(Notas
breves de um short-break por Lisboa)
Uma pequena pausa nas condicionantes do “old-age sitting” e oportunidade para um short-break por Lisboa, não para passar pela convenção do PS, mas
sim pelo gozo lúdico e familiar de festejar os dois anos vivaços do Francisco,
cujo crescimento nos escapa apesar dos benefícios do Skype e do Facetime e
sobretudo festejá-los também com a Margaridinha e com a família mais próxima, o
que é simplesmente um acontecimento. Ponto.
E no meio deste short-break por
uma Lisboa pujante, pejada de turistas, cada vez mais plataforma giratória do
turismo urbano europeu, oportunidade para mergulhar numa exposição de grande
qualidade, no Museu de Arte Antiga, focada numa nova interpretação de Josepha
de Ayalla, a nossa Josefa de Óbidos, pintora do século XVII, primeiro,
integrada na oficina de seu pai, o pintor Baltasar Gomes Figueira e depois
assinando ela própria, mulher emancipada, coisa pouco comum para a época.
É, de facto, notável o esforço da investigação expositiva que marca a
reabilitação da pintora, mostrando uma vez mais que a personalidade de uma
jovem que trabalha na oficina de seu pai, regressado de Sevilha pelas agruras
da sua vida financeira se forma em plena interação com influências da época,
destruindo a ideia que circulava de Josepha beata e provinciana. Reabilitação
que passa essencialmente pela identificação das influências que marcaram a sua
evolução, o tenebrismo espanhol, o bodegón
tradição espanhola de pintura de naturezas mortas e alimentos, a pintura
flamenga e outra pintura do norte da Europa. Espanta sobretudo como é que uma
pequena oficina (embora a passagem de Baltasar Figueira por Sevilha tenha sido
determinante nessa influência) consegue proporcionar a Josepha um contacto com
as grandes influências da sua época. E uma vez mais se confirma a relevância
crucial da abertura à influência externa, o alinhar neste caso com as tendências
de ponta da época. Sempre uma alegoria do destino e futuro português que muitos
se recusam a entender à procura de uma mítica originalidade feita de ignorância
das influências externas.
E os jardins do Museu Nacional de Arte Antiga continuam aprazíveis para uma
refeição ligeira e uns tempos de contemplação do Tejo portuário, mesmo com o ruído
ao longe da ponte a incomodar um pouco.
E os jacarandás da pracinha do 31 da Armada estavam exuberantes convidando
a uma fruição irrepetível. Os jacarandás vão desaparecendo para desgosto do António
Barreto mas os que resistem valem uma visita nesta época.
E tudo isto permitiu passar ao lado do ruído causado pelo parasitismo que
tritura o futebol, apaga fotografias, disfarça a má gestão, branqueia pilim. Dou
comigo a citar Jorge Jesus quando há dias dizia que as instituições são maiores
do que as pessoas. É verdade. O Benfica de António Lobo Antunes é mais o meu do
que o do idiota do João Gabriel e amigos.
Claro que o "short-break" acabou com uma visita intergeracional ao Zoológico de todas as recordações, agora com patrocínios privados para qualquer bicho-careta, mas de qualquer modo cada vez mais visitável e aprazível, apesar da canícula.
Claro que o "short-break" acabou com uma visita intergeracional ao Zoológico de todas as recordações, agora com patrocínios privados para qualquer bicho-careta, mas de qualquer modo cada vez mais visitável e aprazível, apesar da canícula.
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