(Para economias
doentes uma nova economia)
Tenho para mim que a relação entre a economia e a política
macroeconómica já não será mais a mesma na sequência dos acontecimentos de
2007-2008 e sobretudo no contexto da longa moderação de crescimento, senão
mesmo estagnação, que quase dez anos depois teima em pairar sobre as economias
mais avançadas do mundo. Osborne (Reino Unido) e Schäuble (Alemanha), sem qualquer
apoio decisivo do ponto de vista dos fundamentos da teoria macroeconómica, teimam
em ocultar essa mudança de paradigma com a sua obsessão doentia e perigosa dos
excedentes orçamentais. O mundo da economia ZLB (Zero Lower Bound) em que
o mundo ocidental está profundamente mergulhado já não pode ser considerado
como uma daquelas situações de simples incidência conjuntural, que não deixará
rasto. Pelo contrário.
Mas, como tenho repetidas vezes insistido sobre essa matéria,
a forma como o pensamento macroeconómico não depende apenas da academia mais
rebelde e atenta às mudanças. Depende de um vastíssimo conjunto de aparelhos de
administração, de banca central e comercial, de instituições internacionais, de
consultoria internacional, que resiste como pode às implicações da mudança. E
depois não devemos esquecer a força ideológica de algumas forças partidárias,
com os republicanos USA à cabeça que venderão a alma, se for caso disso, para não
abrirem caminho a políticas macroeconómicas mais interventivas.
Entre os economistas que mais têm contribuído para a
invocação da necessidade de uma revolução macroeconómica, sobretudo pelo prestígio
do seu percurso académico e pelo peso mediático que assume na imprensa económica
especializada, o controverso Lawrence Summers ocupa um lugar proeminente.
Summers esteve no grupo restrito de economistas
convidados por Mário Draghi e pelo BCE para o fórum de Sintra, em maio deste
ano, em que estas matérias foram discutidas e cujos papers foram agora publicados sob a forma de e-book. Curto e direto, Summers tem-se desdobrado
entre aparecimentos na opinião pública especializada e na produção académica,
trabalhando quer com Bradford DeLong seu companheiro de longa data em artigos
nucleares para o avanço da macroeconomia, seja com Olivier Blanchard, seja
ainda mais recente com Antonio Fátas, professor no INSEAD.
Respigo para hoje uma curta e direta intervenção no WonkBlog do Washington Post em que Summers desenvolve esta máxima: para economias
avançadas que estão doentes é necessária uma nova maneira de as pensar e aos
seus principais problemas. E essa nova maneira passa por romper com a economia
neokeynesiana, que fez as delícias dos principais bancos centrais nos últimos
tempos que a adotaram nos seus modelos macro, de modo a que esse rompimento
seja menos neo e mais keynesiana.
O trabalho de Summers e dos seus parceiros tem desenvolvido
essencialmente a demonstração que as recessões tendem a provocar situações em
que o produto nunca regressa aos seus trends
anteriores. A designação utilizada de efeitos de histerésis não ajuda, mas a
investigação de Summers está essencialmente focada em mostrar que as políticas
de estabilização não se limitam, como os modelos neokeynesianos o admitem, a
influenciar os ritmos de crescimento do produto, mas que impactam o próprio nível
de produto. E Summers está convicto de que tal como a macroeconomia foi
impactada pela Grande Depressão de 1930 e pela inflação dos anos 70, também
agora assistiremos a uma nova revolução. Também acredito que pode levar ainda
algum tempo, mas que essa revolução vai acontecer.
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