quarta-feira, 10 de julho de 2024

BLOWING IN THE WIND

 


(Não, não se trata de um propósito revivalista de recuperar a canção de Dylan de 1962, publicada em álbum de 1963, que é daquelas canções que nos mexe com o corpo e com a alma sempre que a revisitamos. O título releva de um tweet do economista Erik Brynjolfsson (@erikbryn) que está regularmente presente nas minhas digressões sobre as questões da inovação. O post de Brynjolfsson foca-se na transição energética da economia americana, a qual como sabemos está longe de estar perfeitamente direcionada e por aí também passa a vitória ou derrota de Trump nas eleições de novembro. Sabemos como uma vitória de Trump, que está descaradamente ligado aos interesses da economia fóssil, não hesitando em solicitar-lhe apoio massivo para a sua eleição a troco da colocação de novo na agenda económica as questões da preservação das energias fósseis, toda a transição energética e de mitigação climática pode ser totalmente invertida, antecipando a ópera bufa em que a política americana pode transformar-se.  O tweet de Brynjolfsson é relevante porque sintetiza uma daquelas evoluções que pode marcar a inversão de caminho e é sobretudo relevante olhar para o gráfico e verificar a difícil situação donde se parte para consumar a transição para um novo paradigma energético. A multiplicação de indicadores deste tipo é crucial para a generalidade dos agentes criar uma perceção real e bem dimensionada do que a transição energética significa.)

A energia eólica faz parte do universo das energias renováveis que vai fazendo o seu caminho, a par dos exemplos também conhecidos da energia solar, hídrica e tendo também presente que, no domínio das próprias eólicas, há que distinguir as terrestres e as marinhas, com quotas diversas de país para país em função das características naturais e de conhecimento disponível. Sabemos que as eólicas suscitam problemas muito particulares de procura de soluções que permitam compatibilizar a irregularidade dos ventos e da consequente produção de energia com a alimentação das redes nacionais, que exigem obviamente estabilidade de alimentação. Tomei em tempos conhecimento que existe investigação nacional de muito boa qualidade, designadamente na FEUP e INESCTEC, na produção de software capaz de mitigar o problema da irregularidade. Mas, apesar dessa exigência de conhecimento complementar, as eólicas vão fazendo o seu caminho. Passa, por vezes a ideia de que, para países com boa e duradoura exposição solar como Portugal, a energia eólica terá dificuldade em acompanhar a evolução da energia solar. Não daria essa questão como garantida.

O sentido do tweet de Brynjolfsson é, porém, outro. Ele pretende assinalar que a transição está aí em curso, precisamente na economia em que as energias fósseis partiam com grande vantagem de utilização, penetrando o dia a dia dos americanos, que se habituaram a ver na viatura automóvel a resolução dos seus problemas de vencimento das pequenas e grandes distâncias. A evolução é de facto impressionante atendendo à situação de partida, revelando como mesmo numa economia como a americana a mudança é possível. Se esta mudança é sustentada não estarei tão seguro. Os interesses das energias fósseis são poderosos e podem ter a qualquer momento a tentação de forçar a barra da resistência, sobretudo se os modelos de consumo não preencherem a sua quota de responsabilidade na mudança.

 

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