segunda-feira, 31 de agosto de 2015

COSTA NA TERRA DOS JESUÍTAS


No último domingo de agosto a rentrée do PS a norte veio ao encontro do meu refúgio tirsense. E lá tirei o meio-fim da tarde para ir sentir o ambiente e ouvir o António Costa.

A mobilização e o entusiasmo ficaram-se pelo q.b., mas este modelo em que insistem os grandes aparelhos partidários também já não tem muito a oferecer. Acredito cada vez menos que tal tipo de iniciativas sirva a alguém que não aos profissionais dos sindicatos internos de voto, do financiamento dos partidos e da carpintaria no terreno. Quem maioritariamente se desloca são os localmente instados ou “obrigados”, os candidatos e seus mais próximos apaniguados e as personalidades que têm de ir mostrar a cara. Além da comunicação social que, já conhecendo os truques e com as fontes ali à mão, faz a coisa com pouco e assim se poupa a grandes esforços. Em suma, pessoalmente não consigo minimamente acreditar que haja alguém que tenha vacilado nas suas convicções de voto por via da sua presença neste comício ou da sua tomada de conhecimento sobre o que por lá se foi dizendo.

Dito isto, não deixa de ter significado sublinhar que Costa – cujas prestações têm vindo a melhorar e a mostrar-se gradualmente mais afinadas – esteve bem no essencial. Antecedido por um Carlos César encarregado de dar o mote da combatividade e da renovação (quer quanto aos ataques diretos a Rangel e a uma Coligação que precisa de “ir às boxes”, quer sobretudo quanto a um tardio e quase afirmativo discurso assente na ideia de um “novo PS” que aprendeu e se rejuvenesceu), Costa parece querer enveredar por um caminho de maior eficácia, abandonando alguma pastosidade e tecnicidade de conversa em benefício de uma maior frontalidade e propositura.

E o que disse Costa? Que fez o trabalho de casa (definição estratégica, compromissos credíveis, contas feitas, equipa renovada). Que não vem só para “correr com eles” mas sobretudo para mostrar que há outro caminho, fazendo diferente e melhor. Que confrontará sem limites tudo quanto ponha em risco a solidez da textura de solidariedade intergeracional que por cá se forjou. Que localiza no emprego a causa das causas. Que tem sob mira a sangria da emigração, a quebra de rendimento das famílias e a asfixia das empresas. Que, e por fim, quatro tópicos o distinguem de Passos e Portas: ele pretende virar a página da austeridade em lugar de a fazer prosseguir; ele vê o desenvolvimento do País com base no conhecimento e na inovação em vez do empobrecimento e da precariedade; ele aposta na qualidade da natureza pública da Segurança Social, da Saúde e da Educação contra o tudo privatizar rapidamente e em força; ele visa restaurar a dignidade nacional através da defesa do interesse de Portugal na Europa ao invés de aceitar passivamente a continuação de uma postura de submissão no quadro europeu.

À distância de mais de um mês para o decisivo 4 de outubro, muitos imprevistos e surpresas podem e irão ainda acontecer. Resta esperar, a bem do equilíbrio material e mental dos portugueses e do País no seu conjunto, que Costa não caia em novas tentações e que assim se foque em prosseguir o mais recente caminho que adotou de afinamento do seu único papel útil de líder e ativo estratégico de uma alternativa à indecência dos interesses escondidos.

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