(Mais um
gigante que desaparece …)
“Instituições são os
constrangimentos humanamente inventados que estruturam a interação política,
económica e social. São constituídas seja por restrições informais (sanções, tabus,
costumes, tradições e códigos de conduta), seja por regras formais (constituições,
leis, direitos de propriedade). Ao longo da história, as instituições foram
inventadas pelos seres humanos para criar ordem e reduzir a incerteza na troca.
Conjuntamente com as restrições-padrão da economia, definem o conjunto de escolhas
e determinam por isso os custos de transação e de produção e por conseguinte a lucratividade
e a viabilidade de envolvimento na atividade económica. Evoluem incrementalmente,
ligando o passado com o presente e com o futuro; a história é, por consequência,
em grande medida um registo da evolução institucional na qual o desempenho histórico
das economias só pode ser compreendido como parte de uma história sequencial. As
instituições fornecem a estrutura de incentivos a uma economia; à medida que
essa estrutura evolui, ela formata a direção da mudança económica em direção ao
crescimento, à estagnação ou ao declínio, Neste ensaio, pretendo elaborar
pensamento sobre o papel das instituições no desempenho das economias e ilustrar
a minha análise a partir da história económica”.
Douglass North, “Institutions”, Journal of Economic Perspectives, volume
5, nº1, inverno de 1991
Passou algo despercebido o desaparecimento de Douglass North lá para as
profundezas do Michigan, com 95 anos. O parágrafo que abre este post sintetiza
uma das mais intrigantes matérias que sempre despertaram em mim um atração
permanente. No fundo o que está para além do económico e que é crucial para
compreender os mesmos comportamentos económicos. O conceito muito peculiar de
instituições que North trouxe à economia surgiu aos meus olhos por via do
estudo do crescimento económico e sobretudo pelo seu artigo de 1971, “Institutional
Change and Economic History”, no The
Journal of Economic History. Restrições e regras que estruturam a interação
económica, política e social e que são uma construção humana. Fascinante.
A passagem de 1991 retirada de um artigo publicado no Journal of Economic Perspectives é um prolongamento de uma obra máxima,
Institutions, Institutional Change, and Economic Performance publicada na Cambridge University Press e
que ainda receberia novo impulso em 2005 com Understanding
the Process of Economic Change da Princeton UNiversity Press.
Sou dos que entende que a economia
portuguesa pelo facto de ser hoje o resultado de uma transformação de 40 anos
de uma economia agrilhoada pelo condicionamento do fascismo, no que ele tem de
realidade global, imbricada entre o social, o político e o económico ganha novas
perspetivas de leitura quando é compreendida à luz dos ensinamentos de North e do
seu peculiar entendimento do que as instituições são e representam. O
institucionalismo económico é daquelas correntes de pensamento histórico e económico
que embora preciosas para desmontar os limites do mainstream económico nunca
conseguiu impor-se como paradigma alternativo. Mas isso não significa que não se
abra a nossa reflexão e análise a tão eloquente perspetiva do tempo longo e da
evolução incremental das sociedades, incluindo processos de apogeu e de declínio.
É verdade que as ideias sobrevivem aos seus
autores, mas a interlocução não será mais a mesma.
Sem comentários:
Enviar um comentário