sexta-feira, 7 de setembro de 2018

A EROSÃO DO PODER

(Voz de Galicia)
(El Roto - El País)


(Na política espanhola paira uma espécie de “segue dentro de momentos” que podemos interpretar como o resultado normal do ajustamento do sistema a duas importantes alterações políticas, correlacionadas entre si, a ascensão do PSOE e de Sánchez ao poder e a substituição de Rajoy no PP, com a vitória de Pablo Casado nas primárias internas. Depois da surpresa provocada pelo Executivo apresentado, os curtos meses de exercício do poder pelo PSOE parecem trazer consigo alguma erosão e gabo a paciência de Sánchez na gestão da questão catalã)

Com a sua hábil gestão política que o levou ao poder sem realização de eleições, mais a surpresa conseguida com a composição do Executivo que apresentou e com a significativa redução da crispação alcançada em torno da questão catalã, Sánchez parece ter sustido o declínio eleitoral em que o PSOE estava mergulhado. Suster o declínio e regressar de novo ao estatuto de formação política mais votada, seguindo a informação das mais recentes sondagens, pode ser considerado algo de relevante em tão poucos meses de governação. Mas os ganhos alcançados não são propriamente sustentados, tendo em conta que o instável equilíbrio político que mantém o governo (com o PODEMOS e partidos regionalistas) não permite assegurar resultados positivos numa possível consulta eleitoral.

Porém, observando os meses de governação até agora concretizados, é impressionante a erosão que o tempo político tem provocado na imagem inicial que o governo de Sánchez suscitou na opinião pública espanhola, interpretada pelo que vai atravessando a sua comunicação social mais representativa. Como seria expectável, o jogo de forças no Parlamento tem sido intenso e desgastante, com os apoiantes do governo do PSOE a fazer tudo para “podemizar” a governação em torno dos temas caros ao PODEMOS e as forças regionalistas a procurar obter dividendos da solução política encontrada antes do tira-teimas eleitoral. No meio de alguns sobressaltos provocados por ministros mais inexperientes ou com problemas pendentes (ou muito me engano ou de futuro vai ser necessário inventar uma máquina com um poderoso efeito de scan e escrutínio da vidinha dos ministros para não haver surpresas), a verdade é que o governo de Sánchez tem a aprovação do orçamento para 2019 comprometida.

Mas em meu entender e por mais paradoxal que possa parecer, o tema que mais tem desgastado Sánchez e os seus ministros é precisamente aquele em que a sua intervenção teve resultados mais palpáveis no plano político. Sánchez com paciência de santo e algumas ingenuidades conseguiu reduzir significativamente a crispação que a questão catalã estava a provocar quer na Catalunha quer na restante Espanha. Mas a verdade é que apesar desse esforço a relação com Torras e a Generalitat tem sido de escaramuça constante. É que do lado de lá está alguém que não quer efetivamente colaborar e trabalhar para uma solução airosa e garantindo um futuro qualquer, por mais interrogados que sejam os seus contornos. O tempo de crispação atenuou-se mas pelo menos uma das partes não revela grande vontade para facilitar a vida à governação. Aproxima-se o sempre estimulante dia da Diada e pelo menos admite-se que uma certa neutralidade de ocupação do espaço público tenha sido alcançada nos contactos entre Sánchez e Torras. À distância e do alto da sua melena Puigdemont continua a manobrar os cordelinhos de todo este imbróglio. O tempo é de grande indeterminação pois nem a via da justiça está concretizada nem nesse contexto a abordagem mais política de Sánchez pode inverter o rumo dos acontecimentos. Já há gente a pedir a aplicação de novo do 155º. E a pior sensação é de que nem uma nova ida às urnas a nível nacional e regional pode muito provavelmente clarificar a situação.

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