quinta-feira, 6 de setembro de 2018

ALI PARA AS BANDAS DA SEGUNDA CIRCULAR



A vida está preta para os clubes da Segunda Circular! Na Luz, e depois de um ano maldito em torno do ainda largamente por esclarecer caso dos emails que culminou com o chamado Penta Ciao, o ano desportivo até arrancou bem mas o resto tem sido um rol sucessivo de desgraças (da doença de Vieira à questão das claques e correspondente sanção de um jogo a realizar à porta fechada e, também, aos termos nada confortáveis com que Augusto Baganha pôs “a boca no trobone” após ser demitido do IPDJ). A coisa atingiu agora um inesperado máximo em girândola com a recente acusação do Ministério Público à própria SAD (261 crimes!) e a alegada existência de provas de um envolvimento claro de Vieira nos meandros ilícitos por que se meteu a “toupeira”. No seu editorial de hoje no “Público” (“O mundo paralelo do futebol começa a ruir”), Manuel Carvalho põe os dedos todos nas verdadeiras feridas ao afirmar, designadamente: “Depois de se conhecerem os factos que sustentam a acusação do Ministério Público, é obrigatório retirar a questão do campo minado da paixão clubística e situá-la num lugar bem mais importante para a vida coletiva: no plano do Estado de direito” e “Sobra assim a insuportável sensação de que à custa dessa paixão se foi urdindo uma máquina de poder perversa que age nos subterrâneos (por uma vez, o nome do processo, E-toupeira, faz sentido) para satisfazer os seus fins” e, ainda, “Mas a acusação à SAD do Benfica pode também ser o prenúncio de que essa caminho está condenado”.

Entretanto, em Alvalade, os factos têm sido arrasadores e dignos de uma trama policial bem urdida desde a invasão da Academia em maio passado e das perdas do segundo lugar no campeonato, da final da Taça aos pés do Aves e das rescisões unilaterais de vários dos melhores jogadores. Após semanas e meses de sofrimento perante as exibições de mau gosto de Bruno e seus apaniguados e o mau jeito de Marta Soares no lidar do assunto, os amantes do verde-e-branco acabaram por encontrar alguma acalmia diretiva e desportiva pela mão – pasme-se! – de Sousa Cintra e José Peseiro, respetivamente. Embora haja muito quem tenha as suas dúvidas sobre a proveniência dos dinheiros que permitiram a atual aparência de normalização (o “CM” fala hoje num buraco de 122 milhões e o resgate do empréstimo obrigacionista continua a aguardar melhores dias), o certo é que tudo está agora voltado para as eleições internas do próximo fim de semana. Os candidatos legitimados foram sete – Bruno ficou à porta, como se sabe – e um deles já desistiu a favor de outro (Madeira Rodrigues para Ricciardi) num movimento judiciosamente classificado de “junção do croquete” pelo cartunista Henri. Pessoalmente, definiria o complexo cenário em presença do seguinte modo: se um neto meu em sério risco de se tornar “lagarto” – a minha capacidade de influência ou de poder efetivo no domínio das escolhas clubistas diminuiu a olhos vistos nesta terceira geração, mas ainda não deitei a toalha ao chão – me viesse interrogar sobre quem deveria apoiar no próximo Sábado, não apenas hesitaria sinceramente como provavelmente acabaria por lhe sugerir que se deixasse de preocupar com isso. Com efeito, os favoritos são dois jovens bem intencionados mas notoriamente inexperientes (quer em gestão propriamente dita quer em gestão de futebol, que não no campo médico ou na guarda de uma baliza de futsal), Ricciardi é o que se sabe (e o que se não sabe mas se adivinha com um bom grau de aproximação) e corresponde ao pior da chamada “elite” (cada vez mais detestada pelos jovens sportinguistas, como bem posso testemunhar), Dias Ferreira podia ser mas fez tudo errado e deixou-se colocar numa desprestigiante faixa de menos de 10% (irá acabar por apoiar alguém e ser o homem do desempate decisivo?) e os outros não têm expressão minimamente significativa. Nada aponta, em suma, para um Sporting saudável e vencedor nos tempos mais próximos.

(cartoon de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

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