quarta-feira, 4 de novembro de 2015

O CONDICIONADO FUTURO DA EUROPA (II)



 (Christian Adams, http://www.telegraph.co.uk)

Um segundo tópico que fundamentalmente definirá o futuro da Europa está associado à questão da (não) permanência britânica na União (“Brexit”). Com o referendo prometido por Cameron – terá sido um erro, mas teria sido possível evitá-lo? – a aproximar-se a olhos vistos e a opinião pública dividida mas tendencialmente pouco afim de grandes laços e relações de pertença, todos os dados políticos recentes (nomeadamente, o peso eleitoral dos populistas eurocéticos do UKIP, as tensões separatistas na Escócia, a eleição de um novo e mais radical líder dos Trabalhistas, as pressões internas ao Partido Conservador e o atraso organizativo evidenciado pelas forças pelo “sim”) parecem jogar no mesmo sentido de um resultado desfavorável. Desfecho que seria certamente dramático devido às implicações estruturais na UE a que conduziria (uma UE sem o Reino Unido não seria nunca a mesma coisa...) e à dinâmica desagregadora a que a UE passaria a ficar abertamente sujeita.

(Christian Adams, http://www.telegraph.co.uk)


(Ingram Pinn, http://www.ft.com)

(Chris Riddell, http://www.guardian.co.uk)

(Ingram Pinn, http://www.ft.com)

Neste quadro, a novidade positiva destes dias esteve no surgimento – perante um Cameron altaneiro na aparência mas azoratado e titubeante na decisão – de um discurso pró-europeu relativamente razoável e consequente vindo do governador do Banco de Inglaterra, Mark Carney, e proferido durante uma intervenção na Universidade de Oxford. Resumo-o em três curtas frases, a primeira enformadora de um caminho e as restantes introduzindo precauções e elementos de tática negocial: a afirmação de que a presença de quatro décadas na UE resultou claramente favorável ao país ao ter contribuído para tornar a sua economia mais aberta e mais dinâmica (matéria que poderei retomar mais detalhadamente em próximo post); não obstante essa perspetiva de fundo, o alerta de que essa crescente integração na Europa também aumentou a vulnerabilidade britânica a choques financeiros; por fim, a recomendação de que os agentes políticos europeus trabalhem mais em conjunto, fortaleçam a resiliência e unidade da Zona Euro, melhorem a qualidade da regulação financeira e (et pour cause...) garantam que tal regulação não prejudique os interesses britânicos (ponto que assim sinaliza onde deverá residir o essencial da estratégia de negociação). Temas que constituem toda uma agenda e que vão seguramente suscitar muitas falas nos meses à frente.

(Christian Adams, http://www.telegraph.co.uk)


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