Mais uma tertúlia na Universidade Católica (Porto), sempre debaixo do meritório e continuado esforço de criatividade organizativa por parte de um Alberto Castro a quem temos de reconhecer uma voluntarista dedicação à causa do debate de ideias. Desta vez, os protagonistas de sempre (José Manuel Félix Ribeiro e José Fernando Pinto dos Santos) passaram a comentadores de um keynote escolhido para tratar de colocar a questão do Estado e sua intervenção (em crescendo nestes tempos pandémicos), Daniel Bessa. Assim se valorizou a “ideologia” de apresentar o mercado como solução superior, se defenderam as vantagens de uma aproximação aos “requisitos de um mercado tal como ele foi desenhado” (“pelo menos, é mais neutro”), se proclamou o desassossego quanto a uma perceção de méritos no Estado que ele não terá e se argumentou em favor da concorrência (porque induz inovação e porque implica poderes mais fragmentados). Numa das tertúlias de conteúdo menos focado de quantas já aconteceram, o que se justifica mais pela sua forma Zoom e pelo potencial de amplitude do tema do que por qualquer outra razão substantiva, primaram as notas desafiantes do JMFR, quer quanto a uma “importante evolução em curso na União Europeia” (recuo na globalização por via de uma tentativa de redução das cadeias de abastecimento e das dependências, por um lado, e adoção de uma estratégia de política industrial sob inspiração alemã, por outro) quer quanto ao alegadamente inexistente sentido de um qualquer eixo franco-alemão na Europa de hoje (aliás crescentemente contrariado por um conjunto de países “amigos do Mercado Único”), quer quanto a elementos mais fundamentalmente provocatórios e menos explicitamente tratados de modo cuidado, como são os dos EUA enquanto principal “inimigo” da União Europeia para alguns países, os da “perseguição” às empresas tecnológicas americanas, os do real alcance de uma aposta no “verde” e nas energias renováveis, os de que “estamos a ser governados a partir de um manicómio” (falava da Europa), os da indução nos vários PRR nacionais das diretrizes que mais verdadeiramente importam aos alemães ou os da nossa estrita luso-alegria estar limitada à receção de dinheiro europeu. Matéria esta que Bessa complementou com uma alusão pertinente a um programa de recuperação hipercondicionado e burocraticamente dominado por uma bateria de 1700 indicadores. E assim foi ou, pelo menos, assim vi o essencial do que ouvi.
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