sexta-feira, 7 de maio de 2021

ATENÇÃO ÀS SEICHELES!

 

(Não, não é para vos propor uma viagem a um destino longínquo, com brincadeiras com tartarugas, para recuperar de todas estas penas pandémicas. Como país pequeno, que lidera o processo de vacinação a nível mundial, com cerca de 60% da população totalmente vacinada, país essencialmente turístico, tudo o que se passar de anómalo nas Seicheles em termos de incidência de casos confirmados suscita atenção e merece estudo. Não é difícil perceber a razão.)

Sem espanto para ninguém, na lista mundial que hierarquiza os países segundo o estado da vacinação, à cabeça aparecem sete economias de pequena dimensão. Os indicadores referem-se a percentagens de população pelo que poderíamos dizer que a dimensão dos países é neutralizada. A questão é que não é bem assim. O efeito massa continua a importar e como é óbvio por questões designadamente logísticas a pequena dimensão demográfica tende a favorecer o ritmo de vacinação, para igualdade de condições de capacidade logística e disponibilidade de vacinas.

As Seicheles lideram a lista mundial de vacinação e as autoridades políticas do país anunciavam há dias que iriam atingir a chamada imunidade de grupo dentro de muito pouco tempo. De facto, os mais de 60% de população já totalmente vacinada sugeriam que a afirmação política não teria nada de fanfarronice, dada a população de cerca de 100.000 indivíduos, mesmo contando com o fator logístico das 115 ilhas que integram o território.

Mas as Seicheles são uma economia essencialmente turística pelo que a prova final estaria nas condições de abertura com a referida taxa de vacinação.

Na última semana de março do presente ano, o país começou a abrir-se de novo aos fluxos turísticos depois de um longo ano de severas restrições que são a medida mais utilizada em países-ilhas. E aqui regressamos a um tema que a euforia da vacinação não tem permitido discutir com a profundidade necessária. No fundo, qual é efetivamente o efeito protetor das vacinas? Protegem da infeção ou apenas da infeção grave e com isso de todo o rol complementar de efeitos nefastos que ela pode provocar?

O Washington Post (link aqui), interessado por essa questão, analisou o caso particular das Seicheles após a abertura e documenta que a incidência de novos casos aumentou para cerca de 100 casos diários, o que em termos per capita assume contornos perigosos. Pelos números documentados percebe-se que apenas 10% dos casos confirmados surgem associados a visitantes estrangeiros, mas a coincidência da abertura ter trazido o regresso da incidência apesar da alta taxa de vacinação transporta-nos de novo para a questão central do poder protetor das vacinas. Compreensivelmente, há o registo de que novas restrições estarão a ser impostas.

Para as economias essencialmente abertas é talvez tempo de moderar expectativas quanto ao poder protetor das vacinas em termos de novas infeções, embora caminhar decisivamente para a vacinação massiva seja um caminho de não retorno e quanto mais fluido melhor.

Mas vem aí a necessidade de um outro tipo de preparação. Mesmo com alta taxa de vacinação é necessário por outros meios reduzir quanto o possível a probabilidade de infeção. Tomo bem conta dessa conclusão. Por isso, estamos perante um problema efetivamente global, a que os nacionalismos trazem pouco contributo, a não ser que queiram permanecer infinitamente fechados.

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