sexta-feira, 14 de agosto de 2015

DA POSSÍVEL IRRELEVÂNCIA DA PÁTRIA DO CAPITAL


Ao fim de um longo período de quase sessenta anos sob propriedade comum da multinacional britânica Pearson PLC, aquelas que serão talvez as duas publicações económicas de maior referência mundial vão deixar de estar irmanadas, i.e., de viver debaixo do mesmo grande teto empresarial.

As vendas realizadas pelo antigo dono (a totalidade do “Financial Times” por 844 milhões de libras ao grupo japonês Nikkei Inc e 50% do “The Economist” por 469 milhões de libras maioritariamente à holding Exor da família Agnelli, que passa a deter 43,4% do respetivo capital) permitiram-lhe realizar o interessante montante de 1,313 mil milhões de libras e dar um passo importante no sentido da continuidade do seu processo de reestruturação e recentramento de negócios na área da educação digital e com algum foco em países emergentes (Brasil, em especial).

As duas operações possuem contornos bastante diferentes entre si de muitos pontos de vista, o que as torna dificilmente comparáveis e o exercício redundante neste nosso âmbito. Não obstante, há quem se lhes refira como vendas de dois ativos em relativa perda a um bom preço, no caso do “The Economist”, e a um ótimo preço, no do “Financial Times” – com efeito, para níveis de vendas próximos entre si (328 e 334 milhões de libras, respetivamente), o múltiplo de avaliação terá andado em torno de 16 vezes o EBITDA para o “The Economist” (empresa avaliada totalmente em 955 milhões, incluindo 17 milhões de dívida) e entre 28 e 35 vezes para o “Financial Times”.

Mas o mais relevante de sublinhar é o facto de estes dois bons negócios abrirem necessariamente uma nova fase na história das duas centenárias instituições. Embora nada indique que as mudanças supervenientes possam ser significativamente palpáveis, e muito menos negativas, para a comunidade dos respetivos utilizadores, o que a acontecer acabará por sinalizar que nem tudo são espinhos nos mecanismos capitalistas de funcionamento – sobretudo quando eles obedecem a lógicas refinadas pela transparência e pela qualidade estratégica e de gestão...

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