(O manto espesso
dos riscos da estagnação secular permanece)
Uma curta referência para sublinhar que a estagnação
secular, debate em torno dos riscos de crescimento anémico em toda a economia
mundial, agravado pela contínua descida das taxas reais de juro a longo prazo,
está longe de ser um debate de moda ou de circunstância em que por vezes a
economia é pródiga.
É um tema que vale a pena discutir sobretudo para uma
pequena economia aberta como Portugal, sempre vulnerável ao ritmo de crescimento
da economia mundial. A sua profunda implicação sobre o tipo de política
macroeconómica que as economias motoras da economia mundial para contrariar os
riscos da estagnação é de uma importância vital e volta no meu modesto entender
a reequacionar o confronto “política monetária versus política fiscal”. Esse confronto
no período de Grande Moderação que precedeu a crise de 2007-2008 foi vencido
pela monetária. Hoje, as coisas não estão ao mesmo nível. A política fiscal
parece regressar, apesar dos receios da banca central em ser obrigados a monetarizar
dívida pública.
O debate atingiu recentemente dois economistas aparentemente
do mesmo lado da barricada, Paul Krugman e Lawrence Summers. O primeiro trabalha
sobretudo em torno do conceito de armadilha da liquidez, sobre a qual já tinha
lançado alertas premonitórios nas crises cambiais asiáticas dos fins dos anos
90 e sobre a longa estagnação deflacionária da economia japonesa na década de
90 prolongada para a década seguinte. O segundo é pai da reinvocação moderna do
conceito de estagnação estrutural e vale a pena, por hoje, citar o próprio Summers:
“Nunca me dei bem com a célebre análise de Paul (Krugman)
sobre a armadilha da liquidez. Sempre me pareceu um exemplo classic da tendência
dos economistas para assumir um abridor de latas. O Paul estuda uma economia em
armadilha da liquidez que, por via de um deux-ex-machina, será lançada para um
dado ponto no futuro. Ele admite que se pressupusermos uma politica suficientemente
inflacionária depois desse ponto, podemos conduzir as taxas reais ex-ante de
juro suficientemente para baixo para estimular a economia, mesmo antes do
deux-ex-machina intervir.
Isso é importante e uma perspetiva relevante. Mas
parece-me que ilude a questão principal. Onde está
esse deux-ex-machina? Onde está o abridor de latas? A essência das ideias sobre a estagnação secular e sobre histerésis
que tenho vindo a defender é que não há qualquer certeza de que as economias
capitalistas, quando mergulhadas na depressão, possa internamente reverter à
normalidade. Compreender esse fenómeno e atuar sobre o mesmo parece-me
constituir o principal desafio da macroeconomia no tempo presente.
Qualquer análise que pressuponha a reposição do equilíbrio
anterior falha nesta perspetiva na questão fundamental. Estou contente por ver
o Paul reconhecer este último ponto recentemente. Suspeito que isso conduzirá a
uma maior ênfase na importância da política fiscal e não da política monetária
em economias deprimidas.”
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