segunda-feira, 30 de novembro de 2015

UM BOM CLIMA




(Curta reflexão a partir do Funchal)

O título da crónica de hoje não se deve ao facto de ser escrita a partir do Funchal onde a amenidade húmida do clima continua a fazer as delícias dos homens do Norte da Europa que a visitam. E só indiretamente tem que ver com a Conferência crucial que nos próximos dias se realiza em Paris, em busca de um consenso mundial operativo e não apenas um consenso do fazer de conta e as gerações futuras que resolvam o problema se tiverem tempo para isso.

O título é sugerido pelo bom clima de ter ouvido logo de manhãzinha na Antena 1 o meu amigo João Pedro Matos Fernandes (JPMF), agora na qualidade de ministro do Ambiente do governo de António Costa, entrevistado a partir de Paris onde teve a sua experiência ministerial iniciativa. Um discurso sóbrio, informado, competente, bem preparado, comunicando bem, enfim uma manifestação simbólica de como o governo de Costa está a começar a bem e com confiança. O JPMF conhece muito bem o dossier do ambiente e tem intuição política e por isso senti um bom clima, embora o tema da Conferência de Paris nos deva arrepiar a todos, dada a transcendência das questões aí em jogo, sobretudo para a geração dos nossos netos.

Deixei a memória divertir-se e dei comigo a recordar bem lá atrás no tempo uma outra experiência ministerial iniciática, essa bem mais traumática. Um dia, de passagem pelo aeroporto de Lisboa em direção a uma qualquer cidade europeia que já não consigo identificar, encontrei alguém da cidade do Porto, no meio de um hall do aeroporto, como que perdido na multidão, esperando não sabia eu o quê. Tratava-se alguém que havia tomado posse como ministro da Defesa há curtos dias e com o qual eu tinha algum relacionamento de trabalho, mas não na matéria à qual o novo ministro de um governo PSD estava agora ligado. Perguntei ingenuamente a que se devia aquela espera, ali isolado e perdido. O novo ministro deslocava-se também para uma cidade europeia para discutir com os americanos a então chamada Guerra das Estrelas. Rapidamente percebi a postura e o isolamento do personagem. Era uma salto demasiado grande.

O mesmo não se passa com o novo ministro do Ambiente. O discurso de hoje de manhã do JPMF era de alguém que está bem identificado com os problemas e que não poderia ter melhor experiência iniciática.

Já no avião para o Funchal, dei comigo a ler no Le Monde um excelente artigo de Jared Diamond, um resumo científico excelente da “maca” que o mundo tem entre mãos e sobre o qual se espera finalmente um eco de decisão política à altura da dimensão e complexidade do problema.

No artigo de Jared Diamond apercebemo-nos de um esquema global de compreensão do problema que parte do princípio que as relações expostas de causa e efeito são lineares. Mas não deixa de referir que o problema são as relações não lineares.

Bom clima, mau clima.

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