(Justificar o injustificável)
(Nem sempre de acordo com algumas ideias do deputado europeu do PS, neste
caso é daquelas situações em que não posso deixar de expressar apoio à sua desassombrada
crítica à posição dos deputados do PCP sobre a votação contra o autoritarismo
de Victor Orbán seria lamentável. À sombra de uma coerência neste caso inexplicável, o PCP transforma-se num
monumento ao monolitismo potenciador dos nacionalismos mais bafientos.)
Em bom
rigor, comecei a aperceber-me da deriva autocrática e nacionalista da Hungria
de Orbán através de algumas crónicas de Paul Krugman no New York Times, nas
quais Krugman dava voz a um seu estudante de doutoramento que ia descrevendo as
atrocidades constitucionais que o governo de Orbán ia paulatinamente
construindo. Os sinais que essas crónicas iam vertendo agudizaram-se à medida
que a imprensa europeia foi dedicando mais atenção à questão húngara, sobretudo
a partir do momento em que as ONG financiadas pelo multimilionário Soros
começaram a ser perseguidas até à sua expulsão do país. As instituições
europeias, particularmente a Comissão e a força política do PPE, foram
engolindo em seco a indesejável companhia de Orbán, de que as pantominas de
Juncker em relação ao líder húngaro representavam uma triste e lamentável
manifestação de impotência. Para prejuízo da unidade europeia, as posições de
Orbán foram ganhando peso no grupo do Visogrado e até o protofascismo da Liga
em Itália se aproximou das teses do líder húngaro, rapidamente transformado em
“compagnon de route” em tudo que
metesse rejeição da solidariedade para com os migrantes internacionais.
Por isso, a
votação de ontem no Parlamento Europeu, que abre caminho a uma lenta e sinuosa
invocação do artigo 7º do Tratado para gerar uma sanção política à Hungria,
valendo o que vale, é mais importante do que pode parecer à primeira vista. É
de facto a primeira vez que o regime húngaro está na mira das instituições
europeias e por isso os 2/3 obtidos no Parlamento representam um marco possível
nesta matéria.
Sabemos que
o PCP tem uma obsessão antieuropeia doentia e retrógrada como o salienta
Francisco Assis na crónica de hoje no Público. Está o PCP no seu direito de expressar a sua posição de
rejeição face ao que o partido considera “ofensivo dos direitos dos
trabalhadores”. Mas se para o reafirmar alinha objetivamente com o nacionalismo
mais bafiento, com a mais perigosa ofensiva contra as instituições democráticas
e de valorização do poder pessoal autocrático o PCP coloca-se do outro lado da
história, ao nível do ridículo das suas posições favoráveis a Maduro na
Venezuela e ao líder norte-coreano. Espanta ver gente jovem e competente de um
PCP retomado mergulhar no monolitismo obsessivo de lideranças do partido com
idade mais pesada.
Por isso, a
crítica demolidora de Francisco Assis a esta coerência monolítica merece ser
saudada e aqui estou a fazê-lo sem qualquer preconceito de alinhamento, apesar
da geringonça.
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