(Curta
reflexão a partir do Funchal)
O título da crónica de hoje não se deve ao facto de ser escrita a partir do
Funchal onde a amenidade húmida do clima continua a fazer as delícias dos homens
do Norte da Europa que a visitam. E só indiretamente tem que ver com a Conferência
crucial que nos próximos dias se realiza em Paris, em busca de um consenso
mundial operativo e não apenas um consenso do fazer de conta e as gerações futuras
que resolvam o problema se tiverem tempo para isso.
O título é sugerido pelo bom clima de ter ouvido logo de manhãzinha na Antena
1 o meu amigo João Pedro Matos Fernandes (JPMF), agora na qualidade de ministro
do Ambiente do governo de António Costa, entrevistado a partir de Paris onde
teve a sua experiência ministerial iniciativa. Um discurso sóbrio, informado,
competente, bem preparado, comunicando bem, enfim uma manifestação simbólica de
como o governo de Costa está a começar a bem e com confiança. O JPMF conhece
muito bem o dossier do ambiente e tem intuição política e por isso senti um bom
clima, embora o tema da Conferência de Paris nos deva arrepiar a todos, dada a
transcendência das questões aí em jogo, sobretudo para a geração dos nossos
netos.
Deixei a memória divertir-se e dei comigo a recordar bem lá atrás no tempo
uma outra experiência ministerial iniciática, essa bem mais traumática. Um dia,
de passagem pelo aeroporto de Lisboa em direção a uma qualquer cidade europeia
que já não consigo identificar, encontrei alguém da cidade do Porto, no meio de
um hall do aeroporto, como que perdido na multidão, esperando não sabia eu o quê.
Tratava-se alguém que havia tomado posse como ministro da Defesa há curtos dias
e com o qual eu tinha algum relacionamento de trabalho, mas não na matéria à
qual o novo ministro de um governo PSD estava agora ligado. Perguntei ingenuamente
a que se devia aquela espera, ali isolado e perdido. O novo ministro deslocava-se
também para uma cidade europeia para discutir com os americanos a então chamada
Guerra das Estrelas. Rapidamente percebi a postura e o isolamento do personagem.
Era uma salto demasiado grande.
O mesmo não se passa com o novo ministro do Ambiente. O discurso de hoje de
manhã do JPMF era de alguém que está bem identificado com os problemas e que não
poderia ter melhor experiência iniciática.
Já no avião para o Funchal, dei comigo a ler no Le Monde um excelente artigo de Jared Diamond, um resumo científico excelente da “maca” que o mundo
tem entre mãos e sobre o qual se espera finalmente um eco de decisão política à
altura da dimensão e complexidade do problema.
No artigo de Jared Diamond apercebemo-nos de um esquema global de compreensão
do problema que parte do princípio que as relações expostas de causa e efeito são
lineares. Mas não deixa de referir que o problema são as relações não lineares.
Bom clima, mau clima.