(Ou como estou
cada vez mais fascinado pela história económica)
Se há coisa certa que retirei da crise de 2007-2008
e da sua agónica recuperação foi que sabia pouco da Grande Depressão de 1929-1930.
À medida que fui mergulhando nas explicações para o que muitos economistas começaram
a designar de A Grande Recessão para
a distinguir dos acontecimentos de 1930, fui compreendendo que o confronto entre
os dois acontecimentos recessivos e sobretudo a interpretação comparada da política
económica e monetária por eles suscitada exigia uma cultura mais sólida e um
saber mais diversificado sobre a economia dos anos 30.
Eu sei que este fascínio pela história económica das crises
pode ser pouco motivador para um economista acomodado e limitado à realidade
portuguesa. As crises aqui vividas são sempre um reflexo muito indireto do que
se vai passando pelas economias de grande escala. Só uma grande motivação
intelectual nos pode levar a mergulhar em realidades económicas que tornam a
comparação com a realidade portuguesa num exercício quase sempre arriscado.
Em algumas leituras dispersas de alguns dos volumes dos Collected Writings de John Maynard Keynes
já me tinha apercebido da importância do relacionamento que é possível
identificar entre o próprio Keynes e o Presidente (este merece um P grande,
muito grande) Franklin Roosevelt para compreendermos a superação dos problemas
dos anos 30. Decidi aprofundar essa questão e a Amazon UK, para mal das nossas
contas bancárias, coloca-nos facilmente pela influência de um clique e de
alguns dias de espera na ponta da produção mais recente.
É este o caso de “THE MONEY MAKERS
– How Roosevelt and Keynes Ended the Depression, Defeated Fascism and Secured a
Prosperous Peace” de Eric Rauchway, professor de história económica
na Universidade da Califórnia, Davis, com edição da Basic Books de Nova Iorque.
Estou em pleno mergulho nessa obra e espero que ela me surpreenda. É curioso
que a obra começa pela corajosa decisão de Roosevelt de fazer a economia americana
abandonar o sistema de padrão ouro, então apontado por Keynes e outros economistas
como a principal causa das forças deflacionárias que dominavam a economia dos
mais poderosos.
Estou também a contar recolher nesta obra elementos para
um dos meus interesses vitais de momento, compreender como é que as ideias económicas
logram umas vezes interagir e convencer os políticos e outras vezes são
rejeitadas apesar de todas as evidências apontarem para a bondade da decisão de
as aceitar e aplicar à prática da política económica. É uma questão crucial para
os dias de hoje e é por isso que um parágrafo do Money Makers de Rauchway me atraiu desde já a atenção, permitindo
alimentar algumas expectativas:
“Roosevelt tinha
muito mais em conta as ideias económicas do que os historiadores alguma vez
pensaram, assim como Keynes estava muito mais sintonizado com as matérias práticas
do poder. Trabalhando em conjunto, concretizaram uma revolução na política monetária
que acabou com êxito com a Grande Depressão, lançou as bases para a vitória
sobre o fascismo e abriu caminho à paz próspera que se seguiu.”
Um político de eleição combinado com um economista de grande rigor teórico
mas com perceção dos mecanismos do poder. Uma espécie de conjunção favorável de
astros que é difícil repetir?
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