O meu colega do lado já assinalou e bem o desaparecimento de uma personalidade ímpar da cultura portuguesa, sempre ligado ao Porto e ao então liceu D. Manuel II, hoje Rodrigues de Freitas, o poeta e ensaísta Fernando Oliveira Guimarães. Também eu tive a sorte de o ter como professor, neste caso de História. As aulas do Oliveira Guimarães eram o que eu poderia designar como o verdadeiro manual de História que nos apoiava a preparação. Sempre a divagar pelo espaço físico da aula, o discurso expositivo do OGUI era tão estruturado e organizado que, ouvindo-o com atenção, era como que se estivéssemos a ler online esse manual do qual não precisávamos, pois tinha-mo ali ao alcance da nossa atenção. O que significa que, como Professor e tantos gigantes do ensino tive a oportunidade de conhecer naquele Liceu, aquelas aulas eram suficientes para percebermos a sua capacidade interpretativa dos acontecimentos desde a Idade Média até à história mais contemporânea. Mas, naquela idade, não tínhamos estofo nem cobertura de informação para compreender que tínhamos ali à nossa frente um intelectual de mão cheia, um dos mais inventivos autores da poesia portuguesa, mas também um ensaísta de grande profundidade. Só bastante mais tarde quando por razões editoriais e de amizade me aproximei da Afrontamento, em cujas instalações mantive durante alguns anos, em sala alugada, uma tertúlia, a associação RESULTANTE, em que privei com gente como o Professor Nuno Grande, o Engº Rui Oliveira, o Arquiteto Nuno Guedes de Oliveira, o Engº Manuel Miranda, me apercebi da obra do outro Fernando Oliveira Guimarães, o poeta e ensaísta. E lembro-me de ter então refletido sobre essa questão, que se prende com o facto de, por vezes, só conhecermos a real dimensão dos Professores que tivemos algum tempo depois, quando adquirimos envergadura e consistência intelectual para situar toda a sua obra, além do inestimável contributo pedagógico que nos proporcionaram. Uma vida digna, serena, sem nunca precisar de se pôr em bicos de pés para se afirmar.