sexta-feira, 28 de agosto de 2015

AS SOMBRAS DE BESSA


Pode ser que seja falha minha, mas ainda não dei por qualquer resposta de Francisco Louçã, Marisa Matias e José Reis (os dois primeiros enquanto integrantes da “legião estrangeira” que no terreno “combateu ao lado de Tsipras e do Syriza, o último enquanto seu suporte no exterior, mais exatamente a partir de Coimbra) ao repto que lhes foi lançado por Daniel Bessa (DB) no seu mais recente escrito do “Expresso”: o de virem dizer se compartilham ou não que “Atenas é uma lição.. só passa quem souber, e aprende-se a dizer... austeridade.” Aliás, um desafio e peras!

Eu não desconheço a existência de várias e multifacetadas razões para que devamos ter alguma condescendência para com DB. Mas daí a branquear covardemente pelo silêncio, como a maioria dos que o foram podendo ver em ação desde que há cinquenta anos entrou na Faculdade de Economia do Porto (FEP), vai uma larga distância. Que me recuso a percorrer por alma de uma compaixão que só teria real cabimento religioso e se não confrontada com a disfarçada insolência provocatória com que tão distinto professor proclama hoje as “verdades” que ontem refutava. Um caso perfeito para aplicação daquela pergunta que o Sérgio Godinho consagrou: “pode alguém ser quem não é?”.

Como é sabido, o maior fracasso público e notório de DB foi o de, após ter conseguido chegar a ministro, só ter aguentado o lugar durante menos de cinco meses. Incapaz de assumir os erros, sobretudo relacionais e organizacionais, que induziram esta situação, DB preferiu optar por voltar a “mudar de vida”. E foi assim que o professor – aliás, a sua presença na sala de aula é, de longe, a sua melhor faceta – se foi livrando das sucessivas vestes de ocasião que fora adotando (aos comandos da FEP em nome de abril, enquanto compagnon de route do PCP, doutorando-se revoltosamente no ISEG, exercendo funções de consultor sindical ou até como porta-voz do PS), voltando, conforme foi podendo, às suas melhores origens político-ideológicas. Origens que tinham por obediente referência, na marcante época que precedeu 1974, o então diretor da FEP (Fernando Seabra, um alinhado salazarista) e o seu chefe de cadeira (o ortodoxo, teoricamente limitado mas eficiente assistente da Teoria dos Custos e da Teoria dos Preços que foi Alberto Pedroso). E o certo é que, quase vinte anos passados, ninguém poderá negar que a tática escolhida teve uma exemplar efetividade, seja em termos de proventos financeiros, de lugares ocupados, de visibilidade pública e – como se vai crescentemente observando – de vinganças que aquele protagonista se vai comprazendo a servir frias (ou a pensar que o faz como tal).

Mas voltemos ao assunto propriamente dito. Entenderá mesmo DB que poderão surgir resultados do programa que Tsipras e o Syriza foram forçados a aceitar? E lembrar-se-á ele dos dois anteriores programas impostos e executados entre o PASOK e a Nova Democracia? Até que ponto será o dito um adepto da "austeridade expansionista"? E até que ponto acreditará sinceramente no determinismo, embora despido de estalinismos, do “fim da história” com que trata a última “capitulação” grega e essa malfadada e conformista ideia de que there is no alternative (TINA)? Será irrelevante dizê-lo, mas se querem que lhes diga o que eu sei é que DB sabe mais do que se permite dizer e, portanto, o que eu tendo a entender é que os seus piores instintos o meteram num irremediável teatro de sombras...

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