domingo, 7 de junho de 2015

JOSEPHA DE AYALLA



(Notas breves de um short-break por Lisboa)

Uma pequena pausa nas condicionantes do “old-age sitting” e oportunidade para um short-break por Lisboa, não para passar pela convenção do PS, mas sim pelo gozo lúdico e familiar de festejar os dois anos vivaços do Francisco, cujo crescimento nos escapa apesar dos benefícios do Skype e do Facetime e sobretudo festejá-los também com a Margaridinha e com a família mais próxima, o que é simplesmente um acontecimento. Ponto.

E no meio deste short-break por uma Lisboa pujante, pejada de turistas, cada vez mais plataforma giratória do turismo urbano europeu, oportunidade para mergulhar numa exposição de grande qualidade, no Museu de Arte Antiga, focada numa nova interpretação de Josepha de Ayalla, a nossa Josefa de Óbidos, pintora do século XVII, primeiro, integrada na oficina de seu pai, o pintor Baltasar Gomes Figueira e depois assinando ela própria, mulher emancipada, coisa pouco comum para a época.

É, de facto, notável o esforço da investigação expositiva que marca a reabilitação da pintora, mostrando uma vez mais que a personalidade de uma jovem que trabalha na oficina de seu pai, regressado de Sevilha pelas agruras da sua vida financeira se forma em plena interação com influências da época, destruindo a ideia que circulava de Josepha beata e provinciana. Reabilitação que passa essencialmente pela identificação das influências que marcaram a sua evolução, o tenebrismo espanhol, o bodegón tradição espanhola de pintura de naturezas mortas e alimentos, a pintura flamenga e outra pintura do norte da Europa. Espanta sobretudo como é que uma pequena oficina (embora a passagem de Baltasar Figueira por Sevilha tenha sido determinante nessa influência) consegue proporcionar a Josepha um contacto com as grandes influências da sua época. E uma vez mais se confirma a relevância crucial da abertura à influência externa, o alinhar neste caso com as tendências de ponta da época. Sempre uma alegoria do destino e futuro português que muitos se recusam a entender à procura de uma mítica originalidade feita de ignorância das influências externas.

E os jardins do Museu Nacional de Arte Antiga continuam aprazíveis para uma refeição ligeira e uns tempos de contemplação do Tejo portuário, mesmo com o ruído ao longe da ponte a incomodar um pouco.

E os jacarandás da pracinha do 31 da Armada estavam exuberantes convidando a uma fruição irrepetível. Os jacarandás vão desaparecendo para desgosto do António Barreto mas os que resistem valem uma visita nesta época.

E tudo isto permitiu passar ao lado do ruído causado pelo parasitismo que tritura o futebol, apaga fotografias, disfarça a má gestão, branqueia pilim. Dou comigo a citar Jorge Jesus quando há dias dizia que as instituições são maiores do que as pessoas. É verdade. O Benfica de António Lobo Antunes é mais o meu do que o do idiota do João Gabriel e amigos.

Claro que o "short-break" acabou com uma visita intergeracional ao Zoológico de todas as recordações, agora com patrocínios privados para qualquer bicho-careta, mas de qualquer modo cada vez mais visitável e aprazível, apesar da canícula.

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