domingo, 8 de dezembro de 2024

PELA ARAGEM ...

 

(Não tenho ainda uma avaliação muito rigorosa do que a liderança de Pedro Nuno Santos tem representado nos últimos tempos. As sondagens não são de molde a gerar um profundo desapontamento, mas há qualquer coisa no ar que me tolhe a intuição política e me sugira alguma preocupação. A comunicação tonitroante quando assenta apenas na forma e menos no conteúdo corre sempre riscos, como me parece ser o caso de PNS. No quadro daquele registo global, é sempre difícil distinguir o há de mais importante a comunicar e isso acaba por baralhar os eleitores. Agarro-me por isso a evidências parcelares para continuar a fazer o meu juízo. O PS está a indicar aparentemente sem nenhum critério quais serão os seus candidatos às eleições autárquicas. Vou concentrar-me para já em Lisboa, no Porto e em Braga.)

Pelo que vou ouvindo e lendo, teremos muito provavelmente Mariana Vieira da Silva para Lisboa, Manuel Pizarro para o Porto e António Braga para Braga.

Será que escutei bem?

Não tenho rigorosamente nada contra as três personalidades e até tenho uma excelente ideia sobre a capacidade de trabalho de Mariana Vieira da Silva.

Mas dou comigo a pensar que raio de motivação global pretende o PS criar no eleitorado das três importantes cidades com esta escolha.

Receio que isto não vá correr nada bem.

E por agora é tudo.
 

sábado, 7 de dezembro de 2024

MÁRIO SOARES, 100 ANOS

Mário Soares, que muitos (entre os quais eu próprio) consideram o português mais marcante do século XX, nasceu neste dia 7 de dezembro há exatamente 100 anos! Das mais variadas maneiras, o País celebra a sua memória, fazendo jus ao seu inestimável contributo para a nossa Liberdade e Democracia, sem esquecer a visão com que nos definiu um horizonte europeu e de aspiracional progresso. Os nossos dois mais importantes jornais, um diário e outro semanal, marcaram a data com as duas belas capas que acima se reproduzem, uma sublinhando o passado e o legado e outra apontando-o como um obreiro do futuro.

 

Na Quinta-Feira, no Porto, aconteceu a inauguração de um parque urbano com o nome de Mário Soares (onde estará igualmente um busto ampliado a partir de um original de Lagoa Henriques) e de uma exposição em Serralves (“O Sal da Democracia”) onde ficam patentes as ligações umbilicais de Mário Soares à Cultura e aos seus maiores expoentes nacionais. Ontem, na Assembleia da República, aconteceu uma sessão solene de homenagem em que os deputados dos vários grupos políticos (cada um ao seu mais ou menos feliz modo, com exceção do “Chega” que fez, por André Ventura, um discurso ideologicamente marcado pelo pré-25 de abril e profundamente atentatório da verdade histórica – um verdadeiro escarro!) se pronunciaram a propósito da importância de Mário Soares para Portugal. Hoje, acontecerá na Fundação Gulbenkian uma sessão evocativa do centenário de nascimento de Mário Soares, com a participação de personalidades nacionais e estrangeiras, e o programa de comemorações terminará com um jantar na FIL do Parque das Nações.


(cartoons de João Abel Manta, Rocha, Vasco de Castro, André Carrilho, Henrique Monteiro e Júlio Pomar)



Já aqui me pronunciei noutras oportunidades sobre o que penso do papel patriótico de Mário Soares e o que entendo dever-lhe enquanto cidadão português, pelo que não me repetirei. Quero, todavia, sublinhar algo adicional e que me é particularmente grato: o facto de ser um dos não muitos portugueses que estiveram ao lado de Mário Soares nas suas três candidaturas presidenciais (a primeira especialmente saborosa pela forma como foi feita a remontada que o levou à segunda volta e a uma vitória tangencial sobre Freitas do Amaral e a última polémica e derrotada, como é sabido, com o candidato em manifesta evidência de uma grande tristeza pelo abandono a que foi votado por amigos que tinha por irredutivelmente leais para o que desse e viesse) e o facto de me ter tornado conviva e amigo de Mário Soares nos seus últimos quinze anos de vida. Desses momentos, e da lucidez pessoal e política que o caraterizavam guardarei para sempre algumas das melhores recordações da minha vida.

Concluo: importa lembrar Mário Soares e a sua insuperável passagem pelo meio do coletivo que somos. As grandes referências têm de ser mantidas vivas!

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

A PETULÂNCIA À VARANDA DE VARANDAS

 

O homem tem o que merece e ponto final! Após ter vivido algum tempo à sombra de Ruben Amorim e Hugo Viana – tendo tido, embora, o não despiciendo mérito de os contratar –, Frederico Varandas não sabe outra coisa que não seja apresentar-se como o melhor da rua dele enquanto também se ocupa a denegrir os adversários e suas conquistas. A terceira derrota consecutiva do Sporting de João Pereira – um treinador inexperiente e insuficientemente qualificado que lançou em substituição de Amorim como tendo “um conhecimento anormal do jogo” e sendo alguém que “daqui a 4 ou 5 anos estará num dos mais poderosos da Europa” (e eu, guicho!, aqui estou a trazer-vos numa bandeja, acrescenta o autor destas linhas) – deixou o país futebolístico em completo estado de espanto e, mais do que isso, os analistas e comentadores num estado de exaltada frustração só comparável ao que marca os desaires que por vezes também ocorrem do outro lado da Segunda Circular.

 

Então não era imbatível o Sporting Clube de Gyökeres? Então onde para o génio de Varandas que explicava a felicidade imensa que invadia os “lagartos” e lhes prometia recordes nunca pensados? Então o revelado e fantástico substituto de Amorim claudica brutalmente em três breves semanas de comando? A questão há de resolver-se e eu até posso vir a engolir este post, mas a realidade é que o segredo do Sporting invicto residia na qualidade e decência de Ruben Amorim e não na esperteza saloia e insolente de Frederico Varandas, ou seja, numa gestão inteligente e capaz de um coletivo cirurgicamente lidado em que Gyökeres ia sobressaindo pela sua força e empenho, embora também graças à relativa incompetência com que os treinadores nacionais o abordavam e mandavam marcar. Aqui chegado o Sporting, confrontado com um “erro de casting” e uma “crise oficial”, resta agora aguardar pela reação do seu extraordinário responsável máximo para que a normalidade vencedora se reinstale como compete aos melhores eleitos de Deus – só que Deus às vezes também castiga!!!


(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

(Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

(excerto de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

A ENGENHARIA DOS PONTAPÉS DE CANTO

 

(Não, não se trata de nenhuma metáfora de trazer por casa para aplicar à política nacional. Desviar para canto é uma prática muito nossa e, às vezes, o desconcerto das situações é tão grande e visível que só apetece “desviar para canto”. Não, hoje, é mesmo de futebol que me apetece falar, principalmente depois de ontem ao fim da tarde ter demorado duas horas e um quarto a chegar de Matosinhos a casa. Um verdadeiro inferno determinado sobretudo pela nossa costumeira incompetência em resolver acidentes de envergadura na autoestrada e neste caso tratou-se, estimo eu, de um choque entre camiões de grande dimensão. O engarrafamento estendeu-se a toda a Avenida da Boavista e daí o inferno para chegar a casa. Nessas condições, furioso com toda esta incompetência e ausência de meios de intervenção rápida, questão que os senhores Presidentes da Câmara do Porto e de Vila Nova de Gaia deveriam preocupar-se e não apenas nas suas carreiras pessoais de gente política em fim de mandato, só o futebol me acalma, por mais estranho e paradoxal que isso possa parecer a muita gente próxima. Além do mais, havia ao princípio da noite um Arsenal-Manchester United que eu encarei como a melhor prova dos nove para avaliar os tais milagres de Rubén Amorim no prestigiado clube britânico. A comunicação social portuguesa perde-se sempre de amores por treinadores que tenham um discurso comunicacional coerente. E não há dúvida de que Rubén o tem e estimo que essa capacidade se estende à comunicação com os seus atletas. Mas o Arsenal é, atualmente, a equipa que pratica melhor futebol na Liga inglesa, mesmo mais consistente do que o próprio Liverpool e muito à frente de um City de Guardiola que parece esgotado nas suas ideias. Assim, além de abafar as mágoas de um trânsito impróprio para pessoas decentes, havia esse pormenor de testar a tal capacidade milagreira de Amorim. E não me arrependi.)

A primeira avaliação é que o novo United de Amorim levou um amasso dos antigos, não propriamente refletido no resultado de 2-0, insuficiente para demonstrar a superioridade de jogo do Arsenal. Se é verdade que o United conseguiu em alguns momentos ter a bola no campo do adversário, sustendo a cavalgada das transições ofensivas arsenalistas, esse domínio de bola visava apenas ocultar a vulnerabilidade da equipa, em que algumas peças do plantel irão levar tempo que baste a serem letais na sua influência, conforme Amorim encontrou no Sporting alguns parceiros para executar a sua partitura de intenções.

Mas o pormenor de jogo que mais me interessou é a nova engenharia de marcação de pontapés de canto que o Arsenal de Arteta está a praticar, demonstrando com muita clareza como essa engenharia de pormenor é vital para este nível de competição. A coreografia dos cantos do Arsenal é bonita de se ver, com os seus principais aríetes a concentrarem-se numa zona da grande área para depois evoluírem aparentemente em modo aleatório, que creio ser pelo contrário muito bem treinado. Para as equipas que defendem é uma dança macabra, completada pela excelência de um lançador de cantos que os coloca com precisão milimétrica (no caso deste jogo foi flagrante a diferença entre a qualidade de Daclen Rice e dos outros nesse lançamento) no sítio certo. Qualquer estratégia de defesa corre o risco de ser desmembrada pela criatividade desta engenharia.

Qual a razão de sublinhar esta dimensão? Esta engenharia dos cantos do Arsenal é conhecida há já algum tempo e basta visualizar os últimos jogos da equipa para compreender a sua relevância na capacidade concretizadora da equipa.

Ora, Rubén Amorim é conhecido por ser um perfecionista do treino e da preparação. Certamente não teve o tempo necessário para poder contrariar tal engenharia e preparar um antídoto. Porque o que assistimos era dramático. A cada novo pontapé de canto, a insegurança da defesa do United era perfeitamente visível, isto apesar do seu jovem goleador Rasmus Højlund bloquear de forma ostensiva um dos defesas do Arsenal, neste caso o notável Saliba, entendido como o personagem mais letal no aproveitamento daquela estranha dança, duvidando mesmo da legalidade de tais bloqueios.

 Estou em crer quer Amorim não dormirá sossegado nos próximos tempos aterrorizado com aquela dança macabra. Longe de mim a intenção de precipitar o seu insucesso, mas os processos de afirmação pessoal precisam de vez em quando de banhos de realidade e a engenharia de Arteta foi um banho de realidade terrível, não tão letal como poderia ter sido porque o amasso poderia ter sido muito maior.
 

BARNIEREXIT

Sessenta e dois anos depois da queda de George Pompidou, eis que voltou a ocorrer uma queda de governo da Vª República Francesa na Assembleia Nacional. Por uma margem razoavelmente confortável (43 votos acima dos 288 requeridos), conseguida à custa de uma adesão da extrema-direita à moção de censura do bloco unido de esquerda, Michel Barnier caiu com algum estrondo a um dia de completar três meses no poder.


(Patrick Chappatte, https://www.lemonde.fr)

 

Teremos certamente de convir que a missão que aceitou desempenhar a convite de Emmanuel Macron era de natureza quase impossível, tornando ainda mais patente a crescente ingovernabilidade da França – ademais após a estranha dissolução da Assembleia pelo Presidente da República em junho passado – e o caráter envenenado do presente que aceitou receber. Ou seja, e por um lado, Barnier foi vítima da sua vaidade em fim de carreira, tendo-se deixado autoconvencer quanto aos seus dotes de convencimento em relação a Marine Le Pen; mas, e por outro lado, Barnier também procurou ser útil a um país em estado de coma financeiro ao apresentar com firmeza um orçamento austeritário para atacar um défice público brutal (o serviço da dívida ascende a mais de 600 mil milhões de euros, um legado que só pode ser assacado a Macron e seus anteriores ministros responsáveis).

 

Cumpridas hoje as obrigatórias formalidades de demissão, Barnier sairá de cena e a palavra passará de novo para um Macron que já não sabe para onde se voltar perante uma situação catastrófica e uma imagem altamente degradada aos olhos da maioria dos seus concidadãos. Bem faria ele em criar condições para uma alternativa de regime – o destino da Vª República parece traçado, apenas não se sabe quando lhe será dado o golpe final... – mas, não sendo esse o caso mais provável, tudo se vai reduzir a uma de três escolhas primoministeriáveis (por ordem decrescente de probabilidade): um tecnocrata com imagem clara de direita (por forma a ser aceite por Le Pen, embora sempre sujeito a ter o cutelo em cima), uma figura do “Rassemblement National” (entregando à extrema-direita a direção político-económica dos próximos anos e esperando que um falhanço o alcandore a um lugar de reabilitação democrática) ou uma personalidade de esquerda (de preferência moderada e capaz de lograr montar um governo sem a “France Insoumise” de Mélenchon). Veremos mais logo o que vai dizer aos franceses o presidente – um homem que confrontou o regime estabelecido, ajudou a destruir os partidos convencionais e acabou por falhar em toda a linha no momento de levar a cabo as suas ideias revolucionárias e o seu projeto alegadamente reformista.


(Ulises Culebro, https://www.elmundo.es)

VÃO-SE OS ANÉIS, FICAM OS DEDOS?

Já vão longe os tempos em que se discutia em Portugal a questão dos centros de decisão nacional. E muitos foram os analistas e comentadores económicos, os personagens políticos e os académicos que sobre o tema se debruçaram, ora com intuitos preferencialmente descritivos das tendências que se iam observando ora com objetivos mais interventivos de denúncia das mesmas e de procura de as contrariar. Recordo bem alguns textos especialmente focados naqueles registos, como alguns assinados por Ernâni Lopes, Francisco Sarsfield Cabral, Henrique Medina Carreira, João Ferreira do Amaral, João Salgueiro ou Vítor Bento, já para não referir tomadas de posição no mesmo sentido assumidas por vários liberais de limitada ortodoxia de princípios que sobressaem na nossa praça.

 

A verdade é que os tempos foram mudando, com a globalização a ganhar asas, o neoliberalismo a espalhar a sua verdade, a nossa estrutura económica e empresarial a perder fatores de sustentação e a classe política a correr atrás da financeirização de curto prazo. Um contexto agravado pelas crises violentas que se fizeram sentir e foram conduzindo a decisões altamente contestáveis de venda de ativos nacionais, designadamente alguns estratégicos, a acionistas estrangeiros, designadamente alguns oriundos ou representantes de países não muito recomendáveis. O certo é que a situação atingiu um estado lamentável, pese embora o facto de a maioria da nossa opinião pública especializada parecer capaz de viver bem com o mesmo e de a larga maioria dos cidadãos nacionais se mostrar bem mais aturdida com a dureza do seu quotidiano do que aberta a avaliar as inaceitáveis perplexidades que emanam do domínio político-económico.

 

Vem toda esta conversa a propósito de uma peça de investigação jornalística que encontrei na “Sábado”, com assinatura de Ana Taborda e Bruno Faria Lopes, dirigida a evidenciar “o desaparecimento (quase) total dos centros de decisão nacional” (“O Poder Estrangeiro que Dominou Portugal”). Um apanhado notável e que nos ajuda a avivar a memória sobre a quantidade e diversidade de operações polémicas ou indevidas que por cá ocorreram nas últimas duas décadas – remeto os leitores para as duas infografias abaixo reproduzidas com a devida vénia, numa subdivisão entre a área financeira (sobretudo banca e seguros) – onde já só resta com significância a Caixa Geral de Depósitos (longa vida a Paulo Macedo!) – e as áreas não financeiras (energia, infraestruturas, saúde, telecomunicações e indústria) – onde as tropelias foram mais do que muitas, com particular destaque para a EDP e a REN, a PT, a CIMPOR ou a ANA.

 

É óbvio não caber neste espaço um desenvolvimento dedicado a cada um destes casos, frequentemente rocambolescos, nem um qualquer arremedo de debate, necessariamente abreviado, sobre a essência da dita questão dos centros de decisão nacional. Fica apenas o tal avivar de memória que a “Sábado” nos trouxe e o implícito protesto que ele me suscita, na convicção de que outros caminhos teriam sido possíveis (mesmo não desconhecendo as determinantes provenientes das vicissitudes das conjunturas ou do respeito de obrigações internacionais) e de quão revoltante é constatarmos o prevalecimento de realidades aproveitadas em detrimento do coletivo e/ou percecionarmos a dimensão da destruição de valor nacional que alegremente nos tem dominado.



quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

GIMM, UMA NOVA INSTITUIÇÃO CIENTÍFICA DE REFERÊNCIA

Um exemplo raro em Portugal, nas empresas ou nas universidades e institutos de investigação, é hoje apresentado publicamente: o GIMM (Instituto Gulbenkian de Medicina Molecular), resultado da fusão de dois institutos de investigação de referência – o Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM) e o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) – consagra, na sua própria expressão, uma união estratégica combinando os pontos fortes, as competências e os recursos de ambos os institutos, reforçando as suas capacidades de investigação e promovendo sinergias para enfrentar desafios científicos complexos. Escala, portanto. Uma raridade só possível quando se afasta a salvaguarda a todo o custo dos quintais estabelecidos para privilegiar caminhos mais potenciadores, uma situação que só foi tornada possível pela visão da nova presidente Maria Manuel Mota (ex-iMM) e da administração da Fundação Gulbenkian (em mais um contributo determinante desta entidade para o progresso de Portugal), assim como pela abertura da Universidade de Lisboa e sua Faculdade de Medicina. Parabéns e votos de sucesso, sempre na expectativa de que bons exemplos como este consigam reproduzir-se noutras paragens mais a Norte e mais propensas aos malefícios do minifúndio.