domingo, 7 de julho de 2024

QUEL SOULAGEMENT!

 

(É de facto com alívio que a noite cai, depois de umas eleições trágico-dramáticas, fruto de uma decisão aparentemente irrefletida do Presidente Macron. Todas as sondagens à boca das urbanas apontam para uma vitória desafiadora da Nova Frente Popular, seguida do partido de Macron e em terceiro lugar o RN, logo longe da maioria que as sondagens entre a primeira volta e a segunda volta garantiam ao partido de Marine Le Pen e ao direitinho com laivos de nazi de Bardella. Quer isto significar que, à luz dos resultados que podem antecipar-se, a decisão de Macron de precipitar eleições não foi tão dramática como se previa para a sua formação política. Afinal, conseguiu manter -se à frente do RN, embora claramente surpreendido à sua esquerda, pois certamente não imaginaria que em tão pouco tempo a esquerda republicana conseguisse, apesar dos apelos dissuasores de Macron, uma estratégia eleitoral com vitória tão inesperada. Depois da vitória dos Trabalhistas no Reino Unido, a reviravolta política em França anuncia uma atmosfera política mais respirável na Europa, tão dela necessitada a partir do momento em que a Presidência rotativa da União está entregue a um indivíduo que desafiou todas as orientações da precária política externa europeia, encontrando-se diretamente com Putin. Aliviados, mas seguramente não descansados. Os desafios do Labour no Reino Unido são gigantescos para reparar todos os danos provocados pela sanha austeritária e inequalitária dos Conservadores. E em França a formação de um governo a partir destes resultados eleitorais vai constituir uma prova de resistência das antigas à Nova Frente Popular, atendendo sobretudo ao resultado obtido pela formação política de Macron, derrotada é certo, mas à frente do Rassemblement National. Tenho a sensação de que qualquer erro na formação do Governo e na própria governação será a morte do artista, neste caso da democracia, que se uniu hoje em torno de uma linha vermelha – a extrema-direita não passará e não passou, de facto.

Temos assim dois vencedores claros desta noite – a esquerda organizada em Nova Frente Popular e a própria República e muito sinceramente que vos digo que não vos sei dizer qual é a vitória mais importante.

Imagino como Edgar Morin do alto dos seus 103 anos, creio que faria anos hoje, estará feliz ao ver a França responder como nunca ao seu propósito de formação de um oásis de fraternidade. As pessoas mais desfavorecidas ter-se-ão sentido verdadeiramente ameaçadas pela arrogância sobretudo de Bardella, candidato a primeiro-Ministro. Historicamente, nestes momentos com as sondagens a colocar a extrema-direita nas nuvens, esta costuma reagir com arrogância, não se eximindo de anunciar o que se propõe fazer. Santa e benfazeja arrogância, pois é ela que permite tornar a ameaça real e gerar a reação da esquerda republicana. Bem pode Le Pen anunciar que se trata de uma vitória adiada, já a ouvimos expressar-se assim pelo menos três vezes noutras noites eleitorais.

É tempo de festejar, mas diria que quanto mais depressa possível é necessário começar a pensar o que fazer com esta vitória. A França Insubmissa de Mélenchon não é pera doce, vão ser necessárias vozes de Razão e Visão para assegurar que esta vitória não seja pírrica. O líder do Partido Socialista Francês, Olivier Faure, também ele revigorado pelo seu contributo de sensatez para esta Nova Frente Popular, insistiu nesse ponto, a criação de condições para um novo rumo na política francesa. Não vai ser fácil a formação de um Governo.

Dormirei hoje melhor, mas ciente que o mais importante começa amanhã, dar sentido político a esta vitória. Nestas condições, já dou de barato que a França nos tenha ganho nas grandes penalidades.

 

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