quarta-feira, 5 de agosto de 2015

AINDA A DICOTOMIA EMPREGO-DESEMPREGO




(Vasta matéria para a batalha interpretativa eleitoral)

A publicação pelo INE das Estatísticas do Emprego relativas ao 2º trimestre de 2015 vem completar o pano de fundo de conflitualidade interpretativa entre a maioria e a oposição que as estimativas mensais aqui comentadas em post anterior tinham iniciado. O material relativo ao 2º trimestre permite juízos mais aprofundados relativamente à controvérsia gerada pela revisão das estimativas mensais, mas o padrão de conflitualidade mantem-se e prolongar-se-á por certo para períodos mais próximos da campanha eleitoral. E esse padrão de conflitualidade é o seguinte: enquanto que a maioria trabalhará essencialmente o comportamento favorável da taxa de desemprego, a oposição tenderá a explorar as entrelinhas do destaque agora publicado. O material disponível é vasto e diversificado.

Se nos reportarmos ao pico observado na transição entre 2012 e 2013, a taxa de desemprego parece assumir finalmente um padrão descendente consistente depois do agravamento observado nos dois últimos trimestres, ou seja, música para a maioria tocar até à saciedade, correndo o risco de degradar o dispositivo de som. Se, pelo contrário, seguirmos o comportamento da taxa de emprego, parece que o 1º trimestre de 2013 iniciou uma tendência consistente de subida interrompida nos dois últimos trimestres de 2014, embora situando-se hoje ainda abaixo da taxa de emprego observada no 1º trimestre de 2011, explicando a tónica da destruição de emprego que o PS tem colocado na denúncia do triunfalismo laboral da maioria.


É relevante assinalar que o INE publica pela primeira vez os fluxos absolutos de transição de indivíduos entre os três estádios fundamentais de presença no mercado de trabalho, observada entre o 1º e o 2º trimestre de 2015: empregado, desempregado e inativo. Os resultados publicados apontam para uma realidade que reforça o panorama mais positivo que vai sendo anunciado pelos dados. É assim positivo reconhecer que as novas entradas registadas na situação de população empregada, estimada em 351.100 pessoas, ser proveniente em volume superior de situações de inatividade (176.300 pessoas) relativamente às que passaram do desemprego a emprego (174.800 pessoas). Inversamente, a destruição de emprego observada entre os dois trimestres (247.400 pessoas) teve por destino em maior número a inatividade (144.100 pessoas) do que a do desemprego (103.200 pessoas). E também ao nível da dinâmica do desemprego há novidades: o número de pessoas que saiu da situação de desemprego foi superior às entradas nessa situação (293.200 versus 200.700 pessoas), sendo essa dinâmica essencialmente registada entre emprego e desemprego com as relações desemprego-inatividade e inatividade-desemprego a registarem uma menor expressão. Embora sem demonstração rigorosa que o permita afirmar com convicção, os dados sugerem que está em decréscimo o fenómeno induzido pela crise de saídas do mercado de trabalho para a inatividade, com reflexos sérios na formação do produto potencial da economia.

Uma outra constatação com laivos de regresso à normalidade estrutural (não necessariamente positiva) é o comportamento das taxas de desemprego por região NUTS II, com o Centro (8,5%) e o Algarve (10,8) a apresentarem taxas próprias (face ao passado) de situações de recuperação económica.

Finalmente, a exploração dos quadros de emprego e desemprego continua a permitir a conflitualidade interpretativa de sempre entre valores absolutos e taxas de variação. Expliquemo-nos: o número de trabalhadores por conta de outrem com contrato a termo continua elevado (698.800 trabalhadores) e a subir, mas a população empregada total a tempo parcial está a descer (572.000 no 2º trimestre de 2015) e a que está empregada a tempo completo está a aumentar (4.008.800 indivíduos no 2º trimestre de 2015); o subemprego de trabalhadores a tempo parcial embora a descer é ainda elevado (242.800 pessoas, equivalentes a 5,3% da população empregada total); os inativos disponíveis que não procuram emprego é ainda significativo (242.900 pessoas), mas descendo em relação ao 1º trimestre; o desemprego de longa duração, embora ainda elevado (397.000 indivíduos) parece finalmente iniciar em termos homólogos e nos últimos três trimestres uma tendência descendente. Recorde-se ainda que os 835.800 indivíduos estimados como trabalhadores por conta própria continua a ser uma categoria muito opaca

Resumindo, vasto espaço para olhares diferentes, cabendo à arte da argumentação política transformar estes dados em diferenciação eleitoral. O que convém não escamotear é que o estado dos indivíduos perante o mercado de trabalho (empregado ou desempregado) constitui, nas condições de proteção social cada vez mais debilitada, uma dicotomia de largo espectro de consequências. E continuamos a não ter uma estimativa isenta de dificuldades do desemprego estrutural (incompressível) da economia portuguesa. O valor de 11,9% registado neste trimestre não estará provavelmente longe desse valor do desemprego estrutural, o que nos deveria fazer pensar um pouco como superar esse bloqueamento.

Sem comentários:

Enviar um comentário