(Ainda e sempre uma questão de capacidade
empresarial)
Nas minhas cada vez mais episódicas passagens por Seixas – Caminha persiste
um ritual de algumas incursões pela cozinha galega, não propriamente
indiferenciada, pois essa é tão má ou pior como a do lado de cá, mas por alguns
exemplos de uma gastronomia intermédia entre as taperias e o restaurante mais
convencional. Normalmente inseridos no chamado rural-urbano, ou seja nas
imediações de um centro urbano de pequena dimensão, muito típicos do Minho transfronteiriço,
são experiências empresariais que apostaram na qualidade da orientação e
manufaturação gastronómica, proporcionando excelentes condições para um picar
em grupo mais que familiar. Alguns não terão resistido à efemeridade ou a um
arranque mal concebido, não preparados para a sazonalidade que grassa por estas
bandas, não se adaptando flexivelmente a essa oscilação de procura, exógena,
essencialmente de portugueses familiarizados com o picar gastronómico, ou
alimentada por algumas famílias galegas tradicionais em férias ou em digressão
de fim-de-semana. Mas as que têm resistido primam por uma qualidade gastronómica
muito elevada, sem sofisticação bacoca, mas oferecendo às pequenas porções uma qualidade
que muitas vezes é típica de verdadeira cozinha de autor.
São lugares privados, mas a nossa convivência com as suas atmosferas transforma-os
em lugares públicos, claramente identitários dos lugares em que estão inseridos,
pois eles são afinal os referenciais que marcam a nossa perspetiva sobre tais
territórios. Regra geral com uma carta de vinhos em que os albariños galegos e outros
vinhos locais de pequena produção combinam bem com alguns colossos Riojanos, de
Rueda ou de Toro, estas preciosidades fazem parte do consolo compensatório de
verões regra geral húmidos e ventosos.
Dou frequentemente comigo a interrogar-me porque é do lado de cá, por que
razão, sem necessidade de se tratar de uma réplica acéfala do picar galego, a
inventiva da capacidade empresarial não consegue gerar conceitos desta
natureza, criadoras de atmosferas similares. Creio ser mesmo um problema de défice
de capacidade empresarial, talvez com a exceção do bem conhecido Para lá
Caminha, que tem estabilizado em Moledo uma oferta típica de uma esplanada de
praia, protegido nas velhas ruínas e beneficiando do projeto arquitetónico de Alves Costa e Sérgio
Fernandes.
Não ficaria bem se não referenciasse aqui os três exemplos mais conhecidos
da imaginativa gastronómica galega: o Candil em Tomiño, O Lagar en Eiras numa
pequena povoação no Rosal e o Casa das do Correo mesmo no
centro de Goiã. Que aproveitem.
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