(Gillian Anderson)
(Tal como já oportunamente o referi, a modorra estival está em marcha, reforçada por dias de algum sufoco de temperatura e humidade, com aquele tipo de noites em que o corpo não descansa, já que a temperatura não desce como habitualmente. Como diria o António Variações, o corpo é que paga e a cabeça também. A partir daqui, tendo Seixas, Moledo e Caminha como refúgio, com escapadelas gastronómicas à vizinha Galiza, vai iniciar-se a luta do costume com as manhãs e por vezes dias de nevoeiro, com a sempre presente nortada, ainda que preparado para abençoar as tréguas registadas nesses elementos e entrar em êxtase com aqueles dias em que, por vezes, raras vezes, os elementos se conjugam para fazer de uma praia do Norte a mais amena das praias algarvias. Tudo isto exige mudança de leituras e preocupações, em modo compatível com a tal modorra que me acompanha irreversivelmente nas férias, de alguém que prefere a esplanada à praia, sem enjeitar esta última para matar saudades dos tempos em que se almoçava e jantava na praia (Matosinhos) à custa de fartos farnéis preparados pelas Mães. Já nesse modo de preparação, encontrei um artigo na elitista e mui urbana New Yorker, ninguém é perfeito e seguramente não o sou. O artigo versa sobre uma das minhas atrizes de estimação, Gillian Anderson, e trata de um apetitoso assunto – “Gillian Anderson’s Sex Education”, assinado pela talentosa Rebecca Mead. Aí vamos nós, com a ajuda de uma sugestiva fotografia da artista assinada por Maisie Cousins.)
Entre a fotografia que abre este post e a Gillian Anderson que recordamos com saudade da Danna Sculy dos Ficheiros Secretos vai uma longa transformação, como que se estivéssemos perante duas mulheres totalmente diferentes. Rezam as crónicas que havia apostas para saber se ao longo da rodagem de todas as temporadas dos X-Files alguma vez Gillian teria sorrido ou soltado uma risada que fosse. O que estava aí em causa, porém, era o talento da atriz para manter rigorosamente o estatuto de uma Scully ultra-racional. O diretor do 1º episódio da nova série da Netflex que Gillian está a gravar, The Abandons, um western, Otto Bathurst referiu à jornalista da New Yorker que a atriz tem a capacidade rara de assegurar um prazer continuado à contemplação do seu rosto e desempenho, algo que é considerado essencial para uma série de longo percurso, ou seja que se mantém no ar durante um longo tempo. Há quem perceba da matéria e creio que será isso que explica o fascínio que aquele rosto me suscita.
Desde o desaparecimento dos X-Files, que sempre se revisitam com prazer, talvez The Fall seja a série que mais empolgou a atenção dos seus admiradores, na qual Gillian protagoniza uma detetive, Stella Gibson, a abraços com um “serial killer”, três temporadas que culminam com um enfrentamento de uns longos doze minutos entre Gibson e o “serial killer” que arrebatou todo o pacato cidadão que visualizou a série. Mas o drama-comédia também da Netflix Sex Education, em que Gillian Anderson assina o papel de uma surpreendente terapeuta sexual é talvez aquele que melhor nos transporta para o estatuto de franqueza e abertura sexual que a atriz neste momento representa. O artigo de Rebecca Read é precioso nessa matéria e explica, em parte, a publicação pela atriz de uma obra sobre fantasias sexuais, não tão tórridas como se poderia pensar.
A participação na The Crown, em que Anderson se atreve a compor uma notável personagem de Margaret Thatcher, numa série dirigida por Peter Morgan, seu atual companheiro para os tempos livres, completa o quadro diversificado de personagens, adensando a perceção do seu talento. Esta americana de nascimento (Chicago), mas londrina dos vários costados, representa assim um dos personagens mais fascinantes do mundo do cinema e da televisão.
Embora sempre disponível para rever os bons velhos tempos dos X- Files só me apetece dizer que venha o western.
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