Breve chamada de atenção para uma curiosa troca de galhardetes no “Financial Times” (jornal e online) de ontem. O seu editor europeu Tony Barber veio denunciar, aliás com um alarmismo que não lhe é habitual, o regresso das grandes nações laxistas da Zona Euro (França, Itália e Espanha) a vias de incumprimento de regras (sempre os velhos défices) – a expressão que usa é are at it again. Poucas horas depois, o signatário da sua newsletter diária de economia Martin Sandbu riposta e procura repor o assunto no que entende ser o são: sublinhando que “o propósito das regras é tornar as finanças públicas sustentáveis” e que “na situação económica corrente, orçamentos expansionistas constituem um modo inteiramente apropriado de o conseguir através do relançamento de um crescimento sólido”, conclui então que “o que parece ser uma quebra de regras pode muito bem honrar as regras ao torná-las melhores dessa forma”.
Até certo ponto, esta troca ilustra um sinal de mudança nos tempos e modos europeus. Com os arautos da ortodoxia a todo o custo a cederem o passo – ainda que devagar, devagarinho... – em relação a posições bem mais razoáveis e flexíveis. Já aqui tive oportunidade de referir evoluções nesse sentido por parte de italianos e franceses (exploração de margens ou algo mais?), mas o caso espanhol será mais complexo e escandaloso: é que já ninguém ousa negar quanto Rajoy e De Guindos vão logrando das chamadas “autoridades europeias” em fechos de olhos dombrovskisianos ou em costas junckerianas viradas (sem esquecer ainda os tapados ouvidos moscovicianos) quando se trata de enfrentarem como deviam o claro desvio de Madrid face aos compromissos assumidos – tudo porque a Espanha vai ter eleições em dezembro e o medo dos principais mandantes do PPE é demasiado quanto a hipotéticos cenários sem Rajoy delas resultantes num país daquela dimensão. Mas regras são regras, pois claro...
(Farrugo, http://www.eleconomista.es)
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