quinta-feira, 13 de setembro de 2018

COM FRANCISCO ASSIS

(Justificar o injustificável)


(Nem sempre de acordo com algumas ideias do deputado europeu do PS, neste caso é daquelas situações em que não posso deixar de expressar apoio à sua desassombrada crítica à posição dos deputados do PCP sobre a votação contra o autoritarismo de Victor Orbán seria lamentável. À sombra de uma coerência neste caso inexplicável, o PCP transforma-se num monumento ao monolitismo potenciador dos nacionalismos mais bafientos.)

Em bom rigor, comecei a aperceber-me da deriva autocrática e nacionalista da Hungria de Orbán através de algumas crónicas de Paul Krugman no New York Times, nas quais Krugman dava voz a um seu estudante de doutoramento que ia descrevendo as atrocidades constitucionais que o governo de Orbán ia paulatinamente construindo. Os sinais que essas crónicas iam vertendo agudizaram-se à medida que a imprensa europeia foi dedicando mais atenção à questão húngara, sobretudo a partir do momento em que as ONG financiadas pelo multimilionário Soros começaram a ser perseguidas até à sua expulsão do país. As instituições europeias, particularmente a Comissão e a força política do PPE, foram engolindo em seco a indesejável companhia de Orbán, de que as pantominas de Juncker em relação ao líder húngaro representavam uma triste e lamentável manifestação de impotência. Para prejuízo da unidade europeia, as posições de Orbán foram ganhando peso no grupo do Visogrado e até o protofascismo da Liga em Itália se aproximou das teses do líder húngaro, rapidamente transformado em “compagnon de route” em tudo que metesse rejeição da solidariedade para com os migrantes internacionais.

Por isso, a votação de ontem no Parlamento Europeu, que abre caminho a uma lenta e sinuosa invocação do artigo 7º do Tratado para gerar uma sanção política à Hungria, valendo o que vale, é mais importante do que pode parecer à primeira vista. É de facto a primeira vez que o regime húngaro está na mira das instituições europeias e por isso os 2/3 obtidos no Parlamento representam um marco possível nesta matéria.

Sabemos que o PCP tem uma obsessão antieuropeia doentia e retrógrada como o salienta Francisco Assis na crónica de hoje no Público. Está o PCP no seu direito de expressar a sua posição de rejeição face ao que o partido considera “ofensivo dos direitos dos trabalhadores”. Mas se para o reafirmar alinha objetivamente com o nacionalismo mais bafiento, com a mais perigosa ofensiva contra as instituições democráticas e de valorização do poder pessoal autocrático o PCP coloca-se do outro lado da história, ao nível do ridículo das suas posições favoráveis a Maduro na Venezuela e ao líder norte-coreano. Espanta ver gente jovem e competente de um PCP retomado mergulhar no monolitismo obsessivo de lideranças do partido com idade mais pesada.

Por isso, a crítica demolidora de Francisco Assis a esta coerência monolítica merece ser saudada e aqui estou a fazê-lo sem qualquer preconceito de alinhamento, apesar da geringonça.

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