terça-feira, 25 de agosto de 2015

NUVENS NEGRAS NO HORIZONTE


(Morten Morland, http://www.thetimes.co.uk)

Neste agosto, a maioria dos cidadãos prossegue por aí o seu ramerrão alheada de quase tudo o que a cerca (exceção feita a uns futebóis – entre o verde esperançado em Jesus, o encarnado na expectativa do Vitória e o azul a desesperar com Lotopegui – e umas telenovelas capazes de puxar pelas réstias de romantismo das mais vencidas pela desilusão e até pela atenção dos mais implacáveis durões), a maioria dos restantes vive um santo e alienante gozo de férias (com especial incidência no eixo Vilamoura-Quinta do Lago) e os escassos sobrantes levam as suas meninges aos limites quanto às melhores formas de conseguirem conduzir os portugueses a autorizar o prolongamento das suas pacóvias exibições de poder (aliás cada vez mais insignificante) ou a rejeitar tal hipótese e, consequentemente, a dar a vez a outros.

Enquanto isso, o mundo pula e avança. Ou ao revés. Porque, na realidade e a despeito de todas aquelas ignorantes ou distraídas manifestações lusitanas, crescem no mundo os sinais de uma nova crise de potencial gravidade. E se é certo que a sua origem, por uma vez desde 2008, não reside na Zona Euro e na incompetência/irresponsabilidade dos seus líderes, mas como muitos tinham avisado na China e nas suas inúmeras e explosivas contradições internas (matéria de que fizemos largo eco neste espaço e sob diversas perspetivas), não é menos certo que a Zona Euro por ela será necessariamente afetada (incluindo alguns dos mais fervorosos seguidores germanófilos, a Holanda e a Finlândia nomeadamente). Com efeito, a política europeia de crescimento (digamos assim) assenta invariavelmente, e em larguíssima medida, numa lógica de competitividade-custo com dois volets essenciais: o de uma aposta na “desvalorização interna” (ajustamentos em baixa das remunerações do fator trabalho) e o de um desejável aproveitamento por essa via de uma dinâmica da procura externa incauta e religiosamente tida por adquirida  o problema surge quando a realidade vem desmentir tão magníficos pressupostos.

Ninguém saberá prever com exatidão os contornos do que estará para vir neste nada airoso quadro. Mas seria no mínimo previdente que quem se prepara para dirigir o País nos próximos quatro anos tivesse estas evoluções em alguma conta…

(Francesco Tullio Altan, http://www.repubblica.it)

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