(Onde para uns se desenha uma preocupação, para
outros discutem-se as vantagens de finalmente a população mundial estabilizar)
A publicação pelas Nações Unidas de novas e exaustivas projeções demográficas
(a página WEB de suporte é notável pela riqueza e diversidade de meios de
acesso ao leitor mas indiferenciado e vale seguramente uma visita de observador
acidental) vem de novo colocar os cenários demográficos no centro da reflexão.
Robin Harding, no Financial Times, não tem dúvidas em classificar o que se
avizinha de fim do pesadelo malthusiano (The end of the Malthusian
nightmare), sobretudo pelas
possibilidades que as novas projeções abrem aos países menos desenvolvidos e
fortemente atingidos pela explosão demográfica das últimas décadas. Não é que se
esteja perante um estancamento demográfico. A reflexão é sobretudo realizada em
função do comportamento de recuo significativo que a taxa de fertilidade total
apresenta, mesmo nos países protagonistas da explosão demográfica dos últimos
duzentos anos. Países como o Irão e o México apresentam hoje taxas de
fertilidade incomparavelmente mais baixas, o Irão com 1,75 abaixo do nível de
reprodução simples e o México apenas ligeiramente acima desse valor, com 2,27. Até
a Índia apresenta hoje uma TFT de 2,48 crianças por mulher em idade ativa de
procriação, anunciando-se para breve valores em torno do limiar de reprodução
da população. As reduções observadas são consequências de campanhas e políticas
públicas de regulação da natalidade, mas são também o resultado do processo de
urbanização e do novo estatuto que esse processo tende a conceder à mulher,
mesmo considerando que nesses países esses fenómenos acontecem com um
desfasamento temporal significativo face a idênticos processos nas economias
maduras.
O reverso desta medalha situa-se na mais que maturidade ocidental, onde os fenómenos
de queda de população até 2050 terão de ser corretamente antecipados e ser
objeto de ajustamentos da organização social. Entre os 48 países que verão a
população decrescer até 2050 estarão por certo muitos países europeus e a
estimativa para Portugal também aponta nesse sentido. A variante média de
projeção (curva a vermelho) aponta para que Portugal entre 2060 e 2070 atinja a
população total de 1950, ou seja algo menos que os 8,5 milhões de indivíduos. De
acordo com a ONU, só em 2050 o crescimento da população com mais de 65 anos terá
uma inversão, depois de ter atingido, estima-se cerca de 3,2 milhões de idosos
estatísticos.
Deixo-vos com mais alguns gráficos de projeções, comparando por exemplo a
evolução da população total para três grupos de países, alto, médio e baixo
rendimento.
Não é preciso ser adivinho para antecipar o impacto real que estas dinâmicas
irão ter por certo nas migrações internacionais, isto se os ranhosos dos
Cameron deste mundo não começarem a erguer muros por esse mundo fora.
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