sábado, 15 de agosto de 2015

UM CONCEITO GASTRONÓMICO




(Ainda e sempre uma questão de capacidade empresarial)

Nas minhas cada vez mais episódicas passagens por Seixas – Caminha persiste um ritual de algumas incursões pela cozinha galega, não propriamente indiferenciada, pois essa é tão má ou pior como a do lado de cá, mas por alguns exemplos de uma gastronomia intermédia entre as taperias e o restaurante mais convencional. Normalmente inseridos no chamado rural-urbano, ou seja nas imediações de um centro urbano de pequena dimensão, muito típicos do Minho transfronteiriço, são experiências empresariais que apostaram na qualidade da orientação e manufaturação gastronómica, proporcionando excelentes condições para um picar em grupo mais que familiar. Alguns não terão resistido à efemeridade ou a um arranque mal concebido, não preparados para a sazonalidade que grassa por estas bandas, não se adaptando flexivelmente a essa oscilação de procura, exógena, essencialmente de portugueses familiarizados com o picar gastronómico, ou alimentada por algumas famílias galegas tradicionais em férias ou em digressão de fim-de-semana. Mas as que têm resistido primam por uma qualidade gastronómica muito elevada, sem sofisticação bacoca, mas oferecendo às pequenas porções uma qualidade que muitas vezes é típica de verdadeira cozinha de autor.

São lugares privados, mas a nossa convivência com as suas atmosferas transforma-os em lugares públicos, claramente identitários dos lugares em que estão inseridos, pois eles são afinal os referenciais que marcam a nossa perspetiva sobre tais territórios. Regra geral com uma carta de vinhos em que os albariños galegos e outros vinhos locais de pequena produção combinam bem com alguns colossos Riojanos, de Rueda ou de Toro, estas preciosidades fazem parte do consolo compensatório de verões regra geral húmidos e ventosos.

Dou frequentemente comigo a interrogar-me porque é do lado de cá, por que razão, sem necessidade de se tratar de uma réplica acéfala do picar galego, a inventiva da capacidade empresarial não consegue gerar conceitos desta natureza, criadoras de atmosferas similares. Creio ser mesmo um problema de défice de capacidade empresarial, talvez com a exceção do bem conhecido Para lá Caminha, que tem estabilizado em Moledo uma oferta típica de uma esplanada de praia, protegido nas velhas ruínas e beneficiando do projeto arquitetónico de Alves Costa e Sérgio Fernandes.

Não ficaria bem se não referenciasse aqui os três exemplos mais conhecidos da imaginativa gastronómica galega: o Candil em Tomiño, O Lagar en Eiras numa pequena povoação no Rosal e o Casa das do Correo mesmo no centro de Goiã. Que aproveitem.


Sem comentários:

Enviar um comentário