(Os acontecimentos de Chemnitz, na Saxónia, Alemanha de
Leste, mostram que os tempos não estão para debates ou lutas acessórios, sendo
Merkel hoje alguém a defender a todo o custo. Não será por acaso que a cidade alemã montra das
manifestações da extrema-direita da AFD, hoje combinada com movimentos anti-islão,
acontecem na ainda e sempre não integrada Alemanha de Leste.)
A forma
aberta e descabelada como a extrema-direita neonazi alemã se manifesta pelas
ruas de Chemnitz contra a entrada de emigrantes e os pedidos de asilo
internacional por refugiados coloca bem evidência a gravidade do problema político
alemão e os riscos de contaminação com outros movimentos seja em Itália, seja
nos países de leste do Visogrado. É nestes momentos que é necessário clarificar
bem as alianças necessárias, apesar das divergências. E neste momento o equilíbrio
europeu passa pela defesa da posição política de Ângela Merkel, apesar de
sabermos que isso projeta outras ideias para a construção europeia que não são
as nossas. Haverá tempo para esse outro debate, mas por agora o fundamental
consiste em barrar o caminho a este tipo de explosão de ideias e comportamentos.
Os acontecimentos
de Chemnitz, bem perto de Dresden, na Saxónia alemã mostram ainda como foi
prematura e precipitada a posição ocidental de que o desmembramento do centralismo
soviético eram favas contadas em termos de sustentação da economia de mercado e
das liberdades que tínhamos para oferecer. A integração da Alemanha de Leste no
modo de funcionamento e de vida alemão nunca foi integralmente conseguida
apesar dos balúrdios de dinheiro alemão e comunitário injetado em tais paragens.
Esse sentimento de não integração quando combinado com efeitos de perda económica
determinados pela crise da globalização e pela ameaça da emigração é explosivo.
Não é também por acaso que as populações eleitoras dos países do Visogrado estão
hoje particularmente recetivas a discursos populistas e potencialmente totalitários.
Admitir que
décadas e décadas de funcionamento sob regimes autoritários e repressivos não
teriam consequências e que a adaptação aos mecanismos de mercado e da liberdade
política e da tolerância seria espontânea constitui uma significativa
ingenuidade histórica. Claro que essa integração seria sempre preferível a uma
situação de isolamento. O problema não esteve nessa decisão. A grande questão
esteve na falsa ideia da adaptação fácil, de que todos estavam prontos e em
condições para perceber e receber as “maravilhas” que lhe eram oferecidas.
Cada vez
mais se torna crucial a reflexão de Popper de que a pretexto dos nossos valores
da tolerância seria trágico deixar de combater a intolerância dos outros.
Nunca como
agora as próximas eleições europeias serão importantes. Nelas estarão em jogo
muito mais do que a hipótese de uma frutuosa experiência profissional em
Estrasburgo e Bruxelas.
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