(Perspetivas
em torno das contas nacionais INE 2º trimestre de 2015)
A minha interpretação é a de que paradoxalmente, isto é de modo
aparentemente favorável à maioria pelo motivo do retorno do crescimento e das
suas consequências sobre o emprego, as contas do 2º trimestre de 2015 favorecem
a posição do PS, sobretudo se for acompanhada da transmissão de ideias fortes
sobre o comportamento da economia neste trimestre.
Vou tentar justificar a minha interpretação, num contexto em que tenho de
reconhecer o PS precisa urgentemente de pontos para assumir a contagem final.
Ora o que é os dados nos oferecem de reflexão relevante?
O principal dado que a nota estatística do INE nos fornece é a fortíssima
dependência que o crescimento económico revelou face ao crescimento da procura
interna, mais propriamente do consumo privado (compra de automóveis e aceleração
do consumo de bens não duradouros e serviços). Onde é que eu já ouvi esta história?
Esse contributo para o crescimento (em termos homólogos) foi de 1,8 p.p. ao
passo que o contributo da procura externa caiu para – 1,9 p.p. Ora esta história
de crescimento não é nada favorável à maioria. Ela coloca em evidência que a
terapêutica da austeridade se limitou a introduzir penosidade e a não provocar
qualquer transformação estrutural que se veja. A prova é que a recuperação se
faz neste trimestre essencialmente à custa do consumo privado. Bastou, tal como
Reino Unido, aliviar um pouco a carga austeritária e aí está pouco
sustentadamente o consumo a tomar as rédeas do crescimento. Por conseguinte, o
discurso de que a receita da consolidação abrupta das contas públicas ou para
além do memorando que a maioria apresentou como um tratamento eficaz para
proporcionar uma recuperação mais saudável é uma treta. Mário Centeno na sua
alocução de hoje fez bem em insistir sobre esta contradição do discurso da
maioria e se Costa for hábil no debate com Passos Coelho pode encostá-lo à
parede com esta contradição de discurso. Mas atenção que algo de similar se
passou no Reino Unido e os Conservadores ganharam. A diferença é que o Reino Unido
quando inicia a recuperação não tem sobre os seus ombros a responsabilidade da
mudança estrutural que pesa sobre a economia portuguesa. Isso faz muita
diferença.
Mas o PS não pode baixar a guarda. O 2º trimestre de 2015 mostra o motivo
da minha preocupação em posts anteriores quando referia que o PS aposta na
criação de efeitos rendimento na economia para assegurar a transição entre o
curto e o médio prazo quando esses efeitos rendimento já estão de certo modo a
ser criados pela maioria com o seu alívio da torneira fiscal. O PS tem de
bater-se pela recuperação com maior incorporação de investimento e sobretudo de
investimento orientado para atividades marcadamente extrovertidas, caso contrário
terá uma recuperação do tipo da que a maioria pode oferecer neste 2º trimestre
e essa, como é visível na nota do INE, agravou o desequilíbrio externo. Bem sei
que criar efeitos estruturais de procura é bem mais complexo do que gerar efeitos
de rendimento geradores de incremento do consumo. Mas não há volta a dar nesta
matéria. Os efeitos rendimento terão de ser seletivos e sobretudo orientados
para recompor franjas de mercado interno estupida e desnecessariamente destruídas,
mas atenção que a maioria está a criá-los, aliviando a pressão fiscal para
eleitor sentir no bolso.
Os dados do 2º trimestre de 2015 oferecem ainda um motivo de desvalorização
das posições da maioria, desta vez centrados no investimento. Ora, apesar de um
crescimento homólogo de 7% em volume, o resultado obtido foi sobretudo
resultado dos stocks terem inchado. A formação bruta de capital fixo, a única
componente que interessa em termos de sustentação do crescimento a longo prazo,
desacelerou, embora crescendo neste trimestre.
Ou seja, em resumo, indicadores muito maus para a cantilena da maioria de
que a penosidade do sacrifício potenciou uma recuperação saudável. De saudável
ela tem muito pouco. Farta matéria para o PS acentuar as componentes do seu
programa que podem potenciar um arranque de crescimento mais sustentado e
retirar alguma importância aos efeitos rendimento que não aqueles expressamente
orientados para a reposição das condições mínimas de vida.
Aposto que a comunicação social vai passar ao lado destas contradições do
discurso da maioria. Cabe ao PS forçá-la a não ignorar estes argumentos. Com
mensagens claras e dirigidas. Afinal a recuperação que a maioria consegue está
cheia dos aspetos que ela acusa ir o programa do PS gerar. Marco António pode pôr
a cara de pau que entender e os óculos mais in
que encontre no mercado, negando as evidências e efabulando sobre os números do
INE, mas da contradição do discurso não
se safa não.
Os preliminares começam a aquecer.