domingo, 30 de agosto de 2015

A EXUBERÂNCIA DAS EXPECTATIVAS




(Agosto foi um mês de turbulências)

Robert J. Shiller (Nobel de Economia) é seguramente o economista que mais tem contribuído para estudar a exuberância irracional dos mercados financeiros em momentos de pânico, bolhas especulativas ou outros fenómenos em que a psicologia dos mercados se sobrepõe claramente ao caráter pretensamente racional dos agentes. O seu sítio na WEB é um repositório de informação imenso colocado ao serviço seja dos estudiosos, seja dos mais curiosos sobre estes temas.

As suas palavras e comentários são, por isso, seguidas com atenção, pois seguramente não haverá vozes mais autorizadas para o fazer nestas matérias. Pois, Shiller no UPSHOT do New York Times escreveu há dias sobre o significado da perda de 10% observada no mercado bolsista americano na terceira semana de agosto e de outros países, correção que não deveríamos desvalorizar pois dessa natureza e segundo o próprio Shiller desde 1950 tivemos apenas 29 quedas de mercado, ainda por cima apenas 9 das quais processadas em cinco dias de abertura bolsista como o da terceira semana de agosto.

As dúvidas de Shiller assentam na possibilidade da correção observada não ter esgotado ou corrigido toda a sobreapreciação de ações que estará neste momento a ser observada. O conhecido método de Shiller para apreender os períodos de bolha financeira utiliza uma medida ciclicamente ajustada do rácio “preço das ações/dividendos”, ciclicamente ajustada porque o denominador é uma média móvel a 10 anos dos dividendos distribuídos por um conjunto de ações que integram um dado universo sob observação. A tese de Shiller é que valores muito elevados do rácio “preço das ações/divididendos” são regra geral seguidos de períodos de forte queda bolsista. E que valores de queda muito fortes observados num só dia tendem a produzir verdadeiros fenómenos de angústia bolsista que se repercutem depois em comportamentos inesperados de vendas de títulos a qualquer preço.

Está para publicação a última obra de Shiller e Akerlof na Princeton University Press, Phishing for Fools – the Economics of Manipulation and Deception” na qual os autores elaborarão por certo em torno da instabilidade psicológica do investidor em bolsa, mostrando uma vez mais que a exuberância irracional dos mercados financeiros é matéria para levar a sério e não para esconder debaixo do tapete das convicções do investidor racional e de que os mercados nunca se enganam.

Dean Baker no Beat the Press sugere que Shiller poderá estar a sobrevalorizar os valores mais elevados hoje observados no rácio “Preço de ações/dividendos” (nos EUA 27 contra os 17 de médias históricas passadas) pelo facto do risco hoje envolvido no mercado bolsista ser mais baixo do que aquele que predomina nessas séries históricas, devido sobretudo à presença no mercado de agentes (fundos sobretudo) com outra capacidade de perceção do risco. Uma outra razão diz respeito às comparativamente mais baixas taxas de juro prevalecentes no mercado que ditarão a possibilidade dos investidores em bolsa estarem dispostos a aceitar dividendos bastante mais baixos.

Não se trata de uma discussão académica em torno dos avisos de um Nobel de Economia. Trata-se sobretudo de uma questão relevante para o FED, pois a existência de uma bolha financeira em formação colocará o banco central americano em guarda relativamente ao objetivo da estabilidade dos mercados financeiros.

Muita informação para o FED processar.

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