segunda-feira, 2 de novembro de 2015

KRUGMAN VERSUS SUMMERS




(O manto espesso dos riscos da estagnação secular permanece)

Uma curta referência para sublinhar que a estagnação secular, debate em torno dos riscos de crescimento anémico em toda a economia mundial, agravado pela contínua descida das taxas reais de juro a longo prazo, está longe de ser um debate de moda ou de circunstância em que por vezes a economia é pródiga.

É um tema que vale a pena discutir sobretudo para uma pequena economia aberta como Portugal, sempre vulnerável ao ritmo de crescimento da economia mundial. A sua profunda implicação sobre o tipo de política macroeconómica que as economias motoras da economia mundial para contrariar os riscos da estagnação é de uma importância vital e volta no meu modesto entender a reequacionar o confronto “política monetária versus política fiscal”. Esse confronto no período de Grande Moderação que precedeu a crise de 2007-2008 foi vencido pela monetária. Hoje, as coisas não estão ao mesmo nível. A política fiscal parece regressar, apesar dos receios da banca central em ser obrigados a monetarizar dívida pública.

O debate atingiu recentemente dois economistas aparentemente do mesmo lado da barricada, Paul Krugman e Lawrence Summers. O primeiro trabalha sobretudo em torno do conceito de armadilha da liquidez, sobre a qual já tinha lançado alertas premonitórios nas crises cambiais asiáticas dos fins dos anos 90 e sobre a longa estagnação deflacionária da economia japonesa na década de 90 prolongada para a década seguinte. O segundo é pai da reinvocação moderna do conceito de estagnação estrutural e vale a pena, por hoje, citar o próprio Summers:

“Nunca me dei bem com a célebre análise de Paul (Krugman) sobre a armadilha da liquidez. Sempre me pareceu um exemplo classic da tendência dos economistas para assumir um abridor de latas. O Paul estuda uma economia em armadilha da liquidez que, por via de um deux-ex-machina, será lançada para um dado ponto no futuro. Ele admite que se pressupusermos uma politica suficientemente inflacionária depois desse ponto, podemos conduzir as taxas reais ex-ante de juro suficientemente para baixo para estimular a economia, mesmo antes do deux-ex-machina intervir.

Isso é importante e uma perspetiva relevante. Mas parece-me que ilude a questão principal. Onde está esse deux-ex-machina? Onde está o abridor de latas? A essência das ideias sobre a estagnação secular e sobre histerésis que tenho vindo a defender é que não há qualquer certeza de que as economias capitalistas, quando mergulhadas na depressão, possa internamente reverter à normalidade. Compreender esse fenómeno e atuar sobre o mesmo parece-me constituir o principal desafio da macroeconomia no tempo presente.

Qualquer análise que pressuponha a reposição do equilíbrio anterior falha nesta perspetiva na questão fundamental. Estou contente por ver o Paul reconhecer este último ponto recentemente. Suspeito que isso conduzirá a uma maior ênfase na importância da política fiscal e não da política monetária em economias deprimidas.”

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