terça-feira, 11 de maio de 2021

APONTAMENTO PRESIDENCIAL

Passou quase despercebida a profissão de fé tendencialmente regionalizadora do Presidente da República. Falando aos jornalistas acerca do PRR e sua gestão, começou por assumir a necessidade de nesta ser adotada uma “perspetiva descentralizada”, ainda que não tenha incorporado alguma reflexão proveniente dos enormes riscos associados a uma mera réplica, com mais empowerment, de um passado em que os vícios também abundam de modo não desprezível. Assim disse: “É muito importante que os fundos sejam geridos com uma perspetiva descentralizada. Por uma razão muito prática: tirando alguns projetos que, pela sua dimensão, é possível gerir no topo da Administração Pública, a maior parte dos projetos supõem uma proximidade na gestão. As CCDR’s estão habituadas a isso e o poder local está mais próximo... e portanto, se se quer uma taxa de execução o mais próxima possível de 100%, é mais fácil com a participação e a intervenção dos que estão próximos do terreno.” Ok, com os devidos checks and balances, diria eu.

 

Mas não é a este último aspeto que essencialmente me refiro quando sublinho aquilo a que chamei uma “profissão de fé tendencialmente regionalizadora”, antes sim ao que parece estar contido nas entrelinhas de uma paralela declaração que também produziu, a saber: “Agora, ficou claro, na coordenação entre a Saúde e a Segurança Social na forma de enfrentar a pandemia, que tem de haver qualquer coisa que não seja cada município por si ou comunidades intermunicipais e depois o Estado.” Vendo o vídeo, resulta claro que o posicionamento das mãos presidenciais, uma em cima e outra em baixo com um grande vazio pelo meio, dirá quase tudo o que ficou por dizer em potenciais palavras conclusivas, com o adicional acrescento de uma algo intrigada expressão como que indiciadora da existência de um possível caminho que talvez se deva vir a explorar. Pessoalmente, saúdo a honestidade intelectual do Presidente da República, embora já não esteja ao alcance das minhas atuais capacidades qualquer crença em evoluções úteis em tal sentido por parte de qualquer poder executivo do regime em que vivemos.


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