(O complexo
condicionamento da Europa também passa por aqui)
Tenho neste blogue dedicado especial atenção ao
pensamento expresso de George Osborne, ministro das Finanças do Reino Unido. A
razão é simples e não aponta para qualquer perspetiva persecutória. Entre as
personalidades cinzentas e opacas da direita europeia não totalitarizante o
pensamento de Osborne merece ser seguido com atenção, sobretudo porque é tudo
menos cinzento e opaco. Ele aponta de modo cristalino para os novos rumos dessa
direita, sobretudo se lhe for aberto o caminho do poder, como aconteceu com os
erros trágicos dos trabalhistas britânicos na era pós Tony Blair. Não há
evidências totalmente explícitas dessa possibilidade, mas a jovem direita que
levou Passos e Portas ao poder seguirá com atenção o novo pensamento
conservador. Daí o meu interesse em monitorizar o que tal pensamento vai
revelando.
Esta semana passou algo despercebida na imprensa
portuguesa a presença de Osborne em Berlim para um discurso na representação em
Berlim da chamada VOZ da indústria alemã, a BDI. No meio de um discurso fortemente
afetivo e laudatório da Wertegemeinschaft, a comunidade de valores partilhados
alemã, que trouxe ao discurso a experiência da família húngara de Osborne na
guerra fria e a forte proximidade a Schäuble que partilha com Osborne o
estatuto de ministro das Finanças mais antigo da União Europeia, o discurso de
Osborne é uma peça fundamental para compreender o que querem os conservadores
da União Europeia.
Do ponto de vista da guerra de perspetivas de condução da
política macroeconómica na UE e na zona Euro, a aproximação britânico-alemã, ou
se quiserem o eixo Londres-Berlim, tem um significado muito especial. A
Alemanha e agora o Reino Unido por via da maioria absoluta dos conservadores
são os países da UE que afirmam expressamente a prevalência dos excedentes
orçamentais como prioridade máxima da gestão macroeconómica. Uma aproximação
concertada entre estes dois países, mesmo que dentro e fora da zona euro, tem
um peso que não pode ser subestimado na manutenção dos princípios da poupança
fiscal que tanto dano está a provocar na situação global europeia. E o tom do
discurso foi até ao ponto de glorificar a parceria Lewis Hamilton – Mercedes,
com a nota de que a viatura foi produzida no Reino Unido.
O discurso de Osborne (ver aqui a sua transcrição) é uma peça importante para compreender
o que é que os conservadores entendem por União Europeia reformada, ideia em
torno da qual irão defender no referendo de 2017 a continuidade de integração
nessa União do Reino Unido. Uma União a duas moedas, euro
e libra, em que esta última tenha sempre uma palavra a ser proferida nos
assuntos da zona Euro. Uma União em que quem não integra a união monetária não
possa ser discriminado por isso, ou seja, não discriminando agentes económicos
que não utilizem a moeda Euro. Uma União mais desburocratizada, com o mercado
único como foco central e, consequentemente, em que a Europa social seja
relegada para o âmbito dos princípios pios e desejáveis, mas não prioritários. Uma
União para a competitividade e o social que espere ou que se dane. Uma União que
liberalize em absoluto o universo do comércio dos serviços e dê resposta aos
pesos de 80% e 70% nos produtos dos respetivos países UK e Alemanha,
respetivamente. Uma União que respeite os desejos nacionais de dosear, limitar
ou reforçar a integração nas instituições europeias. Uma União que não force os
contribuintes dos países que estão fora do Euro a contribuir para os que sentem
dificuldades de presença nessa união monetária. Uma União que avance
definitivamente para o mercado único de serviços.
Pois é! Os conservadores não quererão mais nada?
De facto, o condicionamento também passa por aqui.
Post Scriptum
Os ecos jornalísticos após o discurso de Osborne vão no
sentido da compreensão alemã para com as preocupações britânicas, o que adensa
o condicionamento (vejam-se ecos no Financial Times dessa compreensão).
Sem comentários:
Enviar um comentário