segunda-feira, 31 de agosto de 2015

FORA DA PORTA?


(Guido Scarabottolo, http://www.nytimes.com)

(Bas van der Schot, http://www.volkskrant.nl)

(Nicolas Vadot, http://www.levif.be)

Não vou de modo algum tão longe como António Barreto quando declara que “há hoje em dia um grande político, a sra. Merkel”. Mas, por uma vez, concordo com o diagnóstico que a supostamente grande e ditosa senhora vai fazendo sobre os incomensuráveis e potencialmente incontroláveis riscos que impendem sobre a Europa em razão da chamada “crise dos refugiados”. Que há dias o “The New York Times”, dirigindo-se a uma Europa que se esquiva à obrigação de proteger aqueles e sublinhando a traição que tal constitui em relação aos seus valores fundamentais, assim tratava: you’re better than this.

E direi até mais: pode estar precisamente aqui – nesta explosiva terra de ninguém em que se cruzam expectativas desesperadas, egoísmos nacionais exacerbados, políticos de vistas curtas e populismos irrestringíveis – o fim de muito do que hoje nos enquadra, de Schengen à União Europeia, da normalidade democrática à paz. Por isso, volto ao assunto em diversas línguas e neste final de mês que marca o retorno ao trabalho por parte da maioria dos cidadãos e responsáveis deste cada vez mais Velho Continente, na esperança provavelmente vã de que algo possa ainda contribuir para despertar as inconsciências dominantes...

(Xavier Gorce, “Les Indégivrables”, http://www.lemonde.fr)

(Emilio Giannelli, http://www.corriere.it)


(Greser&Lenz, http://www.faz.net)

(Peter Schrank, http://www.independent.co.uk) 

PRELIMINARES ELEITORAIS III




(Perspetivas em torno das contas nacionais INE 2º trimestre de 2015)

A marcação já há muito deixou de ser à zona, para ser implacavelmente realizada sobre cada facto económico que venha à rede. A publicação das Contas Nacionais Trimestrais – 2º trimestre de 2015 por parte do INE, com crescimento em termos homólogos de 1,5% e 0,4% em relação ao trimestre anterior (o chamado crescimento em cadeia), teria de suscitar forçosamente uma marcação cerrada por parte do PS e da maioria.

A minha interpretação é a de que paradoxalmente, isto é de modo aparentemente favorável à maioria pelo motivo do retorno do crescimento e das suas consequências sobre o emprego, as contas do 2º trimestre de 2015 favorecem a posição do PS, sobretudo se for acompanhada da transmissão de ideias fortes sobre o comportamento da economia neste trimestre.

Vou tentar justificar a minha interpretação, num contexto em que tenho de reconhecer o PS precisa urgentemente de pontos para assumir a contagem final.

Ora o que é os dados nos oferecem de reflexão relevante?

O principal dado que a nota estatística do INE nos fornece é a fortíssima dependência que o crescimento económico revelou face ao crescimento da procura interna, mais propriamente do consumo privado (compra de automóveis e aceleração do consumo de bens não duradouros e serviços). Onde é que eu já ouvi esta história? Esse contributo para o crescimento (em termos homólogos) foi de 1,8 p.p. ao passo que o contributo da procura externa caiu para – 1,9 p.p. Ora esta história de crescimento não é nada favorável à maioria. Ela coloca em evidência que a terapêutica da austeridade se limitou a introduzir penosidade e a não provocar qualquer transformação estrutural que se veja. A prova é que a recuperação se faz neste trimestre essencialmente à custa do consumo privado. Bastou, tal como Reino Unido, aliviar um pouco a carga austeritária e aí está pouco sustentadamente o consumo a tomar as rédeas do crescimento. Por conseguinte, o discurso de que a receita da consolidação abrupta das contas públicas ou para além do memorando que a maioria apresentou como um tratamento eficaz para proporcionar uma recuperação mais saudável é uma treta. Mário Centeno na sua alocução de hoje fez bem em insistir sobre esta contradição do discurso da maioria e se Costa for hábil no debate com Passos Coelho pode encostá-lo à parede com esta contradição de discurso. Mas atenção que algo de similar se passou no Reino Unido e os Conservadores ganharam. A diferença é que o Reino Unido quando inicia a recuperação não tem sobre os seus ombros a responsabilidade da mudança estrutural que pesa sobre a economia portuguesa. Isso faz muita diferença.

Mas o PS não pode baixar a guarda. O 2º trimestre de 2015 mostra o motivo da minha preocupação em posts anteriores quando referia que o PS aposta na criação de efeitos rendimento na economia para assegurar a transição entre o curto e o médio prazo quando esses efeitos rendimento já estão de certo modo a ser criados pela maioria com o seu alívio da torneira fiscal. O PS tem de bater-se pela recuperação com maior incorporação de investimento e sobretudo de investimento orientado para atividades marcadamente extrovertidas, caso contrário terá uma recuperação do tipo da que a maioria pode oferecer neste 2º trimestre e essa, como é visível na nota do INE, agravou o desequilíbrio externo. Bem sei que criar efeitos estruturais de procura é bem mais complexo do que gerar efeitos de rendimento geradores de incremento do consumo. Mas não há volta a dar nesta matéria. Os efeitos rendimento terão de ser seletivos e sobretudo orientados para recompor franjas de mercado interno estupida e desnecessariamente destruídas, mas atenção que a maioria está a criá-los, aliviando a pressão fiscal para eleitor sentir no bolso.

Os dados do 2º trimestre de 2015 oferecem ainda um motivo de desvalorização das posições da maioria, desta vez centrados no investimento. Ora, apesar de um crescimento homólogo de 7% em volume, o resultado obtido foi sobretudo resultado dos stocks terem inchado. A formação bruta de capital fixo, a única componente que interessa em termos de sustentação do crescimento a longo prazo, desacelerou, embora crescendo neste trimestre.

Ou seja, em resumo, indicadores muito maus para a cantilena da maioria de que a penosidade do sacrifício potenciou uma recuperação saudável. De saudável ela tem muito pouco. Farta matéria para o PS acentuar as componentes do seu programa que podem potenciar um arranque de crescimento mais sustentado e retirar alguma importância aos efeitos rendimento que não aqueles expressamente orientados para a reposição das condições mínimas de vida.

Aposto que a comunicação social vai passar ao lado destas contradições do discurso da maioria. Cabe ao PS forçá-la a não ignorar estes argumentos. Com mensagens claras e dirigidas. Afinal a recuperação que a maioria consegue está cheia dos aspetos que ela acusa ir o programa do PS gerar. Marco António pode pôr a cara de pau que entender e os óculos mais in que encontre no mercado, negando as evidências e efabulando sobre os números do INE,  mas da contradição do discurso não se safa não.

Os preliminares começam a aquecer.

SÉRGIO GODINHO, 70 ANOS

(Jorge Rosa, http://www.fotolog.com)


Para além de ser um dos nossos grandes autores, Sérgio Godinho é uma das constantes da vida de muitos de nós e provavelmente o mais intergeracional de entre os nossos intérpretes, compositores e poetas. Sérgio, que completa hoje sete décadas de uma vida cheia.

Recordo algumas das suas mensagens mais antigas e que ficaram gravadas para sempre, começando pelas mais intimistas. Como o “primeiro dia”: “A principio é simples, anda-se sozinho / Passa-se nas ruas bem devagarinho / Está-se bem no silêncio e no borburinho / Bebe-se as certezas num copo de vinho / E vem-nos à memória uma frase batida / Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida”. Ou aquela pergunta do refrão de “com um brilhozinho nos olhos” (“E o que é que foi que ele disse? / Hoje soube-me a pouco (...) / Passa aí mais um bocadinho / Que estou quase a ficar louco / Hoje soube-me a tanto (...) / Portanto / Hoje soube-me a pouco”) acrescida daquela síntese final (“E com um brilhozinho nos olhos /Tentámos saber / Para lá do que muito se amou / Quem éramos nós / Quem queríamos ser / E quais as esperanças / Que a vida roubou / E olhei-o de longe / E mirei-o de perto / Que quem não vê caras / Não vê corações / E com um brilhozinho nos olhos / Guardei um amigo / Que é coisa que vale milhões”). Ou o inevitável “espalhem a notícia” em que Sérgio nos confessa a quase todos: “Eu fui ao fim do mundo / Eu vou ao fundo de mim / Vou ao fundo do mar / Vou ao fundo do mar / No corpo de uma mulher / Vou ao fundo do mar / No corpo de uma mulher bonita”. Ou, ainda, “a noite passada” em que (...) um paredão ruiu / pela fresta aberta o meu peito fugiu / estavas do outro lado a tricotar janelas /vias-me em segredo ao debruçar-te nelas / cheguei-me a ti disse baixinho ‘olá’, / toquei-te no ombro e a marca ficou lá / o sol inteiro caiu entre os montes / e então olhaste / depois sorriste / disseste ‘ainda bem que voltaste’”. Ou, também, as referências aos “dias em que um beijo bastava” ou a que “o amor não é o bilhete de identidade” no desencantado “2º Andar Direito”: “Não fales, que o bebé ainda acorda / não grites, que o vizinho ainda acorda / e não me olhes, que o amor ainda acorda / deixa-o dormir o nosso amor, um bocadinho mais / deixa-o dormir, que viveu dias tão brutais”. Sem esquecer as origens com “a lágrima ao canto do olho”: “Ai, eu estive quase morto / no deserto / e o Porto / aqui tão perto”.

E apelo, depois, às outras mensagens, mais datadas mas igualmente poderosas no plano da coerência de uma irrepreensível presença cívica. Como o “Que força é essa / que força é essa / que trazes nos braços / que só te serve para obedecer / que só te manda obedecer / Que força é essa, amigo / que força é essa, amigo / que te põe de bem com outros / e de mal contigo”. Ou aquela interrogação que nos assalta: “Pode alguém ser livre / se outro alguém não é / a corda dum outro / serve-me no pé / nos dois punhos, nas mãos / no pescoço, diz-me: / Pode alguém ser quem não é?”. Ou “os pequenos nadas” da vida: “Somos tantos a não ter quase nada / porque há uns poucos que têm quase tudo / mas nada vale protestar / o melhor ainda é ser mudo / isto diz de um gabinete / quem acha que o cassetete / é a melhor das soluções / para resolver situações / delicadas / a vida é feita de pequenos nadas”. Ou a proclamação pela “liberdade” em pleno PREC: “Vivemos tantos anos a falar pela calada / Só se pode querer tudo quando não se teve nada / Só quer a vida cheia quem/ teve a vida parada / Só quer a vida cheia quem teve a vida parada / Só há liberdade a sério quando houver / A paz, o pão / habitação / saúde, educação / Só há liberdade a sério quando houver / Liberdade de mudar e decidir / quando pertencer ao povo o que o povo produzir”. Ou a tão atual busca por um emprego: “Se eu mandasse neles / os teus trabalhadores / seriam uns amores / greves era só / das / seis e meia às sete / em frente a um cassetete / primeiro de Maio / só de quinze em quinze anos / feriado em Abril / só no dia dos enganos / e reivindicações / quanto baste ma non troppo / anda, bebe mais um copo / arranja-me um emprego/ Arranja-me um emprego / pode ser na tua empresa / concerteza / que eu dava conta do recado / e para ti era um sossego”. Ou as outras causas: “Etelvina já cansada de viver sem ninguém / A não ser de vez em quando amores de vai e vem / Pôs um anúncio no jornal que dizia assim: / ‘Mulher desembaraçada/ Quer viver com alma irmã / De quem não seja criada/ De quem não seja mamã’”.

Fica bem e sempre acompanhado por esse teu tão inconfundível modo de ser e estar – parabéns, Sérgio!

COSTA NA TERRA DOS JESUÍTAS


No último domingo de agosto a rentrée do PS a norte veio ao encontro do meu refúgio tirsense. E lá tirei o meio-fim da tarde para ir sentir o ambiente e ouvir o António Costa.

A mobilização e o entusiasmo ficaram-se pelo q.b., mas este modelo em que insistem os grandes aparelhos partidários também já não tem muito a oferecer. Acredito cada vez menos que tal tipo de iniciativas sirva a alguém que não aos profissionais dos sindicatos internos de voto, do financiamento dos partidos e da carpintaria no terreno. Quem maioritariamente se desloca são os localmente instados ou “obrigados”, os candidatos e seus mais próximos apaniguados e as personalidades que têm de ir mostrar a cara. Além da comunicação social que, já conhecendo os truques e com as fontes ali à mão, faz a coisa com pouco e assim se poupa a grandes esforços. Em suma, pessoalmente não consigo minimamente acreditar que haja alguém que tenha vacilado nas suas convicções de voto por via da sua presença neste comício ou da sua tomada de conhecimento sobre o que por lá se foi dizendo.

Dito isto, não deixa de ter significado sublinhar que Costa – cujas prestações têm vindo a melhorar e a mostrar-se gradualmente mais afinadas – esteve bem no essencial. Antecedido por um Carlos César encarregado de dar o mote da combatividade e da renovação (quer quanto aos ataques diretos a Rangel e a uma Coligação que precisa de “ir às boxes”, quer sobretudo quanto a um tardio e quase afirmativo discurso assente na ideia de um “novo PS” que aprendeu e se rejuvenesceu), Costa parece querer enveredar por um caminho de maior eficácia, abandonando alguma pastosidade e tecnicidade de conversa em benefício de uma maior frontalidade e propositura.

E o que disse Costa? Que fez o trabalho de casa (definição estratégica, compromissos credíveis, contas feitas, equipa renovada). Que não vem só para “correr com eles” mas sobretudo para mostrar que há outro caminho, fazendo diferente e melhor. Que confrontará sem limites tudo quanto ponha em risco a solidez da textura de solidariedade intergeracional que por cá se forjou. Que localiza no emprego a causa das causas. Que tem sob mira a sangria da emigração, a quebra de rendimento das famílias e a asfixia das empresas. Que, e por fim, quatro tópicos o distinguem de Passos e Portas: ele pretende virar a página da austeridade em lugar de a fazer prosseguir; ele vê o desenvolvimento do País com base no conhecimento e na inovação em vez do empobrecimento e da precariedade; ele aposta na qualidade da natureza pública da Segurança Social, da Saúde e da Educação contra o tudo privatizar rapidamente e em força; ele visa restaurar a dignidade nacional através da defesa do interesse de Portugal na Europa ao invés de aceitar passivamente a continuação de uma postura de submissão no quadro europeu.

À distância de mais de um mês para o decisivo 4 de outubro, muitos imprevistos e surpresas podem e irão ainda acontecer. Resta esperar, a bem do equilíbrio material e mental dos portugueses e do País no seu conjunto, que Costa não caia em novas tentações e que assim se foque em prosseguir o mais recente caminho que adotou de afinamento do seu único papel útil de líder e ativo estratégico de uma alternativa à indecência dos interesses escondidos.

BOLT, QUASE O MELHOR DESTE AGOSTO



O mês 8, que hoje termina, costumava ser o do gozo de sol e praia complementado por umas escapadelas desportivas em torno do ciclismo nacional e também por terras francesas, italianas e espanholas, do atletismo ou das Olimpíadas.

Não sei muito bem explicar porquê, mas o certo é que, com a notória exceção de Marçal Grilo, o ciclismo perdeu entretanto grande parte daquele interesse generalizado que levava os rapazes a organizarem corridas de sameiras (ou caricas, a sul) em belas pistas de areia recheadas de boas retas e altas montanhas. Por sua vez, o sol e praia cada vez mais tem dias, pelo menos a norte e com particular saliência para este péssimo agosto de 2015. Como os Jogos do Rio ainda têm de esperar pelo próximo ano, valeram-nos os mundiais de atletismo que até ontem se foram realizando em Beijing e contaram com provas fantásticas, emocionantes e até sobre-humanas.

Quero, por isso, deixar aqui um tributo à excelência desportiva e desportista que com agrado fui televisionando (com a boa ajuda de um eficaz comentador, salvo erro Luís Lopes) e quero, muito em especial, destacar essa figura ímpar da velocidade mundial de todos os tempos que é o fenómeno jamaicano Usain Bolt (não entrando em discussões despropositadas sobre se se trata do melhor de sempre, sobretudo quando confrontado com o lendário Jesse Owens ou com o polivalente Carl Lewis).

Por fim, três constatações/interrogações. Primeira: o que será que faz a grandeza da chamada “escola da Jamaica” em provas de velocidade pura, quer na vertente masculina quer na feminina (onde tem pontuado Shelly-Ann Fraser-Price)? Segunda: a que se deverá a crescente dominação de quenianos e etíopes em modalidades de fundo e meio-fundo? Terceira: o que justificará o visível declínio da Federação Russa, cujo hino já chegamos a saber trautear quase de cor? Respostas de difícil concatenação já que seguramente apelam ao concurso de múltiplas e improváveis disciplinas...

domingo, 30 de agosto de 2015

A EXUBERÂNCIA DAS EXPECTATIVAS




(Agosto foi um mês de turbulências)

Robert J. Shiller (Nobel de Economia) é seguramente o economista que mais tem contribuído para estudar a exuberância irracional dos mercados financeiros em momentos de pânico, bolhas especulativas ou outros fenómenos em que a psicologia dos mercados se sobrepõe claramente ao caráter pretensamente racional dos agentes. O seu sítio na WEB é um repositório de informação imenso colocado ao serviço seja dos estudiosos, seja dos mais curiosos sobre estes temas.

As suas palavras e comentários são, por isso, seguidas com atenção, pois seguramente não haverá vozes mais autorizadas para o fazer nestas matérias. Pois, Shiller no UPSHOT do New York Times escreveu há dias sobre o significado da perda de 10% observada no mercado bolsista americano na terceira semana de agosto e de outros países, correção que não deveríamos desvalorizar pois dessa natureza e segundo o próprio Shiller desde 1950 tivemos apenas 29 quedas de mercado, ainda por cima apenas 9 das quais processadas em cinco dias de abertura bolsista como o da terceira semana de agosto.

As dúvidas de Shiller assentam na possibilidade da correção observada não ter esgotado ou corrigido toda a sobreapreciação de ações que estará neste momento a ser observada. O conhecido método de Shiller para apreender os períodos de bolha financeira utiliza uma medida ciclicamente ajustada do rácio “preço das ações/dividendos”, ciclicamente ajustada porque o denominador é uma média móvel a 10 anos dos dividendos distribuídos por um conjunto de ações que integram um dado universo sob observação. A tese de Shiller é que valores muito elevados do rácio “preço das ações/divididendos” são regra geral seguidos de períodos de forte queda bolsista. E que valores de queda muito fortes observados num só dia tendem a produzir verdadeiros fenómenos de angústia bolsista que se repercutem depois em comportamentos inesperados de vendas de títulos a qualquer preço.

Está para publicação a última obra de Shiller e Akerlof na Princeton University Press, Phishing for Fools – the Economics of Manipulation and Deception” na qual os autores elaborarão por certo em torno da instabilidade psicológica do investidor em bolsa, mostrando uma vez mais que a exuberância irracional dos mercados financeiros é matéria para levar a sério e não para esconder debaixo do tapete das convicções do investidor racional e de que os mercados nunca se enganam.

Dean Baker no Beat the Press sugere que Shiller poderá estar a sobrevalorizar os valores mais elevados hoje observados no rácio “Preço de ações/dividendos” (nos EUA 27 contra os 17 de médias históricas passadas) pelo facto do risco hoje envolvido no mercado bolsista ser mais baixo do que aquele que predomina nessas séries históricas, devido sobretudo à presença no mercado de agentes (fundos sobretudo) com outra capacidade de perceção do risco. Uma outra razão diz respeito às comparativamente mais baixas taxas de juro prevalecentes no mercado que ditarão a possibilidade dos investidores em bolsa estarem dispostos a aceitar dividendos bastante mais baixos.

Não se trata de uma discussão académica em torno dos avisos de um Nobel de Economia. Trata-se sobretudo de uma questão relevante para o FED, pois a existência de uma bolha financeira em formação colocará o banco central americano em guarda relativamente ao objetivo da estabilidade dos mercados financeiros.

Muita informação para o FED processar.