Morte de René Girard, antropólogo francês fundador da chamada “teoria mimética” e há longo tempo a viver nos Estados Unidos. Sobre ele escrevia o “Le Monde” de ontem: “Os seus livros, comentados nos quatro cantos do mundo, formam as etapas de um vasto inquérito sobre o desejo humano e sobre a violência sacrificial em que qualquer sociedade, segundo Girard, encontra a sua origem inconfessável”. As minhas comezinhas preocupações de economista (mesmo que assumindo um posicionamento mais próximo do cientista social do que do técnico de modelos ou de contas) andam bem longe da profundidade da obra de um intelectual da craveira de Girard, mas em tempos acedi por coincidência e curiosidade a parte da sua obra – foi quando andei por Paris na primeira metade da década de 80 e um dos meus tutores académicos, Michel Aglietta, publicou “La violence de la monnaie” (em colaboração com André Orléan) – o ambicioso projeto destes dois “regulacionistas”, que estavam já em busca dos caminhos de uma transição teórico-metodológica, era por eles referenciado como o de uma “radical refundação” da teoria económica; assim, e uma vez que não há teoria económica sem formulação de hipóteses sobre a natureza humana, porque não começar por revisitar a velha teoria do consumidor à luz da inesgotável fonte dos conceitos girardianos, assim se esboçando uma abordagem girardiana do homo œconomicus? E, no caso daqueles dois autores, como recusar abrir por essa via uma nova avenida de investigação no domínio da economia monetária e financeira, em geral, e do estatuto da moeda, em particular? Tempos gloriosos! Mas contenho-me, visto que por aqui necessariamente me tenho de ficar – nesta ocasião não se trata de mais do que de homenagear sinalizando e sinalizar recordando...
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