terça-feira, 25 de setembro de 2018

AS CONTAS PÚBLICAS DE RASPÃO


Houve aí uma temporada em que Teodora Cardoso e o seu Conselho das Finanças Públicas (CFP) pareceram conhecer algum desnorte. Parece que, felizmente, passou e que tudo volta à normalidade, entre projeções tecnicamente consistentes e alertas construtivos e úteis. Foi assim na semana transata, com a atualização dos cenários macroeconómico e orçamental até 2022 por via da incorporação dos novos dados constantes do Programa de Estabilidade.

Comparando as projeções do CFP com as do Ministério das Finanças (MF), verifica-se que aquela instituição é mais otimista em relação ao saldo orçamental do ano corrente, estimando depois que o excedente não será alcançado em 2020, conforme previsão do MF (0,7% do PIB), e evoluções ulteriores menos positivas. O que está em causa é o impacto nas contas públicas de um conjunto de medidas governamentais em curso, com especial destaque para o alargamento do descongelamento gradual de carreiras dos funcionários públicos, as novas regras de reforma antecipada sem penalizações para carreiras contributivas longas e as incertezas relativas ao cumprimento da regra de contratação de funcionários públicos a partir de 2020.

Ou seja: segundo o CFP, “o impacto orçamental das medidas expansionistas do lado da despesa indicado no OE/2018 e no PE/2018 poderá estar subestimado” e, mesmo em 2021 e 2022, “o excedente orçamental será́ menor, refletindo sobretudo a revisão do impacto das medidas na despesa com pessoal, decorrente do efeito do descongelamento das carreiras dos funcionários públicos e o efeito do aumento do número de efetivos em 2018 e 2019 [leia-se, da integração dos precários], bem como a despesa associada a ‘outros efeitos remuneratórios’.”

Não há bela sem senão, pois (mesmo que talvez pudessem existir belas com senãos mais lógicos e menos desfocados, digo eu). Sublinhe-se, aliás, que Teodora Cardoso foi subliminarmente cristalina na sua entrevista ao “Jornal de Negócios” e “Antena 1” ao afirmar, sem grandes cerimónias, que o “Governo está a consolidar às escondidas”. Noblesse oblige ou... o que tem de ser, tem muita força!

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