domingo, 2 de setembro de 2018

CHEMNITZ



(Os acontecimentos de Chemnitz, na Saxónia, Alemanha de Leste, mostram que os tempos não estão para debates ou lutas acessórios, sendo Merkel hoje alguém a defender a todo o custo. Não será por acaso que a cidade alemã montra das manifestações da extrema-direita da AFD, hoje combinada com movimentos anti-islão, acontecem na ainda e sempre não integrada Alemanha de Leste.)

A forma aberta e descabelada como a extrema-direita neonazi alemã se manifesta pelas ruas de Chemnitz contra a entrada de emigrantes e os pedidos de asilo internacional por refugiados coloca bem evidência a gravidade do problema político alemão e os riscos de contaminação com outros movimentos seja em Itália, seja nos países de leste do Visogrado. É nestes momentos que é necessário clarificar bem as alianças necessárias, apesar das divergências. E neste momento o equilíbrio europeu passa pela defesa da posição política de Ângela Merkel, apesar de sabermos que isso projeta outras ideias para a construção europeia que não são as nossas. Haverá tempo para esse outro debate, mas por agora o fundamental consiste em barrar o caminho a este tipo de explosão de ideias e comportamentos.

Os acontecimentos de Chemnitz, bem perto de Dresden, na Saxónia alemã mostram ainda como foi prematura e precipitada a posição ocidental de que o desmembramento do centralismo soviético eram favas contadas em termos de sustentação da economia de mercado e das liberdades que tínhamos para oferecer. A integração da Alemanha de Leste no modo de funcionamento e de vida alemão nunca foi integralmente conseguida apesar dos balúrdios de dinheiro alemão e comunitário injetado em tais paragens. Esse sentimento de não integração quando combinado com efeitos de perda económica determinados pela crise da globalização e pela ameaça da emigração é explosivo. Não é também por acaso que as populações eleitoras dos países do Visogrado estão hoje particularmente recetivas a discursos populistas e potencialmente totalitários.

Admitir que décadas e décadas de funcionamento sob regimes autoritários e repressivos não teriam consequências e que a adaptação aos mecanismos de mercado e da liberdade política e da tolerância seria espontânea constitui uma significativa ingenuidade histórica. Claro que essa integração seria sempre preferível a uma situação de isolamento. O problema não esteve nessa decisão. A grande questão esteve na falsa ideia da adaptação fácil, de que todos estavam prontos e em condições para perceber e receber as “maravilhas” que lhe eram oferecidas.

Cada vez mais se torna crucial a reflexão de Popper de que a pretexto dos nossos valores da tolerância seria trágico deixar de combater a intolerância dos outros.

Nunca como agora as próximas eleições europeias serão importantes. Nelas estarão em jogo muito mais do que a hipótese de uma frutuosa experiência profissional em Estrasburgo e Bruxelas.

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