmara, líder distrital, cabeça de várias listas, líder parlamentar, eurodeputado –, aliás com sucesso entre o muito duvidoso e o péssimo (exceto talvez em Amarante), logrou adquirir uma diferenciação/notoriedade feita de quase nada (o seu momento áureo terá sido o de umas bofetadas que há anos levou em Felgueiras) e dá-se assim ao luxo de afirmar, sisuda e despudoradamente, que “não votarei Sampaio da Nóvoa” e de ainda acrescentar que este “representa muitas coisas que sempre contestei na política portuguesa”. Muitas coisas portanto, só não referindo quais ao certo, nem isso interessando! Como foi possível que algum dia tivesse passado pela boa cabeça de Costa apoiar este Assis como candidato à liderança do PS? Ou ter Seguro comprado àquele escandaloso preço a sua comprovada e preguiçosa incompetência europeia, guindando-o ao indecoroso comando da lista europeia do PS? Ou querer-se agora branquear a sua completa falta de solidariedade partidária em nome de uma unidade do PS que ele, na hora H, se recusará sempre a praticar por imposições decorrentes do seu preferencial comprometimento com a doentia individualidade que lhe oblitera aquele sentido das responsabilidades que seria normal e ético que ostentasse?

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