(Acho que os nostálgicos, como eu, dos tempos em que o tempo da equidade pelo menos relativa no futebol existia festejaram a épica final da Liga Europa, com o Villareal a ganhar na 11ª grande penalidade, ainda por cima com o picante facto do Manchester United ter falhado a sua oportunidade através do seu De Gea, guarda-redes espanhol. Não me atrevo a considerar que se tenha tratado de uma vitória justa. É algo de anacrónico considerar a justiça de uma vitória ou a injustiça de uma derrota quando a desproporção de meios que a globalização do merchandising futebolístico gerou e é hoje a lei do jogo.)
O Villareal é uma equipa matreira, muito robusta e consistente, hoje sem grandes nomes, quando já os teve, e representa uma cidade de pouco mais de 50.000 habitantes. Unay Emery é uma raposa, com a sua peculiar maneira de seguir o jogo no relvado e tem na Liga Europa um fetiche de vitórias que só falhou com mais um clube do merchandising globalizado, o Arsenal, três vitórias com o icónico Sevilha. É claro que o Villareal tem um jogador notável de inteligência, capacidade rara de contenção e de distribuição de jogo e sobretudo com uma intuição de baliza notável. Gerard Moreno tem 29 anos e espanta como o futebol globalizado ainda o não apanhou. Mas a equipa de amarelo tem outros ativos. Tem o homem da casa Pau Torres um defesa guerreiro e com grande sentido de posicionamento, o já velho Bacca dos tempos de Emery no Sevilha e dá-se ao luxo de ter colocado o defesa Albiol a jogar como nunca aos 35 anos.
Se quisermos ser rigorosos, ontem, houve momentos de jogo em que a pressão do United foi asfixiante, mas pressentia-se que, apesar de manietado, o submarino amarelo se manteve coeso. Do lado do United, apesar do impetuoso Cavani conservar a sua intuição na área e revelar ainda uma pujança física apreciável, conseguimos perceber uma vez mais que apesar da sua categoria Bruno Fernandes é um jogador mentalmente frágil e que não é homem para grandes finais, aliás como o tem mostrado recorrentemente na seleção.
E com o final épico das grandes penalidades, mais uma vez se percebeu que falar de lotaria nas grandes penalidades é ignorar completamente que nos jogadores de futebol também há uma coisa a que se chama competência, desempenho eficaz num dado contexto de trabalho e a grande penalidade é um contexto em que todos os recursos devem ser mobilizados. Marcar onze penalidades de forma competente é uma competência coletiva, tanto mais que a 11ª foi assumida pelo Guarda redes amarelo.
O significado da exultante vitória do submarino amarelo representa a evidência de uma coisa que me é cara: sim, existem de facto tendências estruturais pesadas que marcam indelevelmente o rumo das coisas, mas existe sempre algo a que chamo espaço de possibilidades.
Neste caso, a tendência estrutural é a globalização apócrifa do futebol e a desproporção de meios que ela determina. O espaço de possibilidades foi desta vez assumido pelo Villareal, como em bom rigor se poderia dizer que o FC Porto esteve quase a assumir também em relação ao Chelsea, como o mostrou relativamente à Veglia Signora da Juventus, bastante acabadota este ano.
E não digam que não têm aqui um “lampião lúcido e tolerante” que este ano teve de contentar-se com o feito das nossas mulheres (as encarnadas), com destaque para a canadiana Cloé Lacasse que dá gosto ver jogar.
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