(Agosto foi
um mês de turbulências)
Robert J. Shiller (Nobel de Economia) é seguramente o economista que mais
tem contribuído para estudar a exuberância irracional dos mercados financeiros
em momentos de pânico, bolhas especulativas ou outros fenómenos em que a
psicologia dos mercados se sobrepõe claramente ao caráter pretensamente
racional dos agentes. O seu sítio na WEB é um repositório de informação imenso
colocado ao serviço seja dos estudiosos, seja dos mais curiosos sobre estes
temas.
As suas palavras e comentários são, por isso, seguidas com atenção, pois
seguramente não haverá vozes mais autorizadas para o fazer nestas matérias. Pois,
Shiller no UPSHOT do New York Times escreveu há dias sobre o significado da
perda de 10% observada no mercado bolsista americano na terceira semana de
agosto e de outros países, correção que não deveríamos desvalorizar pois dessa
natureza e segundo o próprio Shiller desde 1950 tivemos apenas 29 quedas de
mercado, ainda por cima apenas 9 das quais processadas em cinco dias de
abertura bolsista como o da terceira semana de agosto.
As dúvidas de Shiller assentam na possibilidade da correção observada não
ter esgotado ou corrigido toda a sobreapreciação de ações que estará neste momento
a ser observada. O conhecido método de Shiller para apreender os períodos de
bolha financeira utiliza uma medida ciclicamente ajustada do rácio “preço das
ações/dividendos”, ciclicamente ajustada porque o denominador é uma média móvel
a 10 anos dos dividendos distribuídos por um conjunto de ações que integram um
dado universo sob observação. A tese de Shiller é que valores muito elevados do
rácio “preço das ações/divididendos” são regra geral seguidos de períodos de
forte queda bolsista. E que valores de queda muito fortes observados num só dia
tendem a produzir verdadeiros fenómenos de angústia bolsista que se repercutem depois
em comportamentos inesperados de vendas de títulos a qualquer preço.
Está para publicação a última obra de Shiller e Akerlof na Princeton University
Press, Phishing for Fools – the Economics of Manipulation and Deception”
na qual os autores elaborarão por certo em torno da instabilidade psicológica
do investidor em bolsa, mostrando uma vez mais que a exuberância irracional dos
mercados financeiros é matéria para levar a sério e não para esconder debaixo
do tapete das convicções do investidor racional e de que os mercados nunca se
enganam.
Dean Baker no Beat the Press sugere que Shiller poderá estar a
sobrevalorizar os valores mais elevados hoje observados no rácio “Preço de ações/dividendos”
(nos EUA 27 contra os 17 de médias históricas passadas) pelo facto do risco
hoje envolvido no mercado bolsista ser mais baixo do que aquele que predomina
nessas séries históricas, devido sobretudo à presença no mercado de agentes (fundos
sobretudo) com outra capacidade de perceção do risco. Uma outra razão diz
respeito às comparativamente mais baixas taxas de juro prevalecentes no mercado
que ditarão a possibilidade dos investidores em bolsa estarem dispostos a
aceitar dividendos bastante mais baixos.
Não se trata de uma discussão académica em torno dos avisos de um Nobel de
Economia. Trata-se sobretudo de uma questão relevante para o FED, pois a existência
de uma bolha financeira em formação colocará o banco central americano em
guarda relativamente ao objetivo da estabilidade dos mercados financeiros.
Muita informação para o FED processar.
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