Não sou um apreciador do estilo sensacionalista do “Sexta às 9” da RTP, liderado por Sandra Felgueiras, embora lhe reconheça um papel positivo na identificação de alguns casos que de outro modo passariam despercebidos no meio da excessiva capacidade de compromisso e encobrimento que reina no seio da nossa “apagada e vil” sociedade e da nossa classe política; embora fosse útil ao programa que alguma da sua investigação pudesse ser mais solidamente comprovada e comprovável e, também, que se decidisse a abdicar daquela desesperante música de fundo que é colocada em cima dos momentos que se pretendem salientar como indiciadores de qualquer coisa profundamente escabrosa que possa estar para ser revelada nos segundos imediatos.
Vem isto a propósito do ministro do Ambiente e das Alterações Climáticas (MAAC), que de há algum tempo a esta parte vem estando na berlinda do dito programa televisivo, e não só. De facto, os processos de que o governante vai sendo considerado suspeito, pelo menos de irresponsabilidade gestionária em matérias que envolvem dinheiros públicos nacionais e europeus, são vários — com o lítio e as barragens a serem os mais badalados e os mais quentes, incluindo acusações partilhadas com o seu secretário de Estado, João Galamba, esse mesmo que veio atirar-se no “Facebook” a Fátima Felgueiras, nestes termos: “Lamento, mas estrume só mesmo essa coisa asquerosa que quer ser considerada 'um programa de informação'. Mas se gosta desse caso psicanalítico em busca da sua expiação moral, bom proveito”; para, num assomo de coragem nunca vista, logo de seguida se decidir a apagar, de modo subrepticiamente infantil, a referida nota (valha-nos, em matérias desta natureza, a memória da frontalidade de João Soares e da sua demissão às mãos do primeiro-ministro de então!).
Dias atrás, a questão do lítio voltou à baila pela palavra acusadora de um ex-secretário de Estado de António Costa (no caso da Internacionalização), Jorge Costa Oliveira, a quem o MAAC retorquiu com negas e insultos (“mentiroso e irresponsável”, pelo menos) e a graçola que lhe é costumeira (desta vez a de que só tem uma “memória vaga” de tal ex-colega de Governo, coisa estranha quando este operou sob uma tutela ministerial que lhe é familiar, a do marido da irmã de um seu tio direito por afinidade). Já a questão das barragens, e depois dos diversos elementos pouco claros que foram sendo inventariados ao longo dos últimos tempos, eis que o ministro, na sua notável capacidade de apreensão dos modos propagandísticos da política moderna, se deslocou a Trás-os-Montes para apresentar aos autarcas da CIM local um “Roteiro para o Desenvolvimento Sustentável e Integrado das Terras de Miranda, Sabor e Tua”, pleno de promessas (91 milhões de euros delas, embora se diga que algumas correspondendo a obras/ações já realizadas ou já previamente anunciadas). Ou seja: pelos vistos, na Rua do Século mandam cabeças privilegiadas e que aprendem bem, embora nem sempre com as cautelas necessárias a evitar que alguns compatriotas mais bem informados ou menos alienados por dependências leiam como chico-espertismo essas alegadas práticas de bem-fazer.
Pessoalmente, não creio que em todas estas matérias o nó górdio esteja em quaisquer comportamentos ministeriais qualificáveis de graves no plano judicial. Tendo bastante mais a pensar que se trata apenas de um misto, em doses diversas consoante os dossiês, de uma presunção desajeitada e algo saloia, ainda que travestida de modernista e despida de ostentações manifestas, e de uma pesporrência construída a partir da interiorização de bajulações ocasionais da corte. Tudo com o silêncio cúmplice de um espelho matinal que insiste em não revelar ao seu dono a dura realidade...
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