quinta-feira, 19 de novembro de 2015

O PRESIDENTE E OS SETE ECONOMISTAS




(E todos disseram de sua justiça)

Interroguei-me sobre os critérios que terão levado o Presidente a 66 dias de zarpar para a praia da Coelha a escolher aquele grupo de sete economistas, admitindo que Carlos Costa foi ouvido na qualidade institucional de governador do Banco de Portugal. E de facto não me apercebi de um critério firme mas talvez na melhor das hipóteses de um conjunto de critérios que Cavaco terá alinhavado para justificar a sua escolha, recusando-me a reconhecer naquele conjunto de personalidades qualquer desajeitada tentativa de pluralidade.

E a primeira conclusão é o reconhecimento de que todos quiseram aproveitar o sempre útil momento de encontro com a comunicação social, quando poderiam ter exercido o seu direito de serem ouvidos pelo Presidente e reservar silêncio sobre o que terão dito lá dentro, mesmo admitindo que os dois registos podem não coincidir.

A segunda conclusão é que o critério do Presidente não terá passado pela valorização do saber académico. Nenhuma das personalidades ouvidas é conhecida pelo seu prestígio académico de produção representativa entre os seus pares. Com exceção do último trabalho de Vítor Bento que, com alguma elasticidade, pode ser considerado trabalho académico, não é conhecida a qualquer um dos presentes nenhum trabalho académico ou científico recente, mesmo alargando o período de classificação de recente. O que não deixa de ser elucidativo do modo como Cavaco valoriza o pensamento universitário na área da economia.

A terceira conclusão é que se o registo interno no conforto dos sofás de Belém foi idêntico ao que se ouviu cá fora, a pobreza franciscana dos testemunhos mostra bem o que a população portuguesa pode esperar destas inteligências. Se da múmia petrificada em que João Salgueiro se transformou não esperaria nada de relevante, dos restantes o benefício da dúvida permitiria alimentar algumas ilusões. Infundadas. Aliás é curioso como alguns críticos da maioria cessante como Bagão Félix e até Vítor Bento, quando oportunamente reconheceu a falência absoluta dos processos de ajustamento, ignoraram agora o seu pensamento anterior e lá se deliciaram a reclamar o casamento do PS com a direita. Claro que sem a honestidade político-intelectual de analisar que direita é esta, que valores ela prossegue e se eles são sequer compatíveis com uma visão social-democrata em que o PS pudesse encontrar algum abrigo de cooperação. Teixeira dos Santos parece ter corrigido a pontaria de abordagens anteriores, mas optou por um testemunho orçamentalmente cifrado, não se comprometendo. Das intervenções de Campos e Cunha e Augusto Mateus não consegui reter uma ideia que fosse de substancial.

No fim de contas, tenho de reconhecer que o menos inócuo foi Daniel Bessa, creio que ouvido na qualidade de responsável pela COTEC, ao menos um critério que se compreende. Pois o testemunho de Daniel Bessa foi simultaneamente divertido e corajoso. Divertido, porque aquela rábula inicial de que não percebia nada de política é de rir até às lágrimas. Corajoso, porque pelo menos enunciou a sua respeitável tese de que a aposta no aumento do consumo interno e no próprio mercado interno lhe parece duvidosa para uma economia com as características de economia pequena e aberta como a nossa. É um pronunciamento a ter em conta, sobretudo porque a meu ver o PS não tem vincado bem que a sua aposta no consumo interno é macroeconomicamente uma medida de transição para proporcionar uma transição mais suave em que a aposta no investimento e na exportação surjam como apostas mais estratégicas e estruturadas.

A audição do grupo dos sete mostra duas coisas: primeiro, que a academia económica já há muito se entregou a uma nulidade de pensamento socialmente útil e que valha a pena ouvir, não sabendo se o ignorar de Cavaco do mesmo significa essa desvalorização ou apenas uma questão de preferências pessoais; segundo, que os economistas mais “practitioners” parecem ter aderido aos discursos redondos e “não me comprometas que não sei o dia de amanhã”. Por uma e outra razão, se vê que a profissão está em crise, aliás como o longo e penoso despertar da crise de 2007-2008 o antecipava. Ou então, o círculo vicioso de ler e escrever para a imprensa económica das banalidades vai adulterando o traço da escrita e do pensamento. Acontece.

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