terça-feira, 18 de agosto de 2015

A TRANSFORMAÇÃO FALHADA DOS EMERGENTES




(Rodrik continua lúcido)

O desenvolvimento é um processo de transformação estrutural ao qual se junta um sistema de valores ou de representações normativas que mobilizam os grupos sociais e as populações. Mas a transformação estrutural é um processo indeterminado, identifica-se com um conjunto de regularidades que variam consoante os tempos históricos e que dependem das condições de partida, da dimensão, das condições de integração na economia mundial. Dani Rodrik é um grande estudioso dessas transformações estruturais, sempre equacionadas no contexto da economia global e das suas transformações.

O aparecimento das economias emergentes, tais como o Brasil, Rússia, Turquia, Índia, sobretudo com os seus vertiginosos ritmos de crescimento, veio perturbar a procura dos fundamentos do desenvolvimento económico, fazendo até esquecer os ensinamentos da primeira vaga de emergentes, com destaque para a Coreia do Sul, com o seu modelo difícil de replicar.

Sempre atento aos meandros da economia mundial, Rodrik vem questionar na sua última crónica do PROJECT SYNDICATE os fundamentos do crescimento económico destas economias, hoje ameaçadas não só pela volatilidade dos movimentos de capitais induzida pela antecipação de um novo regime de taxas de juro a partir do FED americano, mas sobretudo pela instabilidade política e corrupção que grassa por essas economias. A transformação produtiva que fez da Coreia do Sul e Taiwan casos de sucesso tem estado praticamente ausente dos fatores de crescimento, observando-se inclusivamente uma desindustrialização precoce, um salto no escuro que penaliza o ritmo de crescimento que poderia resultar de uma industrialização mais rápida. E o contexto da economia mundial, ao contrário do que aconteceu com a Coreia do Sul e Taiwan, não pode hoje proporcionar ritmos de crescimento das exportações de bens manufaturados como os que fizeram as delícias da transformação coreana e taiwanesa. E por muito potencial que tenha a exportação de serviços, sobretudo os associados às cadeias de valor globais, ela não tem proporcionado aos emergentes a rapidez de evolução desejada.

No estádio de conhecimento em que estamos hoje, a qualificação da força de trabalho, a melhoria das instituições e da governação e a transformação estrutural proporcionada pela passagem de setores de baixa produtividade para setores de alta produtividade constituem fatores seguros para proporcionar emergências mais sustentadas do que as que precipitaram as perturbações atuais.

A mensagem da crónica de Rodrik não é totalmente inútil para o caso português, ou não haverá progressos adiados na economia portuguesa no que respeita aos três fundamentos invocados por Rodrik: qualificação da força de trabalho, melhoria das instituições e da governação e transformação produtiva?

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