segunda-feira, 3 de setembro de 2018

PORTUGAL VAI BEM, MAS RECOMENDA-SE?


A revista francesa “Alternatives Économiques” tem já um longo percurso de credibilidade editorial e está bem longe de poder ser considerada suspeita de direitismo ou austeritarismo. O seu mais recente número decidiu consagrar algumas páginas ao apregoado fenómeno da economia e sociedade portuguesas em reversão e recuperação; só que o sentido das mesmas não corresponde bem ao que seria mais expectável...

Veja-se, desde logo, o título do artigo: “Pourquoi le Portugal ne va pas si bien qu’on le dit”. Os oito gráficos de apoio revelam bem essa mesma ideia (por mim organizados em dois blocos, abaixo). No primeiro bloco: tendência de perda populacional, designadamente no tocante a jovens qualificados, não invertida; nível de recuperação do emprego não especialmente diferenciado em relação ao vizinho espanhol; baixa do desemprego razoavelmente tributária da perda de 5% da população ocorrida desde 2008; salários reais sem grandes mostras de evolução positiva. No segundo: ritmo diminuto de recuperação da procura interna, ainda não chegada aos níveis pré-crise; despesa pública ainda muito elevada; taxa de endividamento permanecendo excessiva e sem perspetivas de regressar a níveis suportáveis sem uma anulação parcial da dívida; apenas ligeiro refluxo das desigualdades, que tinham conhecido uma evolução negativa durante a crise.

O texto propriamente dito começa por afirmar que “nestes últimos meses, vimos multiplicarem-se os artigos de imprensa louvando os sucessos económicos deste governo [de esquerda]”, mas acrescenta que “a honestidade obriga também a dizer que a recuperação de Portugal não teve nada de extraordinário até agora: a situação económica e social do país permanece muito difícil a muitos títulos.” E conclui desta forma: “Resumamos: sim, Portugal porta-se melhor. Mas não há (infelizmente) por onde ver nisso uma nova Meca da política de esquerda...”. Eis um excelente tema para uma adequada, objetiva e devida ponderação.


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