sábado, 14 de novembro de 2015

O CHOQUE DE UM COMBATE DESIGUAL




(O regresso da barbárie islâmica)

Ontem à noite não consegui fechar o post que estava a construir sobre a situação política interna. Não pela sensação de vómito que a mesma começa a provocar-me, sobretudo pela crescente notoriedade dos lobos da direita que vão deixando cair os seus disfarces de pseudodemocratas. Mas antes porque os ataques terroristas de Paris me deixaram petrificado, impotente, como se Paris fosse a minha Cidade e tivesse amigos envolvidos em tão aviltante barbárie. E a sensação é sempre a mesma. Uma sensação de combate desigual entre quem preza os valores da democracia, da liberdade e da convivialidade urbana e o fanatismo islâmico, uma espécie de recorrência histórica, que o mundo do Islão vem manifestando.

Imagino que possa haver falhas enormes de segurança, provocadas sobretudo pela inexistência de um sistema globalmente coordenado dos serviços de inteligência. Compreendo que o sistema de Schengen é um desafio enorme de compatibilização dos valores da liberdade de circulação e esses mesmos objetivos de segurança. Mas uma coisa não podemos evitar. E o que não podemos evitar é a desigualdade crua e real entre os que valoram a democracia e a liberdade e os que a ela recorrem para a destruir. Estaremos nós dispostos a sacrificar a primeira para combater a segunda? Mas uma nova variável tem de ser colocada. É um facto que François Hollande fechou ontem as fronteiras como uma das manifestações do “État d’Urgence” decretado em função da ameaça. Mas um ato de guerra tão coordenado como o de ontem não pode ser perpetrado a não ser com forças residentes em território francês, mesmo que a ordem de detonação possa ter sido dada a partir do exterior. E esse é na minha perspetiva o dado mais preocupante. Pois se a guerra é concebida a partir do interior, a perspetiva securitária irá sempre confrontar-se com os valores da liberdade e não queria estar na pele de uma população muçulmana, pacífica, citoyenne, que terá de medir muito bem o seu tipo de relacionamentos, em colisão absoluta com os valores da convivialidade e democrática.

Em época complicada de gestão dos afluxos de refugiados, também eles em fuga tocados pelas extensões da mesma guerra, os atentados de Paris não poderiam ser mais mortíferos. Será que vai emergir uma solidariedade espontânea entre os que chegam em fuga da implacável guerra e os que hoje morrem atingidos pela extensão local do fanatismo islâmico? Queria estar otimista em relação a esta matéria, mas as dúvidas são poderosas e a extrema-direita francesa cavalgará infinitamente esta matéria.

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