segunda-feira, 8 de julho de 2024

OHLALA!

(Marco De Angelis, https://www.cartoonmovement.com)

Passadas 24 horas sobre a magnífica notícia que ontem me chegou de Paris, e já quase refeito das correspondentes vibrações comocionais – há manifestamente uma correlação entre uma dimensão da emoção associada à efetivação de um desejo e uma outra ligada ao inesperado de uma boa surpresa! –, aqui venho assinar o meu ponto relativo à matéria em questão. Começando necessariamente pelo alívio resultante da derrota da extrema-direita, isto após ter sido criada a expectativa de que a mesma venceria e poderia até alcançar uma maioria absoluta que lhe permitisse condicionar o Presidente Macron no sentido de convidar o delfim de Marine Le Pen (Jordan Bardella) a constituir governo; e não é que o bloco associado ao “Rassemblement National” acabou por apenas conseguir o terceiro lugar nesta segunda volta, pese embora o facto de ir ser o maior grupo político no próximo Parlamento (126 deputados) e, portanto, uma fonte continuada de instabilidade no país!

(Agustin Sciammarella, http://elpais.com) 

Depois, há que realçar e valorizar o modo expedito e competente como a Esquerda reagiu, quer aquando da convocação de eleições legislativas (formação de uma frente política concretizando uma improvável e impensável junção de partidos, dos socialistas aos comunistas, dos ecologistas aos mais extremistas de Mélenchon) quer no tocante a uma abertura à desistência ou a um voto indesejado na sequência de uma primeira volta dececionante e cuja ameaça derivada só podia ser sustida através de uma unidade sem quaisquer restrições ou dogmatismos.
 
Este foi também o caso do bloco centrista, organizado em torno de Macron e do seu partido (“Renaissance”), que correspondeu identicamente àquela estratégia de barragem à extrema-direita no decorrer desta segunda volta. E não deixou de ser também surpreendente observar que este bloco acabou mesmo por ser mais votado do que o liderado por Marine Le Pen! Perante este facto, os analistas dividem-se quanto à verdadeira interpretação a dar ao “golpe” associado à antecipação de eleições por parte do Presidente: terá sido um tiro no pé, como a larga maioria foi considerando, ou terá sido afinal, e pelo contrário, uma jogada de alguma mestria que lhe poderá ter aberto novas possibilidades de relançamento do seu titubeante mandato? Na realidade, só as evoluções do próximo futuro poderão dar uma resposta cabal a esta dúvida metódica, sendo certo que ela exibe desde já, e pelo menos, uma certeza: a de que a França vai tornar-se novamente um laboratório político de primeira grandeza nos tempos de ingovernabilidade que já se adivinham.

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