(Princípio
de rábula)
Consta que uma lista interminável de associações, federações
e outros coletivos fazem fila à porta de Belém, não para adorar o Deus menino,
mas para se pronunciarem sobre a situação política atual e ajudarem um perturbado
presidente. A ANCDP (Associação Nacional dos Canhotos Deste País) preparada
para glorificar a viragem à esquerda, a ANFAA (Associação Nacional das Famílias
Assim-Assim) esperançada em contrapor a sua posição à das Famílias Numerosas e
assim repor a verdadeira representação das famílias portuguesas, a FPEPA (Federação
dos Produtores de Ervas e Plantas Aromáticas) que vai defender a liberalização dos
costumes em matéria de consumos menos ortodoxos, a AMPC (Associação de
Moradores da Praia da Coelha) que espera com o regresso de Cavaco aos Algarves ter
de uma vez por todas uma representação condigna, a MADQQNGC (a meta–associação dos
que não gostam de Costa) que tudo fará para evitar a chegada do mesmo ao poder,
o GAGG (Grupo dos Amantes dos Governos de Gestão) interessado em demonstrar a
constitucionalidade dos seus representados, a ANAMP (Associação Nacional dos
Amigos e Montadores de Presépios), decididos a prestar uma última homenagem à sua padroeira
Maria, lideram uma fila interminável inebriados por esta possibilidade de se substituírem
ao Parlamento e aos maus da fita que o povoam na indigitação e formação do novo
Governo.
Consta ainda que Ricardo Salgado foi visto nessa fila
interminável, com a devida autorização judicial e com recomendação específica
de Cavaco, na tentativa de se juntar ainda ao grupo de sete banqueiros e preparado
para explicar ao Presidente que a culpa da informação precipitada prestada então
aos então ainda não lesados BES pelo “nunca me engano” presidente não foi dele mas
do governador do Banco de Portugal e do seu arqui-inimigo e antigo colega de
trabalho presidente da CMVM.
A acusação que grassa por aí que a democracia portuguesa
se aburguesou e esqueceu os meandros e princípios mais básicos e envolventes da
democracia participativa está a ser veemente contestada pelos que fazem fila
prolongada à porta de Belém num exercício de forte vitalidade do espírito de
agregação dos portugueses.
Vozes incorrigíveis e profetas da desgraça têm vindo a
contrapor que, nos períodos mais difíceis do ajustamento para além da Troika e
da tentativa de construção de uma nova sociedade inspirada pelos ditames do “vive
à medida das tuas possibilidades”, a sociedade portuguesa na mais expressiva representação
dos interesses dos atingidos pela crise e pela maldade da experiência não foi
ouvida, mesmo depois de se manifestar massivamente principalmente em Lisboa e
no Porto. É o resultado de um Presidente iluminado por um lado e inseguro por
outro, que evidencia mais do que tudo a dificuldade de ocultar o engulho de dar
posse a um governo de forças maléficas.
Com tudo isto não sei bem discernir se espero mais a indigitação
de Costa ou a felicidade de ver Cavaco em força e rapidamente, qualquer meio de
locomoção pessoal serve, a caminhar para a praia da Coelha.
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