domingo, 30 de setembro de 2018

RIGHT NOW



A política britânica está literalmente ao rubro e, se não me engano muito, estaremos no limiar de qualquer coisa para acontecer. Isto para além de já estarmos a viver história em direto, com a provável saída de um Estado membro da União Europeia, e de já estarmos a ser capazes de antecipar (certamente pelo mínimo) alguns dos inúmeros efeitos que este processo acarretará na Europa e no Reino Unido.

(James Ferguson, http://www.ft.com)

Por estes dias mais próximos, tivemos o Congresso do Labour em Liverpool – onde se tornou claro quanto Jeremy Corbyn é teimoso e idealista ao resistir a um push definitivo em favor de um segundo referendo sobre o Brexit para continuar a jogar o jogo de eleições antecipadas e de uma hipotética vitória nas mesmas que lhe permitiria a sua tão ansiada “reconstrução da Grã-Bretanha” – e estamos a assistir a uma luta fratricida no interior dos Tories, de cuja Conferência em curso ainda não se conhecem ao certo os outcomes. Mais novidades em próximos capítulos desta novela nada recomendável...

(Ben Jennings, http://www.guardian.co.uk)


A ITÁLIA AO ATAQUE


O mês termina com o governo italiano ao ataque contra as regras europeias e defrontado com a crítica de todo o establishment, incluindo o nacional da direita e da esquerda moderadas. O resto, para já, ainda é o habitual nervosismo dos mercados a emergir para sinalização de que algo não vai de agrado. A questão, aqui, nem é tanto a do afrontamento de normativos mais ou menos aleatórios ou injustificados, a questão é o desafio a um “clube” que, periclitantemente, funciona segundo tais normativos e não parece encontrar forma de fazer diferente. Ficar-se-ão eles pela provocação, que fez surgir o nome de mais um figurão local (o ministro da Economia e Finanças, Giovanni Tria), ou insistirão eles em forçar a nota e pôr a nu a fragilidade da contraparte?



(Emilio Giannelli, http://www.corriere.it)

TRÊS ITALIANOS E UM ALEMÃO


Um Sábado em repouso de guerreiro e respirando bons ares, enchido entre o meio e o fim da tarde com um zapping frenético para perder o menos possível de dois grandes momentos de “bola” que se iniciaram apenas desfasados de meia-hora. Um vinha de Itália, onde se defrontavam as duas melhores equipas do Calccio atual: a Juventus de Massimiliano Allegri e a Nápoles de Carlo Ancelotti. O outro vinha de Inglaterra, onde se defrontavam (pela segunda vez num espaço de dias) o Chelsea de Maurizio Sarri e o Liverpool de Jürgen Klopp. Os tais três italianos e um alemão a que me reporto em título.

Dois jogos que só podem ter deixado marcas fortes em quem saiba apreciar devidamente o jogo: o primeiro, disputado taco-a-taco, correspondeu à exibição que Cristiano Ronaldo ainda não tinha conseguido em Turim, fazendo a diferença (esteve nos três golos, embora não concretizando nenhum) e ajudando a disfarçar o gap que me parece existir entre o seu discreto treinador e o agora napolitano Ancelotti, este que desde o arranque do jogo mostrou o dedo pessoal na montagem tática dos seus; o segundo, igualmente disputado taco-a-taco, mostrou a presente qualidade diferenciadora de Eden Hazard e a importância de N’Golo Kanté na explanação do Chelsea mais interessante e coletivo dos últimos anos (mérito de Sarri), assim como as legítimas aspirações ao título que escapa ao clube desde 1990 de um Liverpool muito bem estruturado por Klopp. Neste último caso, com a agravante por demais positiva de dois golos portentosos (Hazard e Sturridge, este do outro mundo). Em notório contraste, uma nota entristecida para a continuada e inexplicável agonia de José Mourinho no United.


(cartoon de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

Três italianos e um alemão, pois, a marcarem o essencial de um fim de semana futebolístico que também teve um Real-Atlético e um Barcelona-Bilbau (equipas dirigidas por dois espanhóis, as da casa, e dois argentinos, as forasteiras), ambos os jogos algo mastigados e terminados com empates. Mas, aqui ao lado, quem está na mó de cima é o Sevilha do jovem treinador-revelação Pablo Machín e tendo o nosso André Silva numa aguçada forma finalizadora.


Já agora, e quanto a Portugal, tudo desinteressante como dantes, apenas com o registo da bátega de Chaves que acabou por se repercutir num empate dos “encarnados” de Lisboa e também de um FC Porto em reconstrução e ainda uma razoável incógnita – a defesa estabilizou com Éder Militão (a dúvida é quanto aguentará Maxi), à frente a inspiração diminuiu (a esperança que agora surge é a de Soares poder exibir-se à altura de render o lesionado Aboubakar) e ao meio tudo parece ainda nebuloso para Sérgio Conceição (que oscila entre Danilo, Herrera e Sérgio Oliveira, tem Óliver Torres na expectativa e o holandês Bazoer para testar, parecendo já definitivamente conquistado, e bem, pela sua aposta central da época, Otávio, o nº 10 possível – porque positivamente criativo e mais ofensivo do que os colegas mas porque negativamente débil em termos de cultura tática – na atual conjuntura financeira do clube). E é o que para já se me oferece...

O ANÍBAL ESTÁ INCOMODADO

(Humor A. Seco)


(Por curiosa convergência das circunstâncias, a alergia de Cavaco ao glúten Marcelo cruza-se algures com o já evidente vazio da direita mais desregulacionista determinado pela incapacidade de sublimar a ausência de Passos Coelho. Que sensação de vazio deve ser aquela que constata que Passos não tem sucessor.)

Até aqui tratava-se de duas frustrações que caminhavam separadamente.

Por um lado, o Professor Cavaco mergulhava na sensação da incompreensão pelos putativos serviços prestados à Pátria. Ele que se teve sempre em boa conta, inatacável e sem dúvidas, aquela questão das ações do BPN armazenou-as em lugar recôndito da memória cache inacessível, via-se injustiçado pelo esmagamento de popularidade que o Presidente Marcelo transmitia, fazendo respirar de alívio uma imensa mole transversal cansada de tanta rigidez e presunção. Ao princípio, refugiado no esquecimento mediático, mas depois, com tanta frustração, o Professor quis beliscar a medo o novo Professor, o das selfies. Imagino a desilusão de quem se viu com um certo lugar na história e de repente se julga esquecido, sem pavor, na memória dos Portugueses. Penso que esta frustração deve ser bem mais pesada do que abrir os jornais e as televisões e assistir à continuidade da vida, em regime não assistido, da geringonça.

Por outro lado, a direita mais desregulacionista (tenho pejo de lhe chamar direita liberal, pois acho que não está na linha da ideia de liberalismo que por exemplo os 175 anos do THE ECONOMIST comemoram, cujo manifesto merece leitura profunda) começou a penar com a saída de Passos e com os desatinos para a sua substituição. Lendo os venenos que brotam do Observador, afinal a manifestação mais consistente dessa direita, rapidamente se chega à conclusão que por ali não passa ideologia, mas tão só ressentimento, ressabiamento, ajustes de contas, maneiras de mal-estar com a vida e com o País, más consciências por períodos passados da sua vida política. Durante algum tempo, toda essa gente esperou que emergisse uma alternativa ao vazio de Passos, Montenegro, Hugo Soares ou qualquer outra personalidade que singrasse nessa orientação. Mas tudo se desmoronou. Eram personalidades coladas com material que não é de confiança, frágeis, mais interessados nas suas vidinhas do que propriamente numa rota ideológica consistente. A emergência de Rui Rio conseguiu, pela negativa e por rejeição visceral, cultural, de corte e de tribo, adiar o problema do vazio de Passos. Atirando ao boneco das incongruências e desprendimento político de Rio, a direita em questão alimentou-se de algum tempo de energia para aguentar o vazio. Mas o próprio Rio é alvo que não compensa, pois usa a tática sibilina de não dar troco é o pior que pode fazer-se a quem pretende encontrar na controvérsia energia para combater as suas próprias frustrações.

Como referi, estas duas frustrações foram evoluíndo separadamente. O caso Joana Marques Vidal permitiu alguma aproximação. O Professor Aníbal resolveu beliscar de novo o Professor Marcelo, fazendo-o indiretamente e sem frontalidade, clamando que se tratava da decisão mais estranha da geringonça. Passos, o próprio Passos, veio à liça, recusando condecoração e alinhando pela defesa da Procuradora. A direita desregulacionista bateu palmas e finalmente parece ter admitido que só Passos e não mais ninguém do que Passos pode salvar a honra do convento. Pedro Marques Lopes no Diário de Notícias de domingo defende e a meu ver com intuição essa tese.

Não deixa de ser um paradoxo. O verdadeiro liberalismo tem consistência, estrutura e regra geral pensamento que honra esse legado. Ora, se Passos é o salvador dessa herança, o paradoxo estará em que uma das mais frágeis personalidades da nossa história política recente, sem pensamento à altura dessa tradição, perfila-se como a única alternativa. Cavaco não terá talvez pensado nesta convergência, mas foi nela apanhado para digerir a sua frustração pós-experiência.

sábado, 29 de setembro de 2018

OTELO NO PORTO


Como uma peça com mais de quatro séculos de idade pode manter tamanha atualidade quanto a temáticas amorosas, sobretudo ciúme e traição e alguns dos mistérios que fazem a psicologia masculina, é algo que desde logo fascina no texto de Shakespeare (“Otelo, o Mouro de Veneza”, 1603). Depois, e no caso vertente da estreia da peça no nosso Teatro Nacional de S. João (com a presença, muito excecional ao que me dizem, de um primeiro-ministro), a encenação, a cenografia e os figurinos de Nuno Carinhas são de grande qualidade e os dez intérpretes evoluem excelentemente (parabéns especiais a António Durães no papel de Otelo, um general mouro que serve o reino de Veneza, mas também aos desempenhos dos atores que representam a sua esposa Desdémona, o seu tenente Cássio e o seu suboficial Iago). Cito do programa: “Ele conquista a nossa simpatia de um modo mais imediato do que qualquer outro herói de William Shakespeare, mas alguém notou que existe um inferno (‘hell’) em Othello. Mas só existe Otelo – o nobre e destemido guerreiro, o ‘estranho forasteiro / de aqui e toda a parte’ – porque existe Iago, o profeta do ressentimento e da desordem, e porque existe a bela Desdémona, palavra shakespeariana que significa ‘amor’. A peça começa e termina numa escuridão que é perfurada pela luz e avança, imparável, por entre as sombras de Veneza e Chipre, geografias da ordem e do caos, mergulhadas ou rodeadas de água, elemento que conduz, transporta, reflete, espelha, distorce. Na obra em cena de Nuno Carinhas, Otelo surge depois de Macbeth (2017), formando um díptico shakespeariano onde o encenador coloca em perspetiva duas radicais e exuberantes visões do mal. ‘Só se vê a maldade em pleno uso.’” Um espetáculo imperdível!

ALVES BARBOSA



(O JN traz-me a notícia da morte do antigo ciclista Alves Barbosa no Hospital da Figueira da Foz, aos 86 anos. Nos tempos em que o ciclismo polarizava a sociedade portuguesa, lembra-me o arrebatamento que o confronto Alves Barbosa – Ribeiro da Silva provocava. A emergência de Joaquim Agostinho acabaria por acabar com essa polarização.)

A sociedade portuguesa em tempos do antigo regime, para além da luta oculta e perseguida contra o regime ditatorial, alimentava-se de algumas polarizações que estão sociologicamente por estudar de modo aprofundado. Estou a referir-me, por exemplo, a polarizações do tipo Simone de Oliveira versus Madalena Iglésias. Hoje a esta distância essas polarizações parecem-nos espúrias e incompreensíveis, mas existiam. Tenho para mim que nasceu aí a sociologia da música pimba em Portugal. O reducionismo dessa polarização foi, estou certo, profundamente injusto para Madalena e Simone capitalizou à esquerda entre outras coisas ter cantado Ary dos Santos.

Recordo-me que antes de Joaquim Agostinho emergir e acabar com toda a polarização possível, esmagando com o seu apoio popular (vi-o estranhamente ter a queda, em Quarteira, Algarve, que lhe provocou a morte), o ciclismo português estava polarizado entre os apoios a Ribeiro da Silva e a Alves Barbosa. O primeiro era claramente um homem mais rural, nativo de Lordelo e sempre com o Académico do Porto como seu único clube, com uma força espantosa, uma espécie de antecipação do prodigioso navarro Miguel Indurain, que subia montanhas como se viajasse em motorizada e tinha uma capacidade de resistência à dor e ao sacrifício espantosa. Alves Barbosa, um bairradino, era um ciclista de raiz urbana, com uma rapidez espantosa, especialmente em ponta final de corrida e em contra-relógio e sofria como um mouro em montanha. Não é normal um corredor com as características de Barbosa ganhar Voltas, mas a verdade é que ganhou a Volta a Portugal por três vezes, anos 50, era eu um menino, enquanto Ribeiro da Silva a ganhou por duas vezes, também nos anos 50. Recordo-me perfeitamente de discussões apaixonadas na família acerca das qualidades e virtudes dos dois corredores, interrogo-me hoje se essas discussões não tinham algo de metafórico.

Barbosa era o meu ídolo. Cheguei a vê-lo no final de uma ou duas etapas que se me varreram na memória e em pista.

TÁXIS CONTRA PLATAFORMAS

(a partir de https://sic.sapo.pt)

O caso táxis versus plataformas eletrónicas (vulgo Uber, para os menos atentos à existência de outras plataformas em operação), intermediado pelo Ministério do Ambiente, parece ter terminado em relativa acalmia e da única maneira possível. Dificilmente podia ter sido de modo diferente, sobretudo dada a forma canhestra como as associações dos taxistas e os partidos que as apoiaram se foram posicionando nesta “luta”, dadas as pífias e parolas “manifestações de força” que foram exibindo nas avenidas das nossas grandes cidades e dados os alçapões que foram sendo conhecidos relativamente aos interesses de alguns dos principais responsáveis daquelas.

No todo, uma história mal contada (veja-se a esclarecedora síntese das regalias comparadas de uns e dos outros na infografia acima) e nunca engolida pelos cidadãos mais informados, concluída com o rabo entre as pernas num desesperado aproveitamento de uma promessa mal-amanhada do Grupo Parlamentar do PS e com uma derrota objetiva para as exibições de arrebanhamento de corporativismos balofos. Pela positiva, fica a esperança de uma aprendizagem com o processo por parte dos que dele quiserem saber retirar as devidas lições – ainda ontem, apanhei um táxi a brilhar de limpo, com um motorista simpático e um kit eletrónico a pedir meças ao dos concorrentes.

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

O NORTE EM VERSÃO MENOS


O Eurostat publicou recentemente as últimas estatísticas do mercado de trabalho a nível regional. Ao dar uma olhadela pelas ditas, constatei um facto curioso que, não constituindo propriamente uma grande novidade, merecerá uma menção e alguma atenção. A saber: a Região do Norte de Portugal é aquela que relativamente pior se posiciona nos quatro indicadores mais típicos na matéria (emprego, desemprego, desemprego jovem e desemprego de longa duração). Este registo, que está longe de poder ser considerado suspeito vindo de alguém como eu (antes e depois das funções que ocupo), vale uma missa a inúmeros títulos. Um dos mais relevantes é o que tem a ver com a notória diferenciação inter-regional existente no País, algo que alguns insistem em não querer ver ao pretenderem invariavelmente continuar a tratar igual o que é diferente. Não dá que pensar, à luz de tudo quanto se sabe sobre a estrutura económica e a dinâmica das nossas regiões (ainda há dias ouvimos o ministro Vieira da Silva afirmar que “a Região Norte lidera a recuperação económica de Portugal”, sublinhando o seu ritmo de criação de emprego no pós-crise)?

Os mapas acima permitem visualizar o todo europeu e a distribuição dos problemas pelas suas várias subáreas regionais, surgindo bem evidente o modo como Portugal se afasta um tanto dos mais gravosos dados que caraterizam em geral a situação meridional (Grécia, Itália e Espanha, diferenciadamente embora consoante os indicadores). Os quadros abaixo mostram os últimos valores dos quatro referidos indicadores nas cinco regiões portuguesas NUTS 2 (com o Norte a apresentar a mais baixa taxa de emprego de todas, a mais alta taxa de desemprego total e jovem de todas e a mais elevada taxa de desemprego de longa duração de todas). Mais abaixo, a talhe de foice e por mera curiosidade, uma infografia com a composição da força de trabalho da União Europeia no seu conjunto de 28 países e mais de 380 milhões de almas dos 15 aos 74 anos (repare-se, com o devido júbilo, que já se começa a apontar para uma classificação de idoso apenas acima dos 75!).


A PALHAÇADA DO INFARMED



(Tenho para mim que a descentralização concretizada por benesses políticas mais ou menos táticas sem o suporte de programas coerentemente reivindicados de baixo para cima dão normalmente para o torto. Este parece ser o caso da farsa, não sei em quantos atos mais, do INFARMED, que permitiu a Rui Moreira alguma flores de estilo, nada mais do que isso.)

Há dias, quando procurava dar alguma coerência a montes de papéis na minha secretária e adjacências, dei com umas páginas de um Diário de Notícias antigo em que este vosso amigo era entrevistado e que o jornalista tinha puxado para título a afirmação “O Norte é um mito”. Já há algum tempo que destilo veneno sobre esta ideia de que um Norte coeso e político existe. O Norte é por agora um instrumento de valorização de protagonismos, fortemente atomizados, cada qual o mais engenhoso possível, para financiar um projeto ou uma ambição, por pequena que ela seja. Tal pretensa coerência é sistematicamente trocada por ligações diretas ao Poder central ou aos aparelhos partidários que por aí trabalham. Quer isto dizer que não nos temos em devida conta. E, nos tempos que correm, ter-se em devida conta é rejeitar qualquer tentativa de acantonamento do tipo “entretenham-se com os vossos problemas e ambições locais, que nós cá pela capital trataremos do problema nacional e da nossa inserção no mundo”. Acantonamento, como diria o outro, só por cima do meu cadáver e chega de peditórios para uma unidade que não existe.

A farsa do INFARMED, que tem de tudo desde maridos enganados, gente ingénua e interesses adquiridos, releva desta questão. Imagino que, algures num ministério, um assessor de imprensa perdido no vazio de números para apresentar e sem massa crítica de realizações inventou com anuência política uma deslocalização. A partir daí iniciou-se uma via-sacra conhecida que acabará pour cause numa Comissão de Descentralização provavelmente composta por gente da mais reputada possível e com proximidade à corte. Até cair no mais completo esquecimento. Nada mais do que isso, além de algumas reações mais de estilo do que contundentes e Rui Moreira a capitalizar a indiferença indigente da praça.

Diz o povo que quando a esmola é grande até o pobre desconfia e gente mais lúcida e desapaixonada cedo percebeu que a ideia não era para levar a sério. A indiferença já é sintomática de alguma coisa. O estado das coisas tende para a apatia. Uma reprogramação ardilosa de fundos cria alguma agitação, mas subterraneamente há sempre gente a manobrar na relação direta. E assim se vai regredindo na consciência regional.

A OCDE acaba de publicar (2018 com dados de 2016) a mais recente informação estatística sobre despesa e receita pública realizada por níveis subnacionais de governação, como se sabe em Portugal essencialmente limitada à esfera local. A inércia do que é verdadeiramente estrutural emerge com clareza dessa informação: para uma despesa pública que é de 45% do PIB nacional, que é um dos pesos mais elevados do universo OCDE, só 12,6% é realizada pelo nível subnacional. É verdade que o nível subnacional responde por 52% do investimento público, mas em percentagem do PIB não representa mais do que 0,8%.

Tudo o mais é treta, conversa da treta.