domingo, 2 de maio de 2021

A BATALHA DA DIREITA

 


(Vários artigos durante o fim de semana, com destaque para o de José Pacheco Pereira no Público, trataram o significado da Convenção do MEL, mais uma tentativa da direita em Portugal para levantar cabeça. Não me interessam de todo as pequenas coisas dos convites e participações, sobretudo as que irritaram as hostes do PS. Sousa Pinto e Luís Amado são nomes com os quais não gosto de perder tempo, tão precioso na minha idade, e por isso, sem os querer colocar de fora da história do PS, acho que pouco têm para acrescentar ao futuro socialista, mesmo que o primeiro se reclame da tão apregoada proximidade a Soares. Já Rui Rio continua a não perceber pevide do que se passa à sua volta. O que não é novidade.)

O artigo de Pacheco Pereira no Público (link aqui) é de uma grande finura em termos de compreensão do problema central que subjaz a estas sucessivas tentativas de colocar o pensamento de direita no centro do debate político, todo ele essencialmente ancorado no liberalismo económico. Há de facto muitos e conhecidos nomes que têm ocupado o espaço do comentário político e não apenas na arma avançada que o Observador representa para o movimento. Pena é que muitos destes “pensadores” se deixem levar mais pelo ressabiamento do que propriamente pela vontade de propor ao País ideias merecedoras de execução. Porque não chega clamar que a economia portuguesa precisa de mais mercado, que é necessário destruir o manto pouco diáfano da intervenção pública. Era necessário pelo menos mostrar como se muda a partir da situação que temos, sobretudo com o nosso nível de desenvolvimento económico, aquilo que eu costumo chamar de transição para uma transformação bem-sucedida. E aqui é que a porca torce o rabo.

Pacheco Pereira mostra com clareza que gente do comentário e da opinião existe. O problema é que ela precisa de uma força política para transcender o espaço do seu comentário, por mais eloquente que se considere. O que existe é poucochinho. O CDS PP é vulnerável, a Iniciativa Liberal ainda tem que medrar muito e o Chega, em crescendo, é demasiado incómodo, embora gente proeminente no movimento (com a historiadora Fátima Bonifácio à cabeça) se tenha já esforçado para justificar a sua condescendência. Usando a minha imagem da transição para uma transformação bem-sucedida, arrisco-me a dizer que FB considera o Chega o motor necessário dessa transição.

É neste contexto que o PSD ainda é o grande incómodo que a nova direita enfrenta. Porque é a única força política que poderia objetivamente protagonizar o acolhimento do novo pensamento. O primeiro “take-over” hostil falhou quando Passos Coelho não conseguiu uma maioria de governo. Montenegro e companhia mostraram bem com a sua incredulidade dos primeiros tempos no Parlamento com maioria de geringonça o desatino que tinha sido o tal plano falhado. De raiz, o PSD não absorve com facilidade um pensamento exclusivamente baseado na dimensão económica do liberalismo, ainda por cima apresentado de modo canhestro. Mas o “take-over” não desapareceu da cabeça de tais personalidades. Aguarda que Rio se estatele ao comprido e tudo tem feito para que isso aconteça, colocando ele próprio as cascas de banana. Por isso, a grande batalha da nova direita chama-se PSD, não se chama outra coisa, qualquer que tenha sido o FEL destilado nos debates do MEL.

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