(O regresso
da barbárie islâmica)
Ontem à noite não consegui fechar o post que estava a
construir sobre a situação política interna. Não pela sensação de vómito que a
mesma começa a provocar-me, sobretudo pela crescente notoriedade dos lobos da
direita que vão deixando cair os seus disfarces de pseudodemocratas. Mas antes
porque os ataques terroristas de Paris me deixaram petrificado, impotente, como
se Paris fosse a minha Cidade e tivesse amigos envolvidos em tão aviltante barbárie.
E a sensação é sempre a mesma. Uma sensação de combate desigual entre quem
preza os valores da democracia, da liberdade e da convivialidade urbana e o fanatismo
islâmico, uma espécie de recorrência histórica, que o mundo do Islão vem
manifestando.
Imagino que possa haver falhas enormes de segurança,
provocadas sobretudo pela inexistência de um sistema globalmente coordenado dos
serviços de inteligência. Compreendo que o sistema de Schengen é um desafio
enorme de compatibilização dos valores da liberdade de circulação e esses
mesmos objetivos de segurança. Mas uma coisa não podemos evitar. E o que não
podemos evitar é a desigualdade crua e real entre os que valoram a democracia e
a liberdade e os que a ela recorrem para a destruir. Estaremos nós dispostos a
sacrificar a primeira para combater a segunda? Mas uma nova variável tem de ser
colocada. É um facto que François Hollande fechou ontem as fronteiras como uma
das manifestações do “État d’Urgence” decretado em função da ameaça.
Mas um ato de guerra tão coordenado como o de ontem não pode ser perpetrado a não
ser com forças residentes em território francês, mesmo que a ordem de detonação
possa ter sido dada a partir do exterior. E esse é na minha perspetiva o dado
mais preocupante. Pois se a guerra é concebida a partir do interior, a
perspetiva securitária irá sempre confrontar-se com os valores da liberdade e não
queria estar na pele de uma população muçulmana, pacífica, citoyenne, que terá de medir muito bem o seu tipo de
relacionamentos, em colisão absoluta com os valores da convivialidade e democrática.
Em época complicada de gestão dos afluxos de refugiados,
também eles em fuga tocados pelas extensões da mesma guerra, os atentados de Paris
não poderiam ser mais mortíferos. Será que vai emergir uma solidariedade espontânea
entre os que chegam em fuga da implacável guerra e os que hoje morrem atingidos
pela extensão local do fanatismo islâmico? Queria estar otimista em relação a
esta matéria, mas as dúvidas são poderosas e a extrema-direita francesa cavalgará
infinitamente esta matéria.
Sem comentários:
Enviar um comentário