quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A QUESTÃO DEMOGRÁFICA MUNDIAL



(Onde para uns se desenha uma preocupação, para outros discutem-se as vantagens de finalmente a população mundial estabilizar)

A publicação pelas Nações Unidas de novas e exaustivas projeções demográficas (a página WEB de suporte é notável pela riqueza e diversidade de meios de acesso ao leitor mas indiferenciado e vale seguramente uma visita de observador acidental) vem de novo colocar os cenários demográficos no centro da reflexão.

Robin Harding, no Financial Times, não tem dúvidas em classificar o que se avizinha de fim do pesadelo malthusiano (The end of the Malthusian nightmare), sobretudo pelas possibilidades que as novas projeções abrem aos países menos desenvolvidos e fortemente atingidos pela explosão demográfica das últimas décadas. Não é que se esteja perante um estancamento demográfico. A reflexão é sobretudo realizada em função do comportamento de recuo significativo que a taxa de fertilidade total apresenta, mesmo nos países protagonistas da explosão demográfica dos últimos duzentos anos. Países como o Irão e o México apresentam hoje taxas de fertilidade incomparavelmente mais baixas, o Irão com 1,75 abaixo do nível de reprodução simples e o México apenas ligeiramente acima desse valor, com 2,27. Até a Índia apresenta hoje uma TFT de 2,48 crianças por mulher em idade ativa de procriação, anunciando-se para breve valores em torno do limiar de reprodução da população. As reduções observadas são consequências de campanhas e políticas públicas de regulação da natalidade, mas são também o resultado do processo de urbanização e do novo estatuto que esse processo tende a conceder à mulher, mesmo considerando que nesses países esses fenómenos acontecem com um desfasamento temporal significativo face a idênticos processos nas economias maduras.

O reverso desta medalha situa-se na mais que maturidade ocidental, onde os fenómenos de queda de população até 2050 terão de ser corretamente antecipados e ser objeto de ajustamentos da organização social. Entre os 48 países que verão a população decrescer até 2050 estarão por certo muitos países europeus e a estimativa para Portugal também aponta nesse sentido. A variante média de projeção (curva a vermelho) aponta para que Portugal entre 2060 e 2070 atinja a população total de 1950, ou seja algo menos que os 8,5 milhões de indivíduos. De acordo com a ONU, só em 2050 o crescimento da população com mais de 65 anos terá uma inversão, depois de ter atingido, estima-se cerca de 3,2 milhões de idosos estatísticos.

Deixo-vos com mais alguns gráficos de projeções, comparando por exemplo a evolução da população total para três grupos de países, alto, médio e baixo rendimento.



Não é preciso ser adivinho para antecipar o impacto real que estas dinâmicas irão ter por certo nas migrações internacionais, isto se os ranhosos dos Cameron deste mundo não começarem a erguer muros por esse mundo fora.

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