(As
máscaras vão caindo)
Voltemos à política interna, tão pequenina face ao que o
mundo nos reserva.
O cheiro a esturro não é regra nauseante. Mas este é. À
direita, as máscaras vão caindo, uma a uma, sem pudor. Uma das sensações de
imobilismo que o país vai dando é proporcionada pelo desfile de personalidades
e instituições a Belém, não para adorar o Menino, mas para dar resposta a um
cada vez mais hirto e insuportável Cavaco. É impressionante como é possível
observar a falta de renovação destes representantes institucionais e a medida
em que eles foram capturados pela proximidade às forças políticas.
Destaco duas. A CAP e o Fórum da Competitividade. A
primeira é hoje uma claríssima extensão do CDS-PP e dos interesses de Portas e
da ex-ministra Cristas. Alguém percebeu em que medida os interesses reais da
agricultura portuguesa (haveria que discutir que agriculturas portuguesas estão
hoje representadas pela CAP) exigem eleições antecipadas e um governo de gestão
até que isso seja possível? O descaramento e a falta de pudor desta agremiação
é gritante e face a esta proximidade ao CDS a velha correia de transmissão que
se imputava à Intersindical faz papel de anjinho nesta matéria. Imaginamos os favores prestados à agremiação. Quanto ao Fórum
da Competitividade e à múmia petrificada de quem o representa, Pedro Ferraz da
Costa, alguém hoje entende o papel concreto que esta agremiação desempenha para
os objetivos de competitividade da economia portuguesa? Alguém já se interrogou
sobre o Value for Money dos recursos
públicos e comunitários que têm sido canalizados para esta agremiação? Alguém
tem dúvidas de que o Fórum da Competitividade é hoje uma mera extensão política
da direita, representando-se a si próprio e sem qualquer dimensão de
representação empresarial? Alguém compreende como é que uma múmia petrificada
como Pedro Ferraz da Costa é compatível com as ideias de mudança e de inovação
que deveriam atravessar um Fórum desta natureza?
A queda das máscaras prolonga-se na mais recente diatribe
de Passos e seus apaniguados de solicitar uma revisão constitucional à medida
de novas eleições. Gostaria de saber se os gurus do Observador continuam a
defender que Passos tem o perfil de homem de Estado. Mas as máscaras caem
também com a pressão inaudita, por exemplo de um Pires de Lima, sobre Marcelo,
incomodados com o seu silêncio sobre a possibilidade de eleições em 2016. Toda
esta gente tem andado a disfarçar usando o léxico da democracia. É nestes
momentos que se compreende a verdadeira essência destas personagens. A
compostura desliza rapidamente para o mais primário estatuto de arruaceiro (com
Nuno Melo à cabeça). E até o aparentemente mais elaborado Paulo Rangel não
resiste à euforia reivindicativa.
Isto é apenas a antecâmara do que um eventual governo de
Costa poderá esperar enquanto entorno interno.
À esquerda, valha-nos a postura espessa do PCP para quem
um acordo, por mais mínimo que seja, ainda é um acordo, pois do Bloco esperar
contenção poderá custar caro.
Continuo a recear antecipar o que irá pela cabeça
tortuosa de Cavaco.
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