(Sim, lá estou em luta com as minhas contradições. Eu que não gosto de efemérides, estou aqui a comentar uma, que me é muito cara, os 80 anos de Maria João Pires. Lá muito atrás no tempo, afinal são tantos anos de carreira como os meus anos de idade, 75, graças ao meu saudoso companheiro de trabalho nas questões do urbanismo, Arquiteto Nuno Guedes de Oliveira, tomei contacto com a obra de Maria João Pires, ainda ela gravava para a ERATO, ou seja, muito antes do reconhecimento pela Deutsche Grammophon. e ter começado a tocar com os grandes maestros deste mundo, com relevo para Claudio Abbado. A minha iniciação na música clássica sem ter formação de base para a engrandecer deve-se muito a esse contacto com a pianista portuguesa, sobretudo para aquele misto de sensibilidade e fragilidade que sempre me cativou, com ênfase especial na música de Chopin e de Schubert. Já não me recordo quando a vi pela primeira vez ao vivo na Gulbenkian e na Casa da Música, já depois daquele período em que pareceu estar zangada com o país e das expectativas não cumpridas do projeto de Belgais. A zanga com o país perturbou-me um pouco, mas os discos estavam ali e tudo podia ser perdoado graças aquelas gravações no tempo. Mais recentemente o seu encontro com Martha Argerich numa prestação memorável em dezembro de 2021 em Genebra, que privilégio para a sala que as acolheu, colocou as coisas no seu rumo certo, numa espécie de combinação única entre os meus dois amores pianísticos, a conjunção perfeita dos astros. Aos 80 anos, Maria João Pires parece ter por fim conseguido tornar menos violenta a sucessão infernal de concertos por todo o mundo, tem esse direito, assim como Argherich deixou de tocar a solo. A Gulbenkian anuncia para abril de 2025 mais uma sequência de concertos da artista, mas de um ápice esgotaram-se e os modestos mortais do Porto e do Norte nunca conseguem competir com a azáfama da ida às bilheteiras digitais e às assinaturas. )
Por estas razões o post de hoje só tem introdução. O desenvolvimento está nos inúmeros discos que povoam as minhas estantes e do qual retirarei um com os Noturnos de Chopin para festejar os 80 anos da nossa frágil e sensível Maria João.
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