sexta-feira, 28 de maio de 2021

QUE JOGO DE CINTURA!

Costa esteve ontem novamente brilhante, no plano tático do resultadismo circunstancial, ao entregar a sua moção de estratégia global ao Congresso do PS. Sobretudo porque disse o que o seu faro político-mediático lhe determinou que fosse oportuno dizer na presente conjuntura, desde logo em termos de política de alianças — quer cavalgando uma onda de ataque à direita (que remunerará até quando?) por ela ser “complacente com uma agenda antidemocrática e xenófoba” quer defendendo “que é no diálogo à esquerda (e o Bloco como vai ser?) que se assegura a estabilidade e as boas políticas de que o país precisa para recuperar e garantir o futuro, no respeito pelos princípios programáticos do PS e pelos compromissos internacionais do nosso país”, sem quaisquer preocupações em relação a um Rui Rio com quem se fartou se flirtar e negociar por detrás da cortina (vejam-se os acordos sobre os debates parlamentares ou a pornografia dos acordos regionais, para só citar dois de muitos casos de gosto duvidoso), e que prossegue firme e hirto na sua disponibilidade para o voltar a abraçar, nem em relação a uma esquerda bem intencionada mas antieuropeia e inibidora de algumas das reformas que um primeiro-ministro consciente devia ter por necessárias.

 

Depois, a moção de Costa integra vulgaridades como as de que “o PS deve ainda continuar a liderar este processo de recuperação económica e social do país, assumindo-se como um partido que dialoga com todos os sectores da sociedade que defendem o aprofundamento da democracia pluralista”, de referir que a recuperação económica deve ir para além de um regresso a fevereiro de 2020 e colocar todas as fichas no chavão do Plano de Recuperação e Resiliência e do próximo Quadro Financeiro Plurianual, de se limitar a juntar o objetivo de erradicação da pandemia à manutenção estrita da centralidade temática de 2018 (combate às desigualdades, desafio demográfico, alterações climáticas e sociedade digital) e de se posicionar defensivamente para as próximas autárquicas ao apontar para “a maioria das câmaras municipais, a maioria das juntas de freguesia, a maioria dos mandatos e a maioria dos votos”.



Quanto à preparação da geração seguinte do partido, tão badalada quanto incómoda há três anos (designadamente por via da atuação de Pedro Nuno Santos no Congresso), a mesma ficou desta vez reduzida à insignificância de um anúncio por parte do próprio no sentido de que desta vez iria “ficar calado” (et pour cause...). A grande “novidade” da moção de Costa, que se apresenta como pretendendo “garantir o futuro”, acaba por parecer a de uma “regionalização” que vai sucessivamente aparecendo e desaparecendo das suas apostas (sempre com meritórios matizes de criatividade, seja no plano substantivo seja no plano das metas temporais) — desta vez já não é o contexto de reforma do Estado de 2013 nem o da aproximação a Rio de 2015, como também não o de uma espera pelas propostas do relatório da Comissão Cravinho de 2019 ou por uma discussão quando o país estiver maduro ou conseguir vencer os mitos ou quando o Presidente da República estiver mais a jeito; desta vez é mesmo, logo a abrir, o referendo “nos termos constitucionais”, claro que apenas após a “consolidação do processo de descentralização para os municípios e áreas metropolitanas” e o simultâneo prosseguimento do processo de alargamento das competências das CCDR” e a consequente avaliação do processo de descentralização a consolidar no próximo mandato autárquico (2021/2025), ou seja, lá para as calendas e após um debate a iniciar lá para os finais de 2024, altura em que disse esperar ainda “estar cá”.  Que Deus assim lho permita!

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