(Vasta matéria para a batalha interpretativa
eleitoral)
A publicação pelo INE das Estatísticas do Emprego relativas ao 2º trimestre de 2015 vem completar o pano de fundo de conflitualidade interpretativa entre a
maioria e a oposição que as estimativas mensais aqui comentadas em post
anterior tinham iniciado. O material relativo ao 2º trimestre permite juízos
mais aprofundados relativamente à controvérsia gerada pela revisão das
estimativas mensais, mas o padrão de conflitualidade mantem-se e prolongar-se-á
por certo para períodos mais próximos da campanha eleitoral. E esse padrão de
conflitualidade é o seguinte: enquanto que a maioria trabalhará essencialmente
o comportamento favorável da taxa de desemprego, a oposição tenderá a explorar
as entrelinhas do destaque agora publicado. O material disponível é vasto e diversificado.
Se nos reportarmos ao pico observado na transição entre 2012 e 2013, a taxa
de desemprego parece assumir finalmente um padrão descendente consistente
depois do agravamento observado nos dois últimos trimestres, ou seja, música
para a maioria tocar até à saciedade, correndo o risco de degradar o
dispositivo de som. Se, pelo contrário, seguirmos o comportamento da taxa de
emprego, parece que o 1º trimestre de 2013 iniciou uma tendência consistente de
subida interrompida nos dois últimos trimestres de 2014, embora situando-se
hoje ainda abaixo da taxa de emprego observada no 1º trimestre de 2011,
explicando a tónica da destruição de emprego que o PS tem colocado na denúncia
do triunfalismo laboral da maioria.
É relevante assinalar que o INE publica pela primeira vez os fluxos
absolutos de transição de indivíduos entre os três estádios fundamentais de
presença no mercado de trabalho, observada entre o 1º e o 2º trimestre de 2015:
empregado, desempregado e inativo. Os resultados publicados apontam para uma
realidade que reforça o panorama mais positivo que vai sendo anunciado pelos
dados. É assim positivo reconhecer que as novas entradas registadas na situação
de população empregada, estimada em 351.100 pessoas, ser proveniente em volume
superior de situações de inatividade (176.300 pessoas) relativamente às que
passaram do desemprego a emprego (174.800 pessoas). Inversamente, a destruição
de emprego observada entre os dois trimestres (247.400 pessoas) teve por
destino em maior número a inatividade (144.100 pessoas) do que a do desemprego
(103.200 pessoas). E também ao nível da dinâmica do desemprego há novidades: o
número de pessoas que saiu da situação de desemprego foi superior às entradas
nessa situação (293.200 versus 200.700 pessoas), sendo essa dinâmica
essencialmente registada entre emprego e desemprego com as relações
desemprego-inatividade e inatividade-desemprego a registarem uma menor
expressão. Embora sem demonstração rigorosa que o permita afirmar com
convicção, os dados sugerem que está em decréscimo o fenómeno induzido pela
crise de saídas do mercado de trabalho para a inatividade, com reflexos sérios
na formação do produto potencial da economia.
Uma outra constatação com laivos de regresso à normalidade estrutural (não
necessariamente positiva) é o comportamento das taxas de desemprego por região
NUTS II, com o Centro (8,5%) e o Algarve (10,8) a apresentarem taxas próprias
(face ao passado) de situações de recuperação económica.
Finalmente, a exploração dos quadros de emprego e desemprego continua a
permitir a conflitualidade interpretativa de sempre entre valores absolutos e
taxas de variação. Expliquemo-nos: o número de trabalhadores por conta de
outrem com contrato a termo continua elevado (698.800 trabalhadores) e a subir,
mas a população empregada total a tempo parcial está a descer (572.000 no 2º
trimestre de 2015) e a que está empregada a tempo completo está a aumentar
(4.008.800 indivíduos no 2º trimestre de 2015); o subemprego de trabalhadores a
tempo parcial embora a descer é ainda elevado (242.800 pessoas, equivalentes a
5,3% da população empregada total); os inativos disponíveis que não procuram
emprego é ainda significativo (242.900 pessoas), mas descendo em relação ao 1º
trimestre; o desemprego de longa duração, embora ainda elevado (397.000
indivíduos) parece finalmente iniciar em termos homólogos e nos últimos três
trimestres uma tendência descendente. Recorde-se ainda que os 835.800
indivíduos estimados como trabalhadores por conta própria continua a ser uma
categoria muito opaca
Resumindo, vasto espaço para olhares diferentes, cabendo à arte da
argumentação política transformar estes dados em diferenciação eleitoral. O que
convém não escamotear é que o estado dos indivíduos perante o mercado de
trabalho (empregado ou desempregado) constitui, nas condições de proteção
social cada vez mais debilitada, uma dicotomia de largo espectro de
consequências. E continuamos a não ter uma estimativa isenta de dificuldades do
desemprego estrutural (incompressível) da economia portuguesa. O valor de 11,9%
registado neste trimestre não estará provavelmente longe desse valor do
desemprego estrutural, o que nos deveria fazer pensar um pouco como superar
esse bloqueamento.
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