quarta-feira, 18 de novembro de 2015

AS AUDIÇÕES




(Princípio de rábula)

Consta que uma lista interminável de associações, federações e outros coletivos fazem fila à porta de Belém, não para adorar o Deus menino, mas para se pronunciarem sobre a situação política atual e ajudarem um perturbado presidente. A ANCDP (Associação Nacional dos Canhotos Deste País) preparada para glorificar a viragem à esquerda, a ANFAA (Associação Nacional das Famílias Assim-Assim) esperançada em contrapor a sua posição à das Famílias Numerosas e assim repor a verdadeira representação das famílias portuguesas, a FPEPA (Federação dos Produtores de Ervas e Plantas Aromáticas) que vai defender a liberalização dos costumes em matéria de consumos menos ortodoxos, a AMPC (Associação de Moradores da Praia da Coelha) que espera com o regresso de Cavaco aos Algarves ter de uma vez por todas uma representação condigna, a MADQQNGC (a meta–associação dos que não gostam de Costa) que tudo fará para evitar a chegada do mesmo ao poder, o GAGG (Grupo dos Amantes dos Governos de Gestão) interessado em demonstrar a constitucionalidade dos seus representados, a ANAMP (Associação Nacional dos Amigos e Montadores de Presépios), decididos a prestar uma última homenagem à sua padroeira Maria, lideram uma fila interminável inebriados por esta possibilidade de se substituírem ao Parlamento e aos maus da fita que o povoam na indigitação e formação do novo Governo.

Consta ainda que Ricardo Salgado foi visto nessa fila interminável, com a devida autorização judicial e com recomendação específica de Cavaco, na tentativa de se juntar ainda ao grupo de sete banqueiros e preparado para explicar ao Presidente que a culpa da informação precipitada prestada então aos então ainda não lesados BES pelo “nunca me engano” presidente não foi dele mas do governador do Banco de Portugal e do seu arqui-inimigo e antigo colega de trabalho presidente da CMVM.

A acusação que grassa por aí que a democracia portuguesa se aburguesou e esqueceu os meandros e princípios mais básicos e envolventes da democracia participativa está a ser veemente contestada pelos que fazem fila prolongada à porta de Belém num exercício de forte vitalidade do espírito de agregação dos portugueses.

Vozes incorrigíveis e profetas da desgraça têm vindo a contrapor que, nos períodos mais difíceis do ajustamento para além da Troika e da tentativa de construção de uma nova sociedade inspirada pelos ditames do “vive à medida das tuas possibilidades”, a sociedade portuguesa na mais expressiva representação dos interesses dos atingidos pela crise e pela maldade da experiência não foi ouvida, mesmo depois de se manifestar massivamente principalmente em Lisboa e no Porto. É o resultado de um Presidente iluminado por um lado e inseguro por outro, que evidencia mais do que tudo a dificuldade de ocultar o engulho de dar posse a um governo de forças maléficas.

Com tudo isto não sei bem discernir se espero mais a indigitação de Costa ou a felicidade de ver Cavaco em força e rapidamente, qualquer meio de locomoção pessoal serve, a caminhar para a praia da Coelha.

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