(Há quem diga que certos políticos são como os melões. Só
se percebe o seu verdadeiro potencial em plena decisão. Em meu entender, Rui Rio é um político previsível,
sobretudo porque não se lhe conhecem as influências formatadoras do seu
pensamento. Depois de algum estado de graça sobretudo por ter tido a ousadia de
enfrentar toda a vasta corte de passistas é tempo dos finalmente.)
Conheço Rui
Rio dos tempos da Faculdade de Economia, eu como professor e ele como estudante
e dirigente associativo. Recordo-me de algumas das suas posições mais desembestadas
inspiradas por um certo anticomunismo primário, mas não lhe atribuo grande
importância, e entendo-as como uma espécie de doença infantil de quem pretende
progredir na política pela direita. O meu conhecimento mais maturado vem da observação
exterior do seu consulado na Câmara Municipal do Porto, em que fiz parte do
grupo que ficou surpreendido não pela sua vitória, mas antes pela dimensão da mesma,
largamente influenciada pelos últimos anos pouco diligentes do poder de Fernando
Gomes. A observação exterior a que me refiro só foi interrompida por dois
momentos de contacto direto, um de natureza pública em conferência organizada pela
CMP em que fiz uma intervenção com Rio presente e um outro uma entrevista bastante
simpática e informal a propósito do estudo para a Associação Comercial do Porto
sobre a desajeitada proposta do PS de eleições diretas para as presidências das
Áreas Metropolitanas.
Mas
considero que o seu exercício de poder na CMP foi tão cristalino que a referida
observação exterior e sem “inside
information”é suficiente para o tornar um líder previsível. Há quem depreciativamente
classifique Rio como um contabilista, que é um chiste inspirado sobretudo pela sua
aversão a uma cultura menos popular. É conhecida a aversão visceral não
escondida que Rio mantinha em relação a toda a corte formada em torno do Porto Capital
Europeia da Cultura. No meu comportamento muito desalinhado eu também considero
que nessa corte há demasiadas primas donas que não acrescentam nada a uma
cultura desassossegada e não acomodada. Mas a aversão de Rio era tão patológica
(creio que uma questão de auto-inferioridade) que nunca foi capaz de distinguir
entre o trigo e joio. Aliás, estranha e paradoxalmente, a cultura da Cidade foi
buscar energias e respostas a uma criatividade profunda e anti-poder, pelo que,
ao contrário do que o próprio Rio pretenderia, a sua posição acabou por fazer a
diferença entre os acomodados e os verdadeiramente empreendedores da cultura. Não
comungo nessa depreciação de personalidade. Há momentos e situações em que os
contabilistas são bem-vindos. Admito que na altura a CMP estivesse a precisar
de alguns apertos e dimensionamento.
Cruzando os
tempos de liderança da CMP e os agora atribulados tempos de candidatura e de liderança
efetiva do PSD, o que eu penso que caracteriza verdadeiramente Rio como político
é a pretensão de alinhar por um novo tipo de populismo. Rio, um líder populista?
Parece paradoxal, não é? Mas não me parece que seja.
Rio pauta a
sua atuação pelo que considera ser o entendimento correto da forma de pensar do
eleitor não-alinhado e anti-elites económicas e políticas. A sua precipitada e
atabalhoada reação à chamada taxa ROBLES é disso um paradigma. Em vez de analisar
tecnicamente a taxa (o que estava ao seu alcance embora não seja um especialista
em fiscalidade), Rio preferiu pronunciar-se porque o seu eleitor modelo acha
que um político estadista não deve rejeitar uma ideia porque ela é de esquerda
ou de direita e assumiu-o em público. Simplesmente apenas com o erro de não ter
medido tecnicamente a medida. Aqui está, a sua preocupação de cavalgar o seu eleitor
de referência. Podemos dizer que esse é o mesmo tom em relação à sua posição
relativamente à justiça portuguesa que o levou inclusivamente a não ser o tom
do seu partido em relação à Procuradora Joana Marques Vidal. O seu eleitor de
referência acha que a justiça é preguiçosa, lenta e por isso não hesita em seguir
nessa onda. De certa maneira, a sua ofensiva contra a cultura que ele considerava
elitista alojada no Porto Capital Europeia da Cultura ia pelo mesmo diapasão. Não
é fácil descortinar mais exemplos, já que Rio não é pródigo em pensamentos
vertidos para o vulgar dos mortais.
Do meu ponto
de vista, concedi-lhe um período de estado de graça essencialmente por dois
motivos. Primeiro, porque ousou enfrentar toda aquela corte de liberais de
pacotilha da ala passista e chamar as coisas pelos nomes. Suficiente para lhe
dar algum tempo de expectativa. Segundo, porque Rio considera e bem que não
pode andar a reboque de jornalistas necessitados de fazer pela sua vidinha em
termos de manchetes apelativas. Preocupação de elevada sanidade politica em
Portugal, sobretudo se não alinhar pela promiscuidade de relacionamento com
algum jornalismo da praça. A maergem de manobra não era grande. O primeiro motivo
esgotou-se de forma relativamente rápida. O segundo tem vastos escolhos e
exigem um arcaboiço dos diabos.
Terminada a
margem de manobra, emerge o verdadeiro Rio. Singraria se o tal eleitor de referência
para o seu “populismo” à la Rui Rio se manifestasse nas sondagens. Mas pelo que
se vai conhecendo não há sinais disso. Teimoso como é, Rio ainda acreditará que
não se manifestam em sondagens mas que o farão em eleições. O problema é que
podem fazer-lhe a cama e nem sequer possibilitar-lhe esse último teste.
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