Sempre considerei Passos Coelho um simples homem normal. Algo mais politicamente corajoso do que a média dos seus companheiros de profissão, talvez, mas notoriamente incapaz de poder ser encarado como criador e portador de uma visão para o País. Dito isto, o certo é que o que temos vindo a observar nestas semanas, com especial enfoque no que foi o lamentável espetáculo do Congresso do MEL (“Movimento Europa e Liberdade”, também conhecido como o Congresso das Direitas), tende a conduzir-me para uma outra perspetiva de análise: aquela segundo a qual em terra de cegos, quem tem um olho é rei. Porque em Rui Rio, a quem cabia propor diferente, já poucos são os que acreditam como potencial líder de uma qualquer alternativa à crescente frustração socialista, Chicão é uma ridícula inexistência, Cotrim é esforçado mas vive limitado pelo colete de forças de um liberalismo económico estrito e desligado da realidade e Ventura não passa de uma bolha cheia de ar que, cedo ou tarde, rebentará sem honra nem glória (assim o espero, embora este caso do “Chega” devesse merecer outros contornos de leitura que deixarei para futuro post). E olhando o médio prazo (pós-autárquico), e para um quadro em que Rio possa ter sido derrotado a ponto de ter de voltar para casa, também não se vislumbram hipóteses substitutivas promissoras — Moreira da Silva não tem o carisma necessário, Rangel só quer jogar quando está certo de ganhar e Moedas surgiu para o tentar ser mas mostra-se desesperantemente ingénuo na captura a que se prestou por parte de um aparelho sem baias de serenidade política; pelo que Passos estará a pensar bem quando se guarda mais para a frente, para uma altura em que Costa já tenha partido (seja por espírito de missão europeia seja por perda de aceitação eleitoral) e em que mais clarificação exista quanto aos ombros internos e externos que carregarão o seu andor — um cálculo que faz sentido, mas que pode também conter riscos que hoje não se vislumbram a olho nu.