quinta-feira, 13 de agosto de 2015

PINCELADAS NORUEGUESAS (IV)

(Nicholas Lund, in “The Social Guidebook of Norway – An Illustrated Introduction” e Jenny K. Blake, in “The Norway Way”)

Já o disse em outro post, a sociedade norueguesa estará talvez, tudo visto e ponderado, ao nível do mais próximo da perfeição que pode ser concebível no presente horizonte organizacional de comunidades humanas. O que já por cá se vai intuindo e talvez ajude a explicar que a emigração portuguesa registe um notável crescendo para aquelas paragens (aumento de 400% de atos consulares no ano transato e segundo maior destino depois do Reino Unido, estimando-se já em 9 mil cidadãos portugueses por lá radicados).

Mas, perguntar-se-ão os mais críticos, e não haverá falhas nem defeitos de fabrico? Bom, essas e esses também necessariamente os há. Quanto a caraterísticas pessoais, elejo três aspetos que me foram mais repetidamente apontados e que julgo estarem genialmente caricaturadas nas ilustrações que abrem este post: o individualismo exacerbado, que resulta frequentemente num elemento impeditivo de relações pessoais e profissionais normais e salutares; o ascetismo e o culto da natureza, que conduzem a algumas perversões na dimensão laboral, da minimização dos horários de trabalho à maximização dos períodos de descanso; a tónica no igualitarismo, que tem como consequência cidadãos com um comprometimento limitado em ambição, deste decorrendo inevitáveis reflexos perniciosos em termos competitivos. Haverá ainda que considerar os fervores nacionalistas, sempre uma faca de dois gumes (hiperbolicamente, veja-se o do cartaz abaixo fotografado numa loja do aeroporto referindo que o bacalao é deles! – eles, que nada mais são do que o melhor local de captura, vêm de carrinho para nós que somos únicos a tratar a dita espécie e a cozinhá-la de mil e uma maneiras). Diga-se, por fim, que nem tudo são rosas também no plano político-diplomático, como pode ser comprovado por alguns incidentes relacionados com retiradas de tutela paternal aos pais de crianças de nacionalidade estrangeira alegadamente acusados de práticas educativas incompatíveis com as lógicas locais ou o surdo conflito diplomático entre a China e a Noruega na sequência da atribuição do Prémio Nobel da Paz de 2010 ao dissidente chinês Liu Xiaobo.



E basta de “norueguices”. Foi bom observar o observado mas, por paradoxal e até contraditório que pareça, a minha/nossa verdade acaba sempre por ser a de que nada pode sobrepor-se à insubstituível condição de tuga – porque nem tudo é material e racional na vida dos homens e, também, porque nem tudo o que luz é ouro...

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