(Rodrik continua lúcido)
O desenvolvimento é um processo de transformação estrutural ao qual se
junta um sistema de valores ou de representações normativas que mobilizam os
grupos sociais e as populações. Mas a transformação estrutural é um processo
indeterminado, identifica-se com um conjunto de regularidades que variam
consoante os tempos históricos e que dependem das condições de partida, da
dimensão, das condições de integração na economia mundial. Dani Rodrik é um
grande estudioso dessas transformações estruturais, sempre equacionadas no contexto
da economia global e das suas transformações.
O aparecimento das economias emergentes, tais como o Brasil, Rússia,
Turquia, Índia, sobretudo com os seus vertiginosos ritmos de crescimento, veio
perturbar a procura dos fundamentos do desenvolvimento económico, fazendo até
esquecer os ensinamentos da primeira vaga de emergentes, com destaque para a
Coreia do Sul, com o seu modelo difícil de replicar.
Sempre atento aos meandros da economia mundial, Rodrik vem questionar na sua última crónica do PROJECT SYNDICATE os fundamentos do crescimento económico
destas economias, hoje ameaçadas não só pela volatilidade dos movimentos de
capitais induzida pela antecipação de um novo regime de taxas de juro a partir do
FED americano, mas sobretudo pela instabilidade política e corrupção que grassa
por essas economias. A transformação produtiva que fez da Coreia do Sul e
Taiwan casos de sucesso tem estado praticamente ausente dos fatores de
crescimento, observando-se inclusivamente uma desindustrialização precoce, um
salto no escuro que penaliza o ritmo de crescimento que poderia resultar de uma
industrialização mais rápida. E o contexto da economia mundial, ao contrário do
que aconteceu com a Coreia do Sul e Taiwan, não pode hoje proporcionar ritmos
de crescimento das exportações de bens manufaturados como os que fizeram as delícias
da transformação coreana e taiwanesa. E por muito potencial que tenha a
exportação de serviços, sobretudo os associados às cadeias de valor globais,
ela não tem proporcionado aos emergentes a rapidez de evolução desejada.
No estádio de conhecimento em que estamos hoje, a qualificação da força de
trabalho, a melhoria das instituições e da governação e a transformação
estrutural proporcionada pela passagem de setores de baixa produtividade para
setores de alta produtividade constituem fatores seguros para proporcionar emergências
mais sustentadas do que as que precipitaram as perturbações atuais.
A mensagem da crónica de Rodrik não é totalmente inútil para o caso português,
ou não haverá progressos adiados na economia portuguesa no que respeita aos três
fundamentos invocados por Rodrik: qualificação da força de trabalho, melhoria
das instituições e da governação e transformação produtiva?
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